quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Valor Econômico – Rio Energy aposta em projetos eólicos 'híbridos'

MEIO AMBIENTE E ENERGIA



Por Camila Maia | De São Paulo

A Rio Energy, veículo de investimento em geração renovável no Brasil da gestora americana Denham Capital, aposta em projetos de geração de energia que combinem contratos no mercado livre e no mercado regulado (das distribuidoras) para crescer no país. Em entrevista ao Valor, o diretor financeiro e de novos negócios da companhia, Roberto Colindres, contou que está estudando as melhores opções de financiamento para esses empreendimentos.

No leilão de geração de agosto, a companhia vendeu um projeto eólico cuja metade da garantia física será destinada ao mercado livre. Para fazer a gestão desses contratos, a Rio Energy está em contato com comercializadoras, ao mesmo tempo em que está criando uma área nova dentro da empresa para atuar nesse segmento. Ainda não está definido se terão uma comercializadora própria ou atuarão por meio de terceiros, contou Colindres.

"O mercado inteiro de renováveis está cada vez mais olhando para soluções diferentes para contratação de projetos", disse Colindres.

Até pouco tempo atrás, os novos projetos de geração eram todos atrelados a contratos de venda de energia (PPAs, na sigla em inglês) de longo prazo no mercado regulado, por meio de leilões. Desde que houve um período sem leilões, os empreendedores passaram a fechar contratos com "mix" de regulado e livre. É o caso da Rio Energy.

Para viabilizar os projetos, as empresas precisam ser criativas na obtenção de financiamento. A Rio Energy avalia as opções "clássicas", que envolvem suporte do BNDES e do Banco do Nordeste (BNB), financiadores tradicionais do segmento de energia eólica. "Estamos inclusive testando com o BNB a possibilidade dessa estrutura híbrida de regulado com livre, deixando uma parte pequena da garantia física descontratada", disse.

Segundo o diretor da Rio Energy, o BNDES está aberto a trabalhar também com mercado livre por entender que é nessa direção que o setor caminha. "Mas podemos precisar de garantias diferentes, termos diferentes, índice de cobertura diferente para mercado livre e etc", disse Colindres.

A emissão de dívida voltada para esses projetos híbridos ainda não foi testada pela companhia, que só vendeu dívida para projetos 100% no mercado regulado. "Mas acho que também vai nessa direção, cada vez mais temos investidores de debêntures incentivadas mais sofisticados e que entendem os riscos", afirmou, completando ver espaço para emissões para "projetos bem estruturados."

"Eu acredito que daqui um ano e meio começaremos a ver mais empreendedores testando o mercado para debêntures com essa estrutura híbrida que incorpora também o mercado livre", disse.

A percepção de risco ainda é diferente, porque as contrapartes (compradores da energia) não são as distribuidoras de energia, que têm um risco de inadimplência consideravelmente baixo.

Um ponto favorável para os financiamentos desses projetos, segundo Colindres, é o fato de que as geradoras estão conseguindo cada vez mais firmar contratos de prazos mais longos de venda de energia no mercado livre. "Estamos começando a ver contratos que podem chegar a 15, 18 anos, mas isso ainda é algo atípico no mercado. Em geral, são contratos de dois a oito anos", disse.

No caso da Rio Energy, a estratégia de comercialização dessa energia ainda não foi definida. "Estamos vendo várias soluções em paralelo, não temos uma fechada neste momento. Realmente, trabalhar no mercado livre abre um grande leque de alternativas."

Uma das ideias é encontrar um consumidor apenas que compre toda a energia disponível no longo prazo por meio de um contrato bilateral. "Vemos que esse movimento exige muito mais sofisticação do lado do empreendedor. Pode ter mais riscos, mas também gera mais oportunidades", afirmou.

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