quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Os impactos econômicos e sociais da “fast fashion”




Os impactos econômicos e sociais da “fast fashion”


Este post foi escrito por Elizabeth Reichart e Deborah Drew e publicado originalmente no WRI Insights.



Pense em quantas peças de roupa são dadas como presente nas festas de fim de ano. Quantas vezes as pessoas vão usá-las antes de jogar fora?


Provavelmente, menos do que você pensa. O equivalente a um caminhão de lixo carregado de roupas é queimado ou enviado para aterros a cada segundo no mundo. O consumidor médio comprou 60% mais roupas em 2014 do que no ano 2000, mas manteve cada peça em uso por metade do tempo.

Já se foi o tempo em que as pessoas compravam uma camiseta e a usavam por anos. Em um mundo com uma demanda cada vez maior em relação ao vestuário, os consumidores querem – e cada vez mais podem pagar – roupas novas, após utilizar as que já possuem apenas algumas vezes. Modelos de negócios são criados a partir da premissa fast fashion (em português, moda rápida), oferecendo peças de roupas mais baratas em ciclos mais rápidos.



Esse modelo linear de compra, uso e descarte rápido tem um impacto negativo sobre as pessoas e os recursos do planeta. Veja aqui as implicações econômicas, sociais e ambientais desse modelo:


Impactos econômicos

 

De acordo com a Fundação Ellen McArthur, a produção de roupas aproximadamente dobrou nos últimos 15 anos, um aumento impulsionado pelo crescimento da classe média em todo o mundo e pela alta das vendas per capita nos países desenvolvidos. O crescimento estimado de 400% no PIB global até 2050 implicará uma demanda ainda maior por vestuário.


Esse cenário pode ser uma oportunidade para agirmos melhor. Um estudo revelou que solucionar os problemas ambientais e sociais criados pela indústria da moda proporcionaria um ganho de US$ 192 bilhões para a economia global até 2030. O valor das roupas descartadas de forma prematura hoje é de US$ 400 bilhões por ano.

 

 

Impactos ambientais

 

 

A produção de roupas também é uma fonte considerável de emissões e de consumo de recursos. Considere que:
  • fabricar uma calça jeans emite o equivalente a dirigir um carro por 128 quilômetros;
  • roupas descartadas feitas de tecidos não biodegradáveis podem permanecer em aterros por até 200 anos;
  • são necessários 2.700 litros de água para fabricar uma camiseta de algodão, o suficiente para atender a média de consumo de uma pessoa por dois anos e meio (considerando apenas a água para beber).
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Impactos sociais

 

A fabricação de roupas ajudou a estimular o crescimento das economias em desenvolvimento, mas uma análise mais detalhada mostra uma série de desafios sociais. Por exemplo:
  • De acordo com a ONG Remake, 75 milhões de pessoas trabalham produzindo roupas hoje, 80% da produção vem de mulheres jovens entre 18 e 24 anos.
  • Trabalhadores do setor de vestuário em Bangladesh, principalmente mulheres, ganham em torno de US$ 96 por mês. A tabela de salários do governo sugere que uma pessoa precisa em média 3,5 vezes esse valor para ter “uma vida decente com suas necessidades básicas atendidas”.
  • Um relatório do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos comprovou a existência de trabalho infantil e de trabalhos forçados na indústria da moda na Argentina, Bangladesh, Brasil, China, Índia, Indonésia, Filipinas, Turquia e Vietnã, entre outros países.
O consumo cada vez mais rápido das peças e a necessidade de produzir para ciclos de moda mais curtos geram pressão sobre os recursos, resultando em uma linha de produção que coloca os lucros à frente do bem-estar humano.

Então, que devemos fazer?

 

Como seria uma indústria têxtil mais sustentável e o que precisamos fazer para chegar lá? Estamos começando a ver alguns sinais iniciais de uma indústria em transição.


Modelos de negócio baseados na longevidade, como Rent the Runway e Gwynnie Bee, são o início de uma indústria que apoia a reutilização em vez do consumo rápido e irresponsável. Assim como a Netflix reinventou a maneira como alugamos filmes e a Lyft transformou o transporte, começamos agora a ter a opção de alugar peças de roupa em vez de comprá-las. Idealmente, chegaremos ao “fim da propriedade” no que diz respeito ao vestuário – considerando, claro, os impactos sociais, ambientais e na geração de empregos.


Esse é apenas o começo de uma transformação radical, mas necessária. Cada vez mais, as empresas do setor terão de enfrentar esse desafio e desassociar seu crescimento do consumo de recursos.


Para atender a demanda de maneiras inovadoras, as empresas da indústria da moda precisarão fazer o que nunca fizeram antes: planejar, testar e investir em modelos de negócios que reutilizem as roupas e maximizem sua vida útil. É hora de inovar ou ficar para trás.

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