quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Este mês na ciência climática: emissões em alta, fenômenos extremos e más notícias para o Ártico

Este mês na ciência climática: emissões em alta, fenômenos extremos e más notícias para o Ártico

Este post foi escrito por Kelly Levin e Dennis Tirpak e publicado originalmente no WRI Insights.

Todos os meses, cientistas fazem novas descobertas que avançam nossa compreensão sobre as causas e os impactos das mudanças climáticas. As pesquisas nos dão uma noção mais clara das ameaças que já enfrentamos e apontam o que ainda está por vir se não reduzirmos as emissões em um ritmo mais rápido.
A série “Este mês na ciência climática”, do WRI, faz um resumo das pesquisas mais significativas de cada mês, compiladas de publicações científicas reconhecidas. Nesta edição são explorados alguns dos estudos publicados em dezembro de 2018. (Para receber esse conteúdo diretamente em seu e-mail, em inglês, cadastre-se na newsletter “Hot Science”, do WRI.)

Eventos extremos

  • Eventos extremos estão mais extremos: cientistas descobriram que atualmente a média global de meses úmidos é 20% mais alta do que seria se o clima fosse estável. Essa tendência é mais acentuada nas áreas de médias e altas latitudes, incluindo o centro e o leste dos Estados Unidos e o norte da Europa e da Rússia, onde o número recorde de meses úmidos aumentou em 37%. Outras regiões, como a África Central, também estão registrando mais meses secos. O estudo sugere que entre 1980 e 2013, cerca de um terço dos recordes de seca registrados não teria acontecido sem mudanças de longo prazo no clima.
  • Ciência de atribuição está mais forte: o Boletim da Sociedade Americana de Meteorologia mostrou que as mudanças no clima causadas pela atividade humana foram responsáveis por uma série de eventos – inundações em Bangladesh, na China e na América do Sul; ondas de calor na China e no Mediterrâneo; secas no leste da África e nas planícies do norte dos Estados Unidos. O relatório também analisou o aquecimento dos oceanos, incluindo a região na costa da Austrália – um aquecimento que os cientistas consideram que seria “virtualmente impossível” sem as mudanças climáticas.
  • Ondas de calor no Reino Unido: o Departamento de Meteorologia do Reino Unido divulgou uma análise da onda de calor recorde do verão de 2018 e descobriu que o aquecimento induzido pelo homem aumentou a probabilidade de ocorrência desse tipo de evento em 30 vezes.

Impactos

  • O descongelamento do permafrost ameaça o petróleo e o gás: um estudo publicado na revista Nature revelou que 3,6 milhões de pessoas e 70% da infraestrutura do Ártico estão localizadas em áreas com alto potencial de descongelamento do permafrost (em português, pergelissolo). Como resultado, um terço da infraestrutura e quase metade dos campos de extração de petróleo e gás no ártico russo poderiam sofrer graves danos. Os cientistas ressaltam que, mesmo que os países consigam cumprir suas metas de redução de emissões do Acordo de Paris, esse risco ainda não diminuiria o suficiente.
  • Mudança na camada de neve ameaça a água na Califórnia: modeladores avaliaram os impactos das mudanças climáticas no derretimento da camada de neve, uma importante fonte de água para os reservatórios da Califórnia. A avaliação mostra que, em um cenário de altas emissões, o pico de neve acumulada ocorrerá um mês antes do normal e o pico do volume de água diminuirá em quase 80% até o final do século.
  • As mudanças climáticas causaram a maior extinção em massa: o fim do período Permiano, há mais de 250 milhões de anos, trouxe a maior extinção em massa da história do planeta Terra – em torno de 96% das espécies marinhas e 70% das terrestres despareceram. Em um novo estudo, os autores descobriram que o gatilho da extinção em massa na época – os gases de efeito estufa de origem vulcânica – é análogo ao das emissões de hoje, causadas pela atividade humana. Até então, os cientistas ainda não haviam comprovado uma relação quantitativa entre extinção, características das espécies extintas e o clima.

Emissões e temperatura

  • Crescem as emissões de dióxido de carbono: o Global Carbon Project mostrou que as emissões de dióxido de carbono alcançaram a marca recorde de 37,1 gigatoneladas em 2018. Os combustíveis fósseis são os principais responsáveis – emissões originadas pela queima de gasolina, carvão e petróleo subiram 2,7%, um aumento ainda mais rápido que o de 2017, de 1,6%.
  • Incêndios na Califórnia geram emissões significativas: o Departamento do Interior dos Estados Unidos descobriu que as emissões da temporada recorde de incêndios na Califórnia foram equivalentes à quantidade gerada em um ano pelo uso de eletricidade no estado.
  • Nenhuma base científica para uma “pausa no aquecimento global”: dois estudos lançados no mês passado mostram que existe pouca ou nenhuma evidência estatística para uma “pausa” ou “desaceleração” no aquecimento neste início de século, uma desculpa que os céticos da mudança do clima usaram por muito tempo para contrapor as evidências do aquecimento induzido pelo homem. Os cientistas também revelam que não há nenhuma evidência estatística para uma divergência entre os modelos climáticos e as observações realizadas, o que também já foi anteriormente citado como um potencial fator para a suposta pausa.

Gelo e o aumento do nível do mar

  • Perda de gelo no Ártico eleva o nível do mar: o aumento do nível do mar decorrente da perda de gelo no Ártico aumentou de forma substancial de 1971 a 2017 – e triplicou entre 1986 e 2005 e 2006 e 2015. A cobertura de gelo do Ártico, principalmente na Groenlândia e no Alasca, contribui com cerca de 35% do aumento do nível dos oceanos globalmente.
  • A camada de gelo da Groenlândia está derretendo mais do que pensávamos: pesquisadores comprovaram que o derretimento da camada de gelo da Groenlândia tem sido "excepcional" nos últimos 350 anos. O derretimento do gelo pode ser atribuído à industrialização em meados do século XIX, mas só recentemente a camada derreteu em uma escala fora da faixa de variabilidade natural.
  • Más notícias para o Ártico: a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica publicou seu boletim anual do Ártico, e o documento mostrou que a camada mais antiga e resistente de gelo já diminuiu 95%. Trata-se de uma notícia tremendamente problemática, uma vez que essa camada de gelo é a mais estável. Um Ártico sem gelo pode levar a um aquecimento descontrolado, já que o oceano aberto absorve mais luz solar.

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