por Lúcio Flávio Pinto, Amazônia Real – 29/01/2019
O desastre de Brumadinho – com 60 mortos e 292 desaparecidos, segundo a contabilidade oficial – já é o maior em perdas humanas da história da mineração no Brasil, talvez do mundo também. Mas a de Mariana é a maior enquanto agressão à natureza de todos os tempos.
De fato, o rompimento da barragem da Samarco, em novembro de 2015, provocou o transbordamento de mais de 50 milhões de metros cúbicos (50 bilhões de litros), enquanto a tragédia de Brumadinho despejou 12 milhões de metros cúbicos, quatro vezes menos.
Outro agravante seria a extensão da contaminação. A lama que saiu da barragem de fundão percorreu 830 quilômetros até chegar ao mar, contaminando e espalhando destruição pelo vale do rio Doce, que já foi um dos mais ricos do Brasil.
A lama que foi vertida pelo desmoronamento da barragem do córrego do Feijão está a 46 quilômetros do seu ponto de lançamento e poderia chegar, no máximo, 310 quilômetros além, pelo rio Paraopeba, um dos mais importantes de Minas Gerais.
A massa passará pela termelétrica Igarapé, no quilômetro 46, mas deverá ser retida na represa da usina do Retiro Baixo, 310 quilômetros abaixo. Segundo os cálculos oficiais, o reservatório crescerá quatro metros quando estancar o deslocamento dos resíduos da mineração de ferro. Ainda terá dois metros de folga para manter a contenção, impedindo que o material transborde pela barreira de concreto e avance sobre o rio São Francisco até a usina de Três Marias, a maior de todas.
Esse roteiro já é suficientemente trágico para que se lamente o mal causado. Mas há um risco não abordado pela versão apresentada pelo governo, que se restringiu à ameaça de transbordamento (sem observar que, diante da inevitabilidade dessa hipótese, a outra seria a abertura das comportas da represa).
A pressão sobre a parede de concreto não será de uma massa líquida, mas de uma descarga sólida, muito pesada, à base de terra e rejeito de minério de ferro. Qual o acréscimo de pressão nesse caso? A estrutura de concreto, projetada para determinado volume de vazão líquida da bacia do Paraopeba naquele ponto, estará em condições de suportar a vazão sólida decorrente do rompimento de uma barragem do porte da que se rompeu, 350 quilômetros rio acima, num terreno com acentuado declive?
Dos cálculos necessários para que se chegue a esta resposta é que se pode deduzir o grau da ameaça sobre o São Francisco, o famoso e maltratado rio da integração nacional. (#Envolverde)
A fotografia de destaque deste artigo é do desastre socioambiental em Brumadinho, Minas Gerais.
(Foto: Presidência da República/Divulgação)
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