Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
O impacto da mudança do clima no Brasil, com redução nas chuvas no Nordeste e em algumas regiões da Amazônia, pode ter forte consequência na geração de energia. Se o aumento da temperatura for de 2°C, a redução de energia na Bacia do São Francisco, por exemplo, pode ser de 15% em 2040 e chegar a 28% no final do século.
O alerta é de José Marengo, pesquisador titular e coordenador de pesquisa e desenvolvimento no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O fluxo de água no rio Amazonas pode reduzir em até 25% com o aumento da temperatura em 2°C, seguiu Marengo. Ele é um dos cientistas que participaram da elaboração do relatório divulgado há poucos dias "Aquecimento global de 1,5°C", do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima que reúne cientistas do mundo inteiro.
O estudo buscou identificar as diferenças de impacto se o aumento da temperatura terrestre ficar em 1,5°C ou em 2°C, os dois limites estabelecidos no Acordo de Paris. Meio grau de diferença no aquecimento global, por exemplo, significa dez centímetros a mais no aumento do nível do mar, o que pode ser desastroso para pequenas nações insulares do Pacífico e muitas cidades costeiras.
Esperar para rever as metas climáticas de cada país em 2023, como está previsto no cronograma do Acordo de Paris, pode ser muito tarde para evitar os grandes impactos da mudança do clima. "Temos certeza que começar a discussão sobre as metas em 2023 é tarde demais, uma vez que as reduções nas emissões deveriam começar o mais rápido possível", disse a um grupo de jornalistas a brasileira Thelma Krug, vice-presidente do IPCC e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Ela se referia às metas voluntárias de redução de gases-estufa, elaboradas por cada país que assinou o Acordo de Paris, conhecidas pela sigla NDC. O estudo dos cientistas dizem que o esforço global dos países leva o aquecimento da temperatura a uma rota de eventos extremos muito fortes e perigosos.
O relatório do IPCC, produzido a pedido da Convenção do Clima da ONU, indica que para o aumento da temperatura ficar limitado em 1,5°C até 2030 as emissões de CO2 teriam que ser reduzidas em 45% com relação a 2010. Em 2050 teriam que ser quase zero.
Marcos Buckeridge, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP e um estudioso dos efeitos da mudança climática sobre cana, soja, feijão e sorgo e espécies nativas, alertou sobre os efeitos do aquecimento na produção agrícola. A produção de milho cai se a temperatura estiver acima de 35°C. Na soja o limite é de 39°C. "Se passarmos de certo ponto, podemos ter problemas de produção e pode faltar alimento", disse.
Buckeridge disse que o etanol brasileiro tem potencial de substituir 15% da gasolina mundial e potencial para reduzir as emissões globais em até 6% em relação a 2014. "Não há necessidade de destruir floresta para produzir energia renovável", reforçou. Ele disse trabalhar em um projeto que tenta mudar o pacto federativo brasileiro. "As cidades brasileiras não têm autonomia para fazer as mudanças necessárias para se adaptar à mudança do clima", registrou.
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