GDF faz parceria para preservar córregos que abastecem os lagos
O Sistema Agroflorestal (SAF) permite que produtores rurais desenvolvam suas atividades sem desmatar a vegetação nativa
Produtores rurais que vivem nas regiões da Serrinha do Paranoá, no Lago Norte, na ARIE1 da Granja do Ipê, na área do Riacho Fundo, e no Alto Descoberto, em Brazlândia, serão apresentados a uma nova forma de produção que garante a proteção dos córregos que abastecem os dois grandes lagos do Distrito Federal: o lago Paranoá e o reservatório do Descoberto. A ideia é implementar um conjunto de boas práticas e treinar os agricultores para usar o Sistema Agroflorestal (SAF) um método de produção que permite plantar sem a necessidade de desmatar a vegetação nativa.
A
iniciativa faz parte de um projeto do Global Environmental Facility
(GEF) para Cidades Sustentáveis, um fundo gerido pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e coordenado localmente pela Secretaria de Meio
Ambiente do DF (Sema). O GEF Cidades Sustentáveis, como é chamado, é a
prioridade do governador Ibaneis Rocha para a área ambiental nos
próximos quatro anos.
A agrofloresta é
um sistema de plantio de alimentos sustentável e capaz de promover a
recuperação de uma floresta. São formas de usar e manejar a terra que
combinam, de forma simultânea ou sequencial, o plantio de árvores com
cultivos agrícolas e até a criação de animais. Como piloto, a Sema
pretende treinar, com uso de máquinas, 40 produtores rurais das duas
regiões e, assim, garantir a qualidade e a quantidade dos córregos que
deságuam no lago Paranoá e no Descoberto.
“Esses
córregos mantêm nossos lagos de abastecimento público cheios”, explica a
subsecretária de Assuntos Estratégicos da Sema, Alessandra Péres.
“A agrofloresta é muito mais amigável do ponto de vista da proteção do solo, de proteção da vegetação e particularmente na manutenção da infiltração de água e dos afluentes desses dois grandes mananciais de abastecimento do DF Alessandra Péres, subsecretária de Assuntos Estratégicos da Sema
Captação
De
acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), cerca de 60% da
população do DF é atendida pelo sistema do Descoberto e 7%, pelo
sistema de captação do lago Paranoá. Mas já existem estudos em curso da
companhia para aumentar a captação de água do Paranoá.
O
trabalho vai começar pela região da Serrinha do Paranoá, que reúne dez
núcleos rurais em uma área que vai da ponte do Bragueto até o Paranoá.
Neste sábado (16), a Sema promoverá, na Administração do Lago Norte, uma
oficina de sensibilização para os agricultores que vivem no local. O
evento deverá reunir cerca de 100 produtores. Caso sejam selecionados
para participar do programa, eles terão direito ao diagnóstico da
propriedade, com capacitação e implantação das áreas de agroflorestais.
O
objetivo do GEF Cidades Sustentáveis na Serrinha do Paranoá é garantir a
preservação dos córregos Urubu, Gerivá, Palha, Taquari, Tamanduá e
Capoeira do Bálsamo, que deságuam no Paranoá. A região fazia parte do
cinturão verde do DF – concebido por Lúcio Costa para abastecer a
capital com produção local –, mas sofre com a pressão urbana. Há anos a
Administração do Lago Norte, outros órgãos do GDF e lideranças
comunitárias tentam evitar o parcelamento do solo e o adensamento
populacional.
Esse esforço vem se
mostrando bem-sucedido. A região é totalmente preservada. A área ainda é
rural, a água dos córregos é limpa e não há sinais de assoreamento nem
erosão. “Se a gente não tivesse preservado essa área, estaria tudo
ocupado”, explica Nilton Lavoyer, 78 anos, dono de uma chácara de quatro
hectares no Núcleo Rural do Urubu. Em sua propriedade, a Área de
Proteção Permanente (APP) em volta do córrego é cercada e tem vegetação
nativa. Ele cria abelhas e produz limão, goiaba, jabuticabas e manga,
tudo para consumo próprio. “Tenho essa terra desde 1985, mas mantenho
isso aqui para preservar e ter sossego”, conta.
O
engenheiro agrônomo Vitor Ramos Simões, 34 anos, é candidato a receber
as ações do projeto na propriedade da família, de 27 hectares, e já
separou uma área dentro da chácara onde pretende testar a agroindústria.
“Essa região é a mais importante para a recarga do lago Paranoá. Tenho
orgulho em falar que minha chácara é totalmente preservada. Já vi
lobo-guará, veado- campeiro e tatu por aqui”, afirma.
Cidades sustentáveis
Brasília
e Recife foram escolhidas para piloto do projeto GEF Cidades, que
pretende desenvolver soluções tecnológicas, de produção e
compartilhamento de conhecimento para transformar as duas capitais nas
duas primeiras cidades sustentáveis do Brasil. O programa prevê estudos
estratégicos para subsidiar melhor as ações da gestão pública e
iniciativas piloto – a experimentação de novas ideias que podem ser
ampliadas no futuro.
No DF, esse
projeto também prevê estudos sobre a recuperação da área do Lixão da
Estrutural, a elaboração de pesquisas que analisem os impactos das
mudanças climáticas no DF e na Região Integrada de Desenvolvimento do
Distrito Federal e Entorno (Ride), a elaboração de planos de adaptação e
mitigação dos impactos, além da implantação do Fórum de Mudanças
Climáticas do DF. Usinas solares em prédios públicos também serão
testadas, havendo a previsão de recuperar 60 hectares de APPs de
nascentes (50 metros em torno da nascente).
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