Uma Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária, artigo de Luiz Eduardo Corrêa Lima
Ponto de Vista:
Uma Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária
Luiz Eduardo Corrêa Lima
(Professor Titular de Biologia – UNIFATEA/Lorena/SP)
“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos.” Eleanor Roosevelt
INTROITO
Após
ter sido convidado para proferir uma palestra na abertura de um grande
evento sobre Sustentabilidade e Educação Ambiental, um determinado
ambientalista, não só teria orgulhosamente aceitado a incumbência, como
teria feito seu pronunciamento à plateia presente, citando oportunamente
os dois pensamentos acima e em seguida discorreu sua fala com o
seguinte texto.
Senhoras
e Senhores, eis aqui aquilo que penso sobre a questão ambiental
planetária e também o meu grande sonho para o futuro do planeta e da
humanidade.
INTRODUÇÃO
Para
que seja possível introduzir de uma maneira clara a importância do tema
desse encontro, existe a necessidade imperante de se evidenciar
objetivamente algumas constatações ambientais que se encontram na ponta
da questão. Aqui será dado destaque à duas delas, que podem ser
consideradas as mais cruciais, porque estão na origem de todas as
outras. A primeira dessas constatações diz respeito ao fato da
humanidade se utilizar dos recursos naturais como se eles fossem
infinitos e a segunda diz respeito ao crescimento populacional humano
exponencial e insano que tem ocupando o planeta de maneira totalmente
descontrolada.
Historicamente
a humanidade, independentemente de qualquer teoria filosófica, tem
vivido sobre a égide de que um determinado Deus deu a Terra ao homem
para que ele crescesse, multiplicasse e dominasse sobre todas as demais
criaturas do planeta e parece que nossa espécie seguiu essas orientações
direitinho. Ao longo do tempo, o que tem sido feito pela humanidade em
relação ao planeta tem sido exatamente isso, pois o homem seguiu o curso
de sua história usurpando e vilipendiando o planeta e todo patrimônio
natural, utilizando todos os recursos naturais planetários disponíveis
aos seus interesses exclusivos, como se o planeta fosse infinito e como
se tudo que existe nele fosse realmente uma grande benesse de Deus para
espécie humana.
É
triste e lamentável, mas a grande maioria do absurdo contingente de mais
que 7.500.000.000 (sete bilhões e meio) de humanos existentes no
planeta ainda continua pensando e agindo exatamente assim. Em suma, é
preciso entender de uma vez por todas que o planeta não é propriedade
dos seres humanos, tem recursos definidos qualitativa e
quantitativamente e, principalmente, que é impossível crescer
infinitamente e que, por isso mesmo, o controle do crescimento da
população humana é imperativo para que o consumo do patrimônio natural
da Terra e todas as demais questões ambientais dele decorrentes possam
ser minimizadas e quem sabe até estabilizadas no futuro.
Essas
são as duas grandes e nefastas constatações, que não podem ser deixadas
de lado e das quais a humanidade deve estar segura e consciente de que
precisam ser rigorosamente solucionadas. A humanidade também deve partir
sempre da certeza de que se não houver mudança nesse paradigma errôneo,
de que Deus criou o planeta para o homem, qualquer discussão sobre
Sustentabilidade e Educação Ambiental acaba sendo balela, pois não
levará a lugar nenhum e o planeta vai ficar na mesma situação. Ou
melhor, a situação só vai piorar para sempre, até que chegue ao fim.
É
preciso que a humanidade tome efetiva consciência e sobretudo, que
assuma a sua responsabilidade com o Planeta Terra, com a manutenção da
vida planetária e com continuidade da vida humana, exatamente nessa
ordem de prioridade: o planeta, a vida e o homem.
Considerando
que esse encontro, assim como tantos outros, se propõe a discutir
exatamente Sustentabilidade e Educação Ambiental, então fundamentalmente
há de se começar por entender, aceitar, imaginar, desenvolver e
multiplicar mecanismos planetários abrangentes que permitam colocar essa
realidade necessária na mente dos demais seres humanos, para que seja
possível planejar procedimentos efetivos que permitam estabelecer as
mudanças necessárias.
Na verdade, a humanidade precisa de uma nova
filosofia que apague o tradicionalismo das filosofias até aqui
conhecidas e praticadas, particularmente na metade ocidental do planeta.
O desafio que está posto é claro e simples: ou pensamos diferente, para
assim fazermos diferente ou nos extinguiremos fazendo errado.
Não
se trata de querer negar as possibilidades de projetos e trabalhos que
se coadunem com os ideais da Sustentabilidade e da Educação Ambiental.
Ao contrário, qualquer proposta nesse sentido será sempre muito
bem-vinda e certamente vai trazer resultados positivos. Entretanto,
essas propostas isoladas não causarão a ruptura comportamental que se
faz necessária para tornar a Sustentabilidade e a Educação Ambiental
como referências no comportamento humano.
Não
tenho dúvida nenhuma de que as pessoas que estão aqui neste evento e que
obviamente estão preocupadas com a temática ambiental, são cientes da
importância da Sustentabilidade e da Educação Ambiental e o que está se
tentando dizer é que a realidade desse grupo precisa ser expandida para
os demais segmentos da sociedade humana. É importantíssimo lembrar que
esse é um grupo diminuto, quase nada, uma poeira no contingente humano e
assim pouco pode fazer, além do árdua tarefa da execução do “trabalho
de formiguinha” que já faz alguns anos vem sendo levado a cabo, porém
sem praticamente nenhum resultado significativo.
Na
verdade, o grande trabalho está em fazer toda humanidade compreender e
tomar as decisões promissoras para a continuidade da vida, em
particular, a vida da espécie humana no planeta. Essa é uma tarefa
difícil, quase impossível: fazer a humanidade entender que a questão é
muito séria, que precisa ser assumida e resolvida por todos e
principalmente que as ações individuais pequenas podem ser
preponderantes para o resultado cumulativo que possa ter significado
planetário.
Mas
como fazer isso sem uma revolução filosófica global de cunho social e
político, passando por cima de questões culturais e econômicas, haja
vista que os interesses individuais, locais, regionais, nacionais são
sempre colocados acima dos interesses planetários pelos diferentes
grupos humanos? Na realidade, existe necessidade de uma guinada de 180
graus na maneira de pensar e de agir da humanidade. O comportamento
humano tem que mudar drasticamente e ninguém sabe como conseguir
produzir essa façanha.
Infelizmente,
por vários aspectos que todos conhecem e não precisam ser discutidos
aqui, não há consenso sobre uma linguagem planetária que possa produzir
uma postura humana única em relação às questões ambientais e por isso
mesmo é que eu volto a dizer que por mais bem intencionados que nós,
aqui presentes, sejamos, o nosso contingente é muito pequeno e vem
lutando de maneira inglória, contra a maré.
Aliás, na verdade, contra um
tsunami de interesses outros que se apresentam como mais prioritários e
que se elevam cada vez mais, destruindo efetiva e progressivamente mais
o patrimônio planetário e a própria humanidade. Como podemos trazer
consenso à humanidade para dar um basta nesse quadro e tentar resolver
esta situação?
Essa
é a dura realidade em que nos encontramos; precisamos mudar o
paradigma, mas não há ninguém com poder suficiente e nem a interesse
real de alguém que se proponha de fato a tentar fazer isso. Talvez,
apenas, a própria natureza planetária, ao demonstrar o seu
descontentamento com as ações humanas, poderá produzir os efeitos que
são necessários para as mudanças comportamentais da humanidade. Nos
últimos anos, a natureza tem se apresentado mais violenta, mais ríspida e
mais contundente, porém, lamentavelmente, ainda tem sido pouco para
convencer a grande mancha de humanos céticos e ignorantes. Por outro
lado, também existem aqueles religiosos que continuam esperando que Deus
dê um jeito na situação, até porque, a “culpa” é Dele, já que foi Ele
que nos deu o planeta.
VIDA E QUALIDADE DE VIDA
Vários
autores, em diferentes momentos da história humana tentaram conceituar a
palavra vida e cada um deles, a seu modo, procurou expressar o seu
interesse primário na sua conceituação. Todos esses autores disseram
verdades, mas nenhum deles foi suficientemente abrangente para criar uma
definição efetiva. Assim, é possível dizer que a palavra vida possui
vários significados e por isso mesmo é muito difícil estabelecer uma
definição precisa.
Porém, numa ideia geral mais ampla, todos parecem
concordar que a vida está relacionada com a existência natural e própria
de algumas entidades que surgiram na Terra, os organismos vivos. Além
disso, eles também concordam que a vida, ao que parece, é uma
particularidade única do nosso planeta. Pelo menos até aqui, ninguém
conseguiu demonstrar a existência de vida em qualquer outro lugar do
universo.
A
vida na Terra não só foi possível, como se desenvolveu e se diversificou
extremamente pelos cantos do planeta em consequência de um longo
processo evolutivo. Como resultado desse processo, hoje estima-se que
existam 10 a 20 milhões, ou mais espécies vivas na Terra e nós ainda
estamos muito longe de conhecer a maioria delas. Aliás, existem muitas
que nem chegamos a conhecer e que se extinguiram por processos naturais e
outras por ação antrópica. A mancha humana planetária e os impactos
produzidos por essa mancha causa feridas sérias ao planeta e a
diversidade da vida e muitos dos organismos vivos deixaram de existir
por ação exclusiva das atividades humanas.
Da
mesma maneira que ocasionalmente os seres humanos aceleraram o processo
de extinção natural ou criaram mecanismos que levaram a extinção de
algumas espécies, também foi possível ampliar determinadas populações e
mesmo modificar algumas delas de acordo com o interesse da humanidade.
Assim, além das mudanças físicas no ambiente, o ser humano também pode
modificar bastante a conformação natural da vida no planeta, no que diz
respeito às espécies de organismos vivos e suas respectivas condições
naturais. Pois então, é exatamente isso que, ao longo do tempo, tem
propiciado uma perda bastante significativa da diversidade biológica que
não foi programada pelos processos naturais.
Assim,
o homem tenta melhorar o que lhe interessa e acaba por destruir o que
não lhe interessa, como se fosse o “dono” absoluto do planeta, seguindo
aquele princípio, já citado, de que Deus teria criado o planeta para uso
dos seres humanos. Essa condição de “dono do planeta” ficou tão clara
nas mentes de alguns humanos, que matar outros organismos vivos não
parece ser problema para a grande maioria dos seres humanos.
Essa
condição “superior” dos humanos em relação às outras espécies vivas
permitiu inclusive que os humanos fossem considerados “melhores”, quanto
melhores fossem as suas possibilidades de matar, porque isso ampliaria a
sua chance de se alimentar melhor, ser mais forte e até de viver mais,
desenvolvendo assim, uma melhor “qualidade de vida”.
Vejam
bem, porque é isso mesmo que eu quis dizer. Para a maioria dos humanos
“qualidade de vida” é a capacidade de viver melhor, independentemente do
que se tenha que fazer para alcançar isso, porque para esses humanos,
apenas a vida pessoal de cada um deles é a única vida que importa.
Matar
outros organismos ou mesmo outros humanos pode ser um fator que
contribui com a melhoria da qualidade de vida. Pois então, esse
conceito, além de absurdo por si só, também levou grande parte da
humanidade a agir progressivamente de maneira cada vez mais egoísta, sem
dar nenhuma importância às demais espécies vivas do planeta e, pior
ainda, é que alguns desses indivíduos não dão importância nem a vida de
outros seres humanos.
Alguns
humanos traduzem a expressão “qualidade de vida” como sendo um conceito
aplicável exclusivamente aos humanos e esquecem que a vida humana é
apenas uma entre milhões de espécies planetárias e que todas essas
espécies também evoluíram no planeta e merecem ter vida com qualidade.
Aliás, esquecem, não conseguem ou não querem entender, que a vida humana
só foi possível por conta da evolução a partir da vida de outras
espécies ancestrais da nossa. Por conta disso, lamentavelmente, a
qualidade de vida que deveria ser um direito de qualquer organismo vivo
na Terra, na realidade, acaba sendo um privilégio e uma prerrogativa
exclusiva que apenas interessa aos representantes da espécie Homo sapiens.
Hoje,
existe uma necessidade cristalina de que se pense na qualidade de vida
do planeta Terra, aquele que permite, abriga e mantêm as vidas dos
organismos vivos, inclusive a espécie humana. O ser humano não é melhor e
nem pior que os demais organismos, ele é apenas mais uma espécie na
Terra e todas tem direito a viver com qualidade no planeta, o qual
também precisa ter qualidade para poder manter a vida dos organismos
nele viventes. Essa questão é realmente complicada e difícil de ser
entendida por muitos seres humanos, até mesmo por pessoas muito bem
letradas e consideradas de boa índole. Qualidade de vida tem que ser uma
prerrogativa planetária e não apenas humana.
CRESCIMENTO POPULACIONAL E ECONÔMICO CONTÍNUO
Agora
vamos nos ater um pouco sobre a outra questão que contraria
principalmente as religiões, mas que é independente de qualquer religião
ou qualquer atividade relacionada à religiosidade, porque é apenas uma
questão de lógica e um pouco de bom senso. A reprodução humana não pode e
não deve ser tratada de maneira diferente da reprodução de qualquer
outra espécie viva, porque os humanos são tão organismos vivos quanto
qualquer outra espécie planetária. Sendo assim, reproduzir é uma
necessidade de cada espécie viva, pois antes de tudo é uma garantia para
a sua sobrevivência e perpetuidade. Desta maneira a reprodução precisa
efetivamente ser garantida aos humanos e às demais espécies vivas.
Por
outro lado, sempre é bom lembrar, que o planeta não é apenas dos humanos
e muito menos de algum grupo humano em especial. Assim, é preciso
equalizar o espaço físico planetário com a população que lhe cabe.
Obviamente, eu sei do risco e da conotação política que muitos poderão
deduzir dessa minha afirmação, mas, desde já, quero dizer que não
antevejo qualquer conotação política nessa afirmativa, mas apenas
identifico a reprodução, humana ou não, como uma necessidade planetária
das espécies vivas.
Também
não se trata aqui de definir matematicamente um número mágico a ser
estabelecido de habitantes humanos por área geográfica, mas sim de se
tratar o espaço físico considerando sua capacidade ecológica de suporte.
Além disso, ainda existe a consequente dificuldade de manutenção de
todos os organismos não humanos que também habitam (vivem) nessa área
considerada. Qualquer livro básico de Biologia sempre tem algumas
páginas esclarecendo sobre a relação entre o potencial biótico de uma
espécie e a resistência do meio, que impede o crescimento exponencial
das espécies em condições naturais, mas parece que essas regras não
valem para a espécie humana.
Se
não houver controle populacional humano não há como frear as
necessidades, que serão cada vez maiores, de desmatamento e de
degradação do ambiente natural para arrumar espaço físico para as
cidades, para a indústria, para a agricultura e para a pecuária. A
demanda de recursos hídricos e de recursos atmosféricos serão maiores e
como consequência a poluição tanto da água quanto do ar também tende a
aumentar.
O comprometimento e o envenenamento dos solos também aumenta,
por causa da necessidade cada vez maior do uso de agrotóxicos. Enfim,
cada humano a mais no planeta traz consigo um contingente enorme de
outras necessidades e quem paga essa conta é o ambiente (o planeta), os
demais seres humanos e principalmente os seres vivos não humanos. A bola
de neve cresce indefinidamente quanto mais cresce a população, mas
certamente o planeta tem um limite físico de capacidade de suporte.
Outro
problema é que, se não bastasse o fato da população não parar de
crescer, tem uns “gênios” (do mal) que pensam que o planeta pode tudo e
que a tecnologia faz milagres. É até possível, que a tecnologia faça
alguns milagres, mas ela não vai poder contrariar a natureza sempre e a
continuar como está, certamente vai chegar um dado momento em que
algumas coisas já não serão mais possíveis tecnologicamente, por
questões físicas, químicas ou biológicas básicas. Sendo assim, não dá
para pensar em crescimento contínuo, em lucro contínuo e indefinido por
conta das benesses tecnológicas. Temos que entender que o planeta é
finito e que sua capacidade consequentemente também tem que ser.
Desta
maneira, é necessário que se comece a pensar em parar de crescer
economicamente. Parece absurdo, mas isso é pura lógica, embora a maioria
da humanidade não queira pensar assim. Se por um lado parar de crescer
economicamente é complicado, crescer indefinidamente será muito mais,
porque os recursos são limitados e toda economia se faz a partir dos
recursos naturais. É bom lembrar que o dinheiro é apenas um símbolo, uma
representação e que o valem mesmo são os produtos, os quais só existem
se existirem as matérias primas que lhes permitem existir.
Pois
é, há sim que se pensar numa “deseconomia” ou numa maneira de viver com
menos recursos naturais e, consequentemente, com menos dinheiro. Se a
população continuar crescendo isso será impossível. Se, mesmo que a
população esteja controlada, as pessoas não estiverem adequadas e não
forem educadas para essa realidade futura também será impossível. O
planeta é finito, os recursos são finitos, a população tem que ser
limitada e os lucros tem que ser contidos. Não existe outra
possibilidade!
A HUMANIDADE E O DILEMA ECOLÓGICO X ECONÔMICO
Todas
as espécies vivas do planeta vivem e sobrevivem, com boa qualidade de
vida ou não, em função daquela parte do patrimônio natural que elas
conseguem transformar em recursos naturais para seus respectivos
interesses e se utilizam desses recursos direta ou indiretamente. A
ÚNICA espécie que não age necessariamente assim é a espécie humana. Os
humanos não se satisfazem com aquilo que o planeta lhes dá naturalmente e
assim, inventaram, dentre várias outras coisas, a manufatura, a
indústria, o comércio e tristemente o dinheiro. Além disso, os seres
humanos inventaram o “lixo”, isto é, o recurso natural que “não serve”. A
natureza não conhece lixo, porque na natureza tudo “serve”, mas essa é
outra questão e não vou discutir sobre isso agora.
Como
já foi dito, o dinheiro, tinha como objetivo ser uma maneira de
simbolizar o valor dos recursos, em condição natural ou manufaturado,
para facilitar os negócios nas transações comerciais, mas transcendeu
esse objetivo faz muito tempo e atualmente é considerado como sendo o
principal recurso para a maioria dos seres humanos. Comer, beber, morar,
dormir, reproduzir, amar, andar e outras ações naturais humanas
passaram a ser coisas de pequeníssima importância perto do dinheiro.
Isto
é, os humanos modificam os recursos, processam os recursos modificados e
vendem (trocam) esse material.
Para “facilitar” essas transações
comerciais, os humanos inventaram o dinheiro, que passou a servir como
padrão de equivalência entre as mercadorias (os recursos no comércio
humano) a serem negociadas. Paralelamente a isso desenvolveu-se um ramo
de atividade estritamente antrópica, que a natureza (as demais espécies
do planeta) não conhece, pelo menos dessa maneira, que foi denominado de
economia e cujo objetivo é permitir garantir mais recursos, que
passaram a ser entendidos simplesmente como dinheiro. Assim, a maioria
dos seres humanos, passou a se preocupar com o dinheiro e não com os
recurso naturais.
Não
fosse o absurdo de supervalorizar o dinheiro, essa situação podia até
ser uma forma mais conveniente de tratar os recursos e até podia ter um
objetivo nobre, mas anexado a ela veio uma ideia terrível, que foi a
ideia de lucro (vantagem em dinheiro), que a natureza (as demais
espécies do planeta) também não conhece. Como “o lucro pareceu ser um
bom negócio”, os seres humanos não abriram mão de trabalharem efetiva e
especificamente visando essa possibilidade. Se der lucro, sim e se não
der lucro, não. Infelizmente esse passou a ser o fundamento maior da
atividade humana. Por conta disso, alguns seres humanos passaram a
comprar e vender exclusivamente dinheiro ao invés de recursos naturais.
A
propósito, não sou contra o lucro, muito menos contra o capitalismo e
nem quero voltar necessariamente ao escambo. Estou apenas afirmando que o
lucro como base exclusiva de interesse para geração de renda e
ampliação da economia é um grande (talvez o único) causador dos
transtornos planetários. O grande equívoco da humanidade foi acreditar
que dinheiro vale alguma coisa, pois quem valem são os recursos.
Fazer
riqueza (ter cada vez mais dinheiro) passou a ser um compromisso dos
seres humanos, que por conta dessa “necessidade” trocou e continua
trocando cada vez mais as verdadeiras necessidades por dinheiro e não
mede consequências para atingir esse intento. O que importa é ter
dinheiro para poder comprar e assim destruir um pouco mais o planeta que
já está bastante degradado. O consumo dos recursos naturais e derivados
atingiu um patamar absurdo, onde as pessoas querem comprar, apenas por
comprar, pois para muitos humanos, já não há nenhum significado na
maioria das compras, além de mera ostentação.
Lamento,
mas tenho nesse momento, que fazer mais uma constatação terrível e que a
maioria dos humanos não costuma querer saber. A partir do conhecimento
do lucro e seu filho pródigo, o consumo, e de seus benefícios pessoais, a
humanidade não parou mais de complicar a vida dos seres humanos e não
humanos na Terra seriamente. A destruição planetária passou a ser mera
contingência da atividade econômica, que precisa gerar cada vez mais
lucros para que se tenha mais dinheiro e que se consuma sempre mais. É
preciso conciliar o lucro e o consumo aos interesses planetários, antes
dos interesses estritamente humanos e existe pouquíssima gente disposta a
seguir nessa direção.
O
mundo precisa de mais ecologia e menos economia, ou melhor, considerando
que economia é uma questão ecológica, então a economia tem que se fazer
com base na ecologia, isto é, o mundo, na verdade, só precisa de
ecologia, mas, infelizmente não é isso que se vê. Pois então, ao que me
parece, não existem muitos humanos dispostos a pensar e agir no
interesse planetário, aquele que deveria ser, em última análise, o maior
interesse da humanidade.
SUSTENTABILIDADE, O FIEL DA BALANÇA
O
Eco desenvolvimento, o Desenvolvimento Sustentável e hoje a
Sustentabilidade são conceitos que foram evoluindo gradativamente a
partir da década de 1980 e que hoje podem ser traduzidos quase da mesma
maneira. Isto é, essas são as ideias básicas que foram pensadas por uns
poucos seres humanos preocupados, os quais procuraram desenvolver
soluções plausíveis para as questões planetárias que foram citadas
anteriormente.
O compromisso fundamental desses conceitos foi criar
mecanismos que associassem o desenvolvimento econômico com a manutenção
da qualidade do meio ambiente, pois os recursos naturais precisavam ser
garantidos a todos os humanos, atuais e futuros. As ideias são muito
boas, mas a economia mundial e os diferentes países, com seus
administradores e suas populações também precisam estar envolvidos
nessas ideias, pois também têm que fazer as suas respectivas partes no
compromisso com o planeta.
A
distância entre o pensar e o fazer sustentavelmente ainda é muito
grande, mormente quando se considera a relação entre pobres e ricos.
Essa distância tem que ser progressivamente diminuída e os recursos
naturais têm que ser usados com parcimônia, no interesse maior da
humanidade e não de uns poucos indivíduos ou países que têm dinheiro
para comprar recursos. É preciso abrir mão de algumas regalias, o que os
ricos não querem e deixar de lado algumas pseudonecessidades, o que os
pobres não aceitam. Em suma, ambos os extremos têm que ceder, mas quem
está efetivamente disposto a caminhar nessa direção.
A
Sustentabilidade é a única condição possível de associar a natureza e a
sociedade, garantindo crescimento econômico, protegendo os recursos
naturais e mantendo a qualidade de vida do planeta. A vida humana deve
ser protegida, mas principalmente deve ser planejada para o futuro, para
aqueles seres humanos que ainda não nasceram. É preciso garantir que
esses humanos tenham direito a vida e que essa vida tenha qualidade, mas
é preciso principalmente que o planeta tenha condições de abrigar vida
no futuro, pois não deverão existir futuros seres humanos se não
houverem as condições planetárias devidas que possam viabilizar e assim
garantir a geração e a manutenção desses indivíduos que ainda estão para
nascer.
Nós
humanos, somos a principal causa do problema, mas, o lado bom da
história, é que também somos a parte principal da solução. Aliás,
acredito mesmo que a solução seja uma questão exclusivamente nossa, pois
se, por um lado, foi a espécie humana que criou os problemas, por outro
lada é apenas a espécie humana que tem efetiva condições de tentar
resolvê-los.
Os humanos do futuro esperam que os humanos do presente
sejam capazes de cumprir o compromisso planetário histórico que têm com
eles. Para que isso seja possível, há necessidade premente que trabalhar
dentro dos padrões precípuos da sustentabilidade, mas como já foi dito
no início, essa é uma tarefa que precisa ser assumida coletivamente por
toda humanidade. Cada ser humano, enquanto estiver vivo, é responsável
pelo planeta, pela vida das demais espécies vivas do planeta, pela sua
própria vida e pela vida dos futuros seres humanos do planeta.
No
mundo há pessoas em todas as áreas de trabalho e em todas as regiões
geográficas trabalhando efetivamente para que esse ideal sustentável
tenha êxito, mas é fundamental que todos os segmentos sociais e todos os
grupos humanos estejam imbuídos do firme propósito de melhorar as
condições planetárias progressivamente. A tarefa não surtirá efeito se
não houver participação efetiva de toda a humanidade. A sustentabilidade
é a única possibilidade para a nossa espécie. Desta maneira, somente um
planeta ecológica, social e economicamente sustentável poderá atuar
como verdadeiro fiel da balança e continuará garantindo a manutenção dos
seres humanos na superfície da Terra.
EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE (EDUCAÇÃO AMBIENTAL)
Obviamente
para se chegar à sustentabilidade que se quer e da maneira que se quer
será necessária uma carga imensa de educação. Convencionou-se chamar de
educação ambiental a educação ligada ao meio ambiente e as questões
ambientais, mas eu penso que educação seja um termo que, por si só, já
diz o que pretende. Se precisamos nos preocupar com uma educação que
deverá fazer o ser humano pensar e agir com relação às questões
genéricas que complicam a vida planetária e se chamamos isso de educação
ambiental, então que assim seja.
Mas, eu tenho uma preocupação mais
específica quanto ao termo educação ambiental, que para mim é um termo
pleonástico, porque qualquer forma de educação tem levar em conta o
ambiente em que ela ocorre e assim, toda educação é uma forma de
educação ambiental, mas vamos deixar a semântica de lado e seguir em
frente.
Temos
que trabalhar numa maneira de educação que motive as pessoas que
estiverem bem nos locais onde estão a continuarem querendo estar bem e
por isso mesmo buscando sempre melhorar. A qualidade dos ambientes,
sejam eles quais forem, sempre deverá ser a melhor possível, pois se
cada pequeno ambiente for bom, o macro ambiente (o planeta) estará
caminhando para a perfeição. Esse deverá ser o objetivo da educação
ambiental: trabalhar para a perfeição do ambiente planetário, ainda que
isso seja um utopia.
Atitudes
antropocêntricas não terão lugar na educação. O biocentrismo terá que
ser o objetivo fundamental e a prioridade primária será a manutenção da
vida no planeta, independentemente de qual seja a espécie, pois se essa
espécie existe é porque ela é importante ao planeta e assim precisa ser
mantida existindo. Haverá o maior cuidado com as questões que possam
levar a viabilidade de extinção de espécies, pois será entendido que
cada espécie extinta é um pedaço do planeta que se foi e assim, também é
uma parte da história humanidade que se foi, haja vista que descendemos
evolutivamente de outras espécies vivas.
A
Terra é a meta única e tudo deve ser relacionado aos interesses
planetários primários e preponderantes, todo o resto será consequência
daquilo que for melhor para o planeta. Se a humanidade conseguir agir
dessa maneira, então realmente estará sendo criando um novo homem, cuja
qualidade de vida será medida por suas ações coletivas no interesse
maior da própria humanidade. O egoísmo progressivamente dará lugar ao
cooperativismo e o egocentrismo ao altruísmo. Os seres humanos estarão
mais preocupadas em fazer para todos do que para si, porque a Terra e
avida serão os interesse maiores das diferentes comunidades.
A
chamada educação ambiental será também a educação social, a educação
econômica a educação cultural, porque toda educação envolverá questões
que implicarão sempre a sustentabilidade planetária. Não haverá nenhum
mecanismo destoante desse critério básico e assim, tanto o estudante,
quanto o educador estarão atentos e implicados no firme propósito de
garantir vida e qualidade de vida ao planeta.
A noção de Terra é única e
que deverá continuar sendo nossa única casa por muito tempo, certamente
será o fundamento maior do processo educacional e tudo caminhará sempre
nessa direção. Os próprios cursos profissionais técnicos ou superiores
serão naturalmente inclinados a se enquadrarem estrategicamente em
formar profissionais ecologicamente corretos, socialmente justos e
economicamente viáveis, dentro do tripé da sustentabilidade.
A
educação com certeza irá se direcionar para mudar o rumo do planeta e
consequentemente das possibilidades da natureza seguir seu caminho
evolutivo e da humanidade crescer intelectual e moralmente, pois essa
educação deverá servir para orientar o estudante a caminhar para a
realização pessoal e para a vivência comunitária e assim também
participar da melhoria da qualidade de vida dos demais seres humanos. A
responsabilidade social e ambiental dos indivíduos caminhará a passos
largos e trará o fim de muitos preconceitos, estabelecendo um novo ser
humano, que sobre tudo, sempre respeitará os demais seres humanos,
porque terá consciência de que não existe ser melhor que outro.
CONCLUSÕES
Por
fim, quero mais uma vez deixar claro que o mais importante de tudo não é
fazermos encontros desse tipo, com as pessoas interessadas e já
conscientes sobre a questão. Isso é bom, mas não adianta absolutamente
nada, porque nós não temos poder de fogo nas ações políticas que se
fazem necessárias. Temos que pensar em criar mecanismos educacionais e
legais que envolvam direta e indiretamente as comunidades e os governos
para que novas ações sejam estabelecidas visando a mudança dos
paradigmas, que trarão clareza e entendimento sobre a veracidade das
questões ambientais às diferentes populações humanas.
Esses
mecanismos educacionais e legais é que poderão estabelecer os
comportamentos novos que almejamos e que poderão permitir que as
práticas sustentáveis passem a ser consensuais e assim possam
efetivamente se transformem em ações cotidianas simples e comuns. A
sustentabilidade tem que passar a ser algo natural nas diferentes
culturas humanas e isso só será possível com o interesse dos governos e
das instituições sociais.
A
prática sustentável possivelmente exigirá até ações mais enérgicas sobre
alguns países e determinados grupos sociais, mas urge que essa prática
se torne costumeira da humanidade como um todo. Penso eu que o futuro da
humanidade seja uma questão mais importante que todas as demais e assim
deve ser prioritárias as ações que se destinam a esse fim e certamente a
sustentabilidade é a principal dessas ações.
A
educação ambiental, por sua vez, deverá preparar o homem do futuro,
objetivando as consequências posteriores e mais ainda, antevendo as
novas necessidades que surgirão. O novo homem que vai nascer com a
educação ambiental efetiva e embutida nas populações já crescerá com uma
mentalidade naturalmente preocupada com o planeta e com todas espécies
que nele vivem. Não haverá necessidade de uma preocupação ambiental,
porque esse será um compromisso intrínseco dentro da própria condição
humana.
O
dinheiro, o lucro e o consumo é claro que continuarão existindo, até
porque as atividades sociais humanas não deixarão de acontecer, mas a
importância desses aspectos será tão insignificante quanto uma gota de
água no oceano, porque todos terão o foco principal na vida e não nas
riquezas, nem no poder ou no conforto. O trabalho permitirá obter o
dinheiro necessário para sobreviver e viver com boa qualidade de vida e
comprar será uma contingência da necessidade e não uma necessidade
contingente. O Consumo exacerbado, que hoje se vê alhures, não poderá
existir em situação nenhuma, pois qualquer ser humano terá exatamente
aquilo que precisa e não haverá porque ter mais que isso. O lucro será
reinvestido em benefício da própria humanidade e não haverá essa guerra
econômica do capitalismo selvagem que causa grande infortúnio a
humanidade.
É
claro que e educação não conseguirá mudar tudo, pois continuarão
existindo os 7 pecados capitais, os ricos e os pobres, as diferenças
entre os indivíduos. O ser humano continuará sendo humano e assim
diverso e controverso, mas cultura humana terá avançado a tal ponto, que
não dependerá mais de argumentos sórdidos para decidir pendências. A
educação tentará produzir uma justiça que deverá ser efetivamente
igualitária e justa.
É
claro que não conseguiremos atingir todo o nosso intuito, até porque não
depende somente da gente, mas quem dera que fosse verdade! É eu sou
realmente um sonhador e todos aqui nesse evento, que estão querendo
sustentabilidade e educação ambiental, também são. Mas, vamos acreditar,
pensar e sobre tudo trabalhar para que essas coisas que almejamos sejam
possíveis um dia, pois talvez isso nos faça homens e mulheres melhores
hoje, apesar de tudo. Ou melhor, assim nos livramos do sentimento de
culpa, porque estamos atuando como “bons samaritanos”, porém, todos nós
ainda somos cientes de que não conseguiremos resolver esses imensos
problemas sozinhos.
Por
favor, sonhem comigo para que as diferentes nações da Terra, os
políticos poderosos, os administradores públicos capazes e os grandes
empresários compreendam seriamente a verdadeira situação planetária e
mudem de filosofia, começando a tomar as devidas providências no sentido
de pensar e fazer diferente. Somente assim, com os poderosos e os
comuns, atuando juntos é que poderemos planejar, de fato, um futuro
melhor para o planeta e para toda humanidade.
Luiz Eduardo Corrêa Lima (62) é Biólogo (Zoólogo), Professor, Pesquisador, Escritor e Ambientalista.
"Uma Visão Onírica sobre a Questão Ambiental Planetária, artigo de Luiz Eduardo Corrêa Lima," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 5/02/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/02/05/uma-visao-onirica-sobre-a-questao-ambiental-planetaria-artigo-de-luiz-eduardo-correa-lima/.
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