sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Reino Unido anuncia 60 milhões de libras para ajudar países pobres a enfrentarem mudanças climáticas


Reino Unido anuncia 60 milhões de libras para ajudar países pobres a enfrentarem mudanças climáticas
03/10/2018 10h31  Atualizado há 2 dias

 Amélia Gonzalez — G1

“Está difícil” é a expressão que mais ouço aqui no Rio de Janeiro, onde vivo e circulo entre Centro e Zona Sul diariamente, dos motoristas de ônibus, de táxi, no Metrô, das pessoas na padaria, no supermercado. Existe um sentimento meio confuso, de cansaço de tanta polarização, da crise que não se acaba nunca, e de um quadro político tão instável. “O que vai ser deste país?”, perguntou-me ontem cedo uma senhora a quem respondi, com convicção: “É melhor que a gente cuide da própria saúde para enfrentar, seja o que vier”.


Respondo desta maneira quase otimista, mas eu também já vou me cansando.


Por isso quero reservar este espaço para dar notícias que possam trazer alguma esperança de debates mais avançados do que estes que estamos vivendo aqui no Brasil. Há um forte movimento que move as pessoas no sentido de perceber a vida com as mudanças climáticas que já se impõem para muitos como calamidade, e é disto que se está tratando.


Durante a Assembleia Geral da ONU, que acabou ontem, o governo do Reino Unido comprometeu-se a compartilhar seus conhecimentos e ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar o problema global da mudança climática. Theresa May, a primeira-ministra, foi uma dos 77 chefes de Estado, cinco vice-presidentes, 44 chefes de governo, quatro vice-primeiros-ministros, 54 ministros, um vice-ministro e oito presidentes de delegação que subiu ao pódio durante os seis dias da reunião em Nova York. E trouxe a boa nova: 60 milhões de libras serão empregadas com este objetivo.


Não é pouca coisa. Os países pobres vêm tentando a solidariedade dos ricos há muito tempo, desde o início dos debates sobre as mudanças climáticas. Eles se acham merecedores deste benefício e têm, para isso, uma justificativa que parece simples de entender para quem está distante das negociações internacionais. É que eles estão no fim da fila dos países mais poluidores, justamente por não terem uma economia fortemente industrializada Desta forma, acham mais do que justo que os países ricos, que emitem mais carbono na atmosfera, ajudem, transferindo tecnologia para que eles possam tentar se livrar das mazelas causadas pelo aquecimento global.


Parece simples, mas não é. Porque os países ricos, pelo menos até bem pouco tempo, tinham um discurso bem forte, entendendo que os países pobres, de verdade, sempre se beneficiaram da tecnologia deles. E que os ricos só puderam desenvolver tais tecnologias com as emissões de gases poluentes.


Vou fazer o jogo do contente, porque estamos precisando dele. E vou imaginar que estão dando certo os movimentos da sociedade civil no sentido de pressionar os países desenvolvidos a chegarem na próxima Conferência das Partes convocada pela ONU, que vai se realizar na Polônia em novembro, com alguma atitude concreta para fazer andar o Acordo de Paris, que limita o aquecimento da Terra em até 2 graus e exige, para isso, mudanças de hábito de produção e consumo.


Claire Perry, Ministra de Estado do Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial do Reino Unido, elogiou o programa apresentado por May. E disse que este dinheiro pode vir a ser o impulso que os países pobres precisam para começar seus próprios movimentos em direção a um “crescimento limpo, construindo economias adequadas para o futuro".


Neste ponto, caros leitores, permito uma reflexão auxiliada pelo economista norueguês Erik Reinert, especialista em economia de desenvolvimento e história econômica, autor de “Como os países ricos ficaram ricos ... e por que os países pobres continuam pobres”, editado pelo Instituto Celso Furtado, que ocupa um lugar de destaque na minha estante.


Reinert dedica um capítulo a reflexões sobre os Objetivos do Milênio, que agora se chamam Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que, para ele, é uma espécie de “economia paliativa”.


“A busca dos Objetivos do Milênio parece indicar que as instituições das Nações Unidas, após várias ‘décadas de desenvolvimento’ fracassadas, abandonaram o esforço para tratar as causas da pobreza e se concentraram em atacar os sintomas. Uma novidade na abordagem dos Objetivos do Milênio é a ênfase no financiamento estrangeiro de políticas sociais no lugar do financiamento interno dos próprios países em desenvolvimento. A ajuda humanitária, que em geral era de natureza temporária, agora se torna mais permanente... Isso levanta a questão a questão de até que ponto essa abordagem colocará grande número de nações permanentemente na ‘fila da assistência social’, num sistema semelhante ao ‘colonialismo de bem-estar social’”, escreve Reneirt.


Sugiro a leitura deste livro a quem se interessa por uma visão macro da economia, fazendo uma necessária revisão histórica do que, de fato, veio acontecendo para que a desigualdade que se tem hoje no mundo, quando oito homens têm a mesma riqueza que metade da população global, segundo o último relatório da Oxfam sobre desigualdade.


Mas, seguindo o jogo do contente, na sequência de notícias sobre mudanças climáticas que chegam do lado de cima da linha do Equador, temos mais: o Reino Unido também se unirá à Carbon Neutrality Coalition. Trata-se de uma declaração que o presidente francês Emmanuel Macron conseguiu que 16 países ricos assinassem no segundo aniversário do Acordo de Paris. A meta destas nações, bem ambiciosa, é a descarbonização da União Europeia até 2050.


O bom disso é que a reflexão feita na esteira desta iniciativa aponta para uma preocupação com os países menos favorecidos. É o que se entende com a declaração de Penny Mordaunt, Secretária de Desenvolvimento Internacional:

“Quando a seca atinge os países em desenvolvimento, as comunidades mais vulneráveis são as mais afetadas pelos danos causados ao gado e às colheitas. Eu testemunhei no começo do ano, no norte do Quênia, como o apoio rápido do Reino Unido e de nossos parceiros ajudou as famílias, que de outra forma correriam o risco de mergulhar mais fundo na pobreza ”.

Seguindo as reflexões de Reinert, no entanto, o ideal será conseguir um equilíbrio entre esta economia paliativa e a economia de desenvolvimento, que seria “mudar radicalmente as estruturas produtivas dos países pobres”.

Sigamos refletindo.



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