O Boletim do Desmatamento (SAD) detectou altos índices de
desmatamento na Amazônia Legal. No período acumulado, que compreende
agosto de 2018 a abril de 2019, foram perdidos 2.169 km² de floresta.
Esse número representa um aumento de 20% da área desmatada em relação ao
mesmo período no ano anterior. Pará (787 km²), Mato Grosso (502 km²) e
Amazonas (353 km²) foram os estados que mais desmataram nestes nove
primeiros meses do calendário de desmatamento 2019.
Em abril de 2019, o SAD detectou 195 km² de desmatamento na Amazônia
Legal. Comparado a abril de 2018, quando o desmatamento totalizou 217
km², houve uma redução de 10%. O período prolongado de chuvas intensas
neste ano pode ter contribuído com a queda do desmatamento, uma vez que
as ações de desmatamento são mais difíceis de serem executadas nessas
condições.
A degradação florestal, prática relacionada ao corte seletivo das
árvores ou queimadas, somaram 102 km². Roraima lidera o ranking com 86%
do total degradado, o equivalente a 88 km².
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Fonte: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/05/2019
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Imazon: Desmatamento na Amazônia aumentou 20% entre agosto de 2018 e abril de 2019
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O presidente Jair Bolsonaro disse ontem (28) que pretende transformar
a Baía de Angra dos Reis, no litoral sul do estado do Rio de Janeiro,
em uma “nova Cancún”, e que, para isso, pretende revogar o decreto que
criou a Estação Ecológica de Tamoios, que fica na região. Foi uma
referência ao balneário mexicano conhecido internacionalmente pela
beleza das praias e os grandes resorts e que atraem turistas do mundo
inteiro. Bolsonaro deu a declaração durante discurso de lançamento da
Frente Parlamentar Mista da Marinha Mercante, no Clube Naval, em
Brasília.
“Nós podemos ser protagonistas de fazer com que a Baía de Angra seja
uma nova Cancún. Temos um potencial enorme ali. Do que nós dependemos
para começar a tirar esse sonho do papel? De uma caneta Bic, revogando
um decreto, o decreto que demarcou a Estação Ecológica de Tamoios”,
disse. O decreto foi editado em 1990 durante o governo do presidente
José Sarney.
Bolsonaro disse que foi alertado pelo ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, que a revogação do decreto talvez teria que passar pela
edição de uma nova lei, o que depende do Congresso Nacional. Segundo
ele, o caso poderá ser decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Passamos pelo meu prezado Dias Toffoli [presidente do STF] decidir essa
questão. Se eu posso revogar uma lei, por que não posso revogar um
decreto? A sorte está lançada. Baía de Angra, se Deus quiser,
atingiremos nosso objetivo”, disse. O presidente do STF, Dias Toffoli,
também estava no evento.
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), a Estação Ecológica de Tamoios é uma unidade de conservação
federal de proteção integral. O local ocupa 5,69% da Baía da Ilha Grande
(principal ilha da Baía de Angra dos Reis) e foi criado para atender a
dispositivo legal que determina que todas as usinas nucleares deverão
ser localizadas em áreas delimitadas como estações ecológicas. Na área
do parque de Tamoios estão proibidas a pesca, o mergulho, a navegação de
embarcações e a construção de qualquer tipo de estrutura como forma de
preservar o ecossistema, que inclui ao menos 10 espécies de peixes
ameaçadas de extinção.
Desburocratização
Bolsonaro disse ainda que pretende atuar pela desregulamentação de
medidas que, segundo ele, atrapalham os investimentos no país. A ideia,
insistiu o presidente, é simplificar o “emaranhado” de legislação
vigente no país, “que poucos entendem e que a muitos inibem investir” no
país.
“O Brasil está cheio de decretos, cheio de portarias, cheio de
instruções normativas. Outro dia ousei tomar conhecimento da quantidade
de instruções normativas só na Receita Federal. Em parte, eu vi que eram
perfeitamente descartáveis, serviam apenas para que alguns poucos,
existem esses poucos em todas as instituições, usassem aquilo em causa
própria para atrapalhar quem quer produzir”, disse.
Por Pedro Rafael Vilela, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/05/2019
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Bolsonaro quer revogar decreto que criou a Estação Ecológica de Tamoios, no RJ
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O estudo foi conduzido por pesquisadores do Centro de Excelência ARC
de Coral Reef Studies (Coral CoE). Seus resultados sugerem que alguns
corais e algas coralinas – a “cola” que mantém os recifes juntos – não
podem sobreviver aos esperados oceanos mais ácidos causados pela mudança
climática .
ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies*
“Os resultados validam pesquisas anteriores sobre ameaças de
acidificação dos oceanos aos recifes de corais”, disse o principal autor
do estudo, Dr. Steeve Comeau, que atualmente trabalha no Laboratório de
Océantropia de Villefranche sur Mer da Sorbonne Université CNRS, na
França.
Co-autor Prof Malcolm McCulloch, de Coral CoE na Universidade da
Austrália Ocidental, disse que os pesquisadores examinaram o líquido
calcificante de quatro espécies de coral e dois tipos de algas
coralinas, sob uma simulação de um ano de duração.
“Os efeitos sobre o fluido calcificante foram rápidos e persistiram durante todo o ano”, disse o professor McCulloch.
O co-autor Dr. Chris Cornwall, agora na Universidade Victoria de
Wellington na Nova Zelândia, explicou que as algas coralinas cimentam os
recifes, agindo como uma espécie de fundação e terreno fértil para
muitas espécies desde os pólos até os trópicos.
“Declínios em algas coralinas podem levar à perda de espécies
marinhas importantes que usam as algas como viveiro”, explicou ele.
“Os resultados também confirmam que a acidificação dos oceanos pode
ter repercussões na competição entre espécies. Isso pode afetar a função
ecológica dos recifes ”, acrescentou Comeau.
Ele disse que a equipe encontrou duas espécies de corais resistentes à
acidificação dos oceanos. No entanto, estes são os corais que eram
resistentes desde o início.
“Isso indica que eles já tinham um mecanismo embutido que os tornava
resistentes”, explicou ele, “enquanto os corais sensíveis foram afetados
desde o início e não foram capazes de se aclimatar”.
O estudo sugere que a composição e a função dos futuros recifes – se
eles sobreviverem às mudanças climáticas – serão muito diferentes do que
vemos hoje.
Referência:
Comeau S, Cornwall C, DeCarlo T, Doo S, Carpenter R, McCulloch M (2019). ‘Resistance to ocean acidification in coral reef taxa is not gained by acclimatization’. Nature Climate Change. DOI: 10.1038/s41558-019-0486-9 https://www.nature.com/articles/s41558-019-0486-9
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/05/2019
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Recifes de coral podem não sobreviver à acidificação dos oceanos
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O
dia 21 de maio de 2019 foi um dia histórico para o povo do município do
Serro, na região do Alto Jequitinhonha, MG, pois durante 5,15 horas
aconteceu Audiência Pública da Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG), na cidade do
Serro, no grande auditório da Escola Municipal Irmã Carvalho. O objetivo
dessa segunda audiência pública – houve outra antes, em Belo Horizonte,
na ALMG – foi discutir as violações de direitos humanos cometidas pela
empresa Herculano Mineração nos Municípios de Serro e Santo Antônio do
Itambé durante a fase municipal de processo de licenciamento ambiental
para a implantação de projeto minerário na região.
A audiência contou
com a presença das Deputadas Estaduais Beatriz Cerqueira (PT) e Andréia
de Jesus (PSOL), que revelaram postura firme na defesa dos direitos
étnicos e territoriais das comunidades quilombolas, garantiram o direito
de fala de todas/os que quiseram se expressar e questionaram com
veemência o projeto minerário que a Herculano Mineração está insistindo
em instalar na região. “Onde chega a mineração instaura crise
hídrica, pois acaba com as águas; os melhores salários não ficam com os
trabalhadores locais, destrói a agricultura familiar, a qualidade de
vida, cresce a violência social, aumenta a demanda para os serviços
públicos e a insegurança pública”, alertou Beatriz Cerqueira. “A
gente precisa desconfiar de um empreendimento econômico que chega ao
município fazendo pressão. O prefeito deve estar ao lado do povo e não
ao lado do capital. Fui empregada doméstica muitos anos. Sei o que é
comer resto de patrão. Sei o que é dormir na fila da escola para
conquistar vaga para estudar. Deputados financiados por mineradoras não
vêm discutir com o povo modelos econômicos alternativos e sustentáveis
ecologicamente para o município que não seja mineração”, alertou Andréia de Jesus.
O
prefeito do Serro, Guilherme Simões Neves (PP), chegou atrasado à
Audiência e saiu no meio da audiência. Após ouvir várias pessoas
questionarem a chegada da mineradora Herculano no município, a fala do
prefeito foi deprimente, pior que Pilatos, pois em palavreado vago
acabou afirmando que manterá a decisão do CODEMA2
pró mineração da Herculano do Serro, mesmo sabendo que a decisão do
CODEMA está eivada de irregularidades, ilegalidades, imoralidades e
inconstitucionalidades, todas muito bem apontadas pelo prof. Dr. Mateus
Mendonça, advogado da Federação Quilombola de Minas Gerais – N’GOLO.
Pela fala do prefeito e de alguns vereadores ficou visível a
subserviência da Prefeitura Municipal do Serro e da Câmara de Vereadores
aos interesses econômicos da mineradora Herculano. Eleitos pelo povo,
devem representar o povo ou o capital?
Durante
a audiência pública, ficaram demonstradas e comprovadas as inúmeras
violações aos direitos das comunidades quilombolas, que, segundo a
Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da ONU,
ratificada pelo Brasil em 2004, têm direito de ser ouvidas antes do
início de projeto econômico que possa impactar seu modo de vida
tradicional, por meio do instituto da Consulta Prévia.
A Comunidade
Quilombola de Queimadas e outras comunidades quilombolas do município
não foram ouvidas antes do CODEMA decidir tentar empurrar goela abaixo o
projeto minerário da Herculano Mineração, autorizando a Declaração de
Conformidade, necessária para a abertura do processo de licenciamento
ambiental do empreendimento junto aos órgãos ambientais. Em alto e bom
som, dezenas de pessoas que falaram ao microfone deixaram claro que se a
mineradora Herculano se instalar no município será o início de uma
grande Sexta-Feira da Paixão para o povo, para a mãe terra, a irmã água,
para a flora e fauna da região. Mineração é projeto de morte,
idolátrico, satânico e diabólico.
Projeto de vida passa pelo
fortalecimento da agricultura familiar, preservação ambiental, turismo
ecológico e cultural, respeito à história, às territorialidades e à
cultura das comunidades locais. A primeira consequência lastimável da
chegada de mineradora em um município é instaurar divisão entre o povo.
Como Caim, na Bíblia, muitos seduzidos pelas vãs promessas da mineradora
acabam optando por um projeto de morte para os irmãos. Uns arrependerão
tarde demais!
O prof. Mateus Mendonça, da PUC/Minas, recordou: “Quero
lembrar a todos que o Serro se formou a partir da mineração de ouro e
diamante e, apesar de a riqueza mineral ter sido extraída pelos
ancestrais dos atuais moradores das comunidades quilombolas, a elite
serrana se recusou a assegurar o respeito, a dignidade e a preservação
do modo de ser das comunidades quilombolas do Serro”. Ao avaliar a audiência, Mateus Mendonça pontuou: “A
audiência pública do dia 21/05/2019 representou o grito dos
subalternizados, que não aceitam mais os mecanismos de exclusão,
opressão e exploração a que foram submetidos ao longo de toda a história
do processo da construção do mundo moderno; não aceitam mais que suas
vidas sejam consideradas desprezíveis e desimportantes; não aceitam mais
que o projeto de desenvolvimento econômico e social da cidade do Serro
desconsidere e extermine a forma de vida quilombola”.
Ao
analisar o projeto de mineração no Serro da Herculano Mineração, o
doutorando Frederico Gonçalves, do Instituto de Geociências da UFMG,
concluiu demonstrando tecnicamente que minerar no Serro causará, sim,
devastação das nascentes e desertificação da região. Mineração e água
são carne e unha; não há como minerar sem devastar as águas. É mentira
dizer que mineração trará impostos para o município. Trará apenas
migalhas de impostos, pois a Lei Kandir isenta as mineradoras do
pagamento de impostos, porque minérios, como todas as commodities para
exportação, são isentos de impostos. É mentira também dizer que a
mineradora Herculano gerará empregos, pois serão poucos os precários
empregos a ser gerados. Muito maior será o número de famílias que
migrarão para o Serro para disputar uma vaga de emprego, que normalmente
é terceirizado e precário. No vizinho município de Conceição do Mato
Dentro, a Polícia Federal e o Ministério Público do Trabalho libertaram
quase duzentos trabalhadores submetidos à situação análoga à escravidão.
O
MAM (Movimento pela Soberania Popular na Mineração) está de parabéns
pela atuação acompanhando as comunidades atingidas pelos megaprojetos de
mineração. Nas/os militantes do MAM, eu vejo presente no nosso meio
Jesus Cristo, Che Guevara, Martin Luther King, Gandhi, Marielle Franco,
Irmã Dorothy Stang e todas/os as/os que fazem opção de classe e dedicam
suas vidas, por amor ao próximo, lutando pela superação do capitalismo,
essa máquina de moer vidas, e mais: construindo uma sociedade do Bem
Viver e Conviver. Lindo ver o amor, o cuidado e a dedicação das/os
militantes das causas socioambientais, enfim, dos direitos humanos
fundamentais.
O
projeto de mineração da mineradora Herculano é “dragão do Apocalipse”
no meio do povo serrano e, se for instalado no Serro, em breve fustigará
também Santo Antônio do Itambé e os lindíssimos lugarejos Capivari,
Milho Verde, São Gonçalo do Rio das Pedras, além do Parque Estadual Pico
do Itambé. Toda a audiência foi momento de muita comoção e indignação.
No dia seguinte, 22 de maio de 2019, acompanhamos as Deputadas Andreia
de Jesus e Beatriz Cerqueira, na visita à Comunidade Quilombola de
Queimadas, quando percorremos juntamente com lideranças quilombolas
lugares que fazem parte de seu território ancestral no entorno da Serra
do Condado (onde se encontra a área indicada para instalação deste
absurdo e covarde projeto minerário) e no vale do rio do Peixe. Lindo
ver a fraternidade quilombola, a lida com a terra, a produção de
alimentos saudáveis e a convivência valorizando as águas e as raízes
culturais. Isso não pode ser sacrificado no altar do ídolo capital.
Logo
após o crime tragédia da VALE/SAMARCO/BHP, a partir de Bento Rodrigues,
em Mariana, dia 05 de novembro de 2015, Fernando Pimentel, então
governador de Minas Gerais, tramitou, em regime de urgência, o PL
2.946/2015 na ALMG, que, sob pressão do lobby das mineradoras, o aprovou
como Lei 21.972/2016. Esta lei FLEXIBILIZOU ainda mais o processo de
licenciamento ambiental em Minas Gerais, já corroído nas gestões
anteriores, do PSDB/PP. Após a Lei 21.972/2016, mais de 200 grandes
projetos de mineração e/ou ampliação de grandes projetos minerários
foram aprovados, contando com as facilidades ampliadas pela nova lei,
atingindo severamente a vida de Minas Gerais e em Minas Gerais. Diante
da exaustão e do colapso que os megaprojetos minerários estão causando
nas condições de vida do povo mineiro e de todos os ecossistemas, é
necessária a revogação COM URGÊNCIA da Lei 21.972/2016 e dos decretos
que a regulamentaram.
Reivindicamos que a Comissão de Direitos Humanos
da ALMG e os/as deputados/as da ALMG se comprometam com a luta pela
revogação da Lei 21.972/2016 com a urgência que o assunto requer. Novos
desastres crimes sob a égide desta lei e de outros percalços legais
anteriores, a exemplo da composição pró-mineradoras dos conselhos de
Meio Ambiente do Estado, levarão ao banco dos réus e à execração da
história os atuais governantes e as legislaturas estaduais que perpetuam
a máquina criminosa e não-isenta do licenciamento em Minas Gerais.
Tive
ainda a alegria de registrar em vídeo a poesia “Perdão, minha querida
Serro!”, de Maria Aparecida Cardoso Simões, que brotou de dentro dela na
noite escura que se seguiu à reunião do CODEMA, dia 17/4/2019, que
deliberou pró instalação da mineradora Herculano no município do Serro.
Eis, abaixo, a poesia, que em breve, publicaremos também em vídeo.
PERDÃO, MINHA QUERIDA SERRO!
Perdão, minha querida serro.
CODEMA fez o seu papel (qual é mesmo seu papel?)
Ao final de cada dia
como sempre faço
assim registrei em meu diário: 17/04/2019.
O dia amanheceu triste
chuvoso lamurioso.
Eu, com um aperto no peito,
ouvi bem próximo
o canto da acauã,
ave agourenta,
com um presságio.
Meu pai, o que será?
Ao final do dia,
lá na praça central,
em frente à Prefeitura e à Câmara
ao ver o rosto de N. Sra. das Dores,
com uma lágrima a rolar,
ao ver seu filho sob a cruz, entendi.
Hoje, você chora, minha querida Serro.
Te apunhalaram pelas costas.
Eu sei, justo numa quarta-feira das dores.
Assim como Jesus pressentiu a traição e chorou.
Terra querida … rasgarão suas entranhas,
te farão sangrar.
Justo você, minha querida Serro,
tão doce e hospitaleira.
A quantos você acolheu.
Quantos aqui fincaram raízes,
cresceram, floresceram e produziram frutos!
Houve comemoração, risos fartos,
mas só quem é apaixonado por ti, mãe, chorou.
Obrigada, minha querida Serro,
por me ensinar a amá-la,
por ensinar minha família a amá-la tanto.
A biologia nos ensina sobre os biomas,
os ecossistemas, a fauna, a flora e as águas.
Ah! As águas. …
Mas é preciso ter sensibilidade,
para perceber que há magia em tudo isso.
E ser muito grato a você, meu pai,
por estes regatos a cantarolar,
essas cachoeiras a lavar a alma,
esse verde e esses lagos
que produzem a bruma fresca da madrugada.
Obrigada, minha querida Serro.
Eu me reverencio a você, mãe terra,
e imploro seu perdão,
pois não fomos fortes o bastante para lhe defender.
Obrigada, minha querida Serro,
pois aqui nasci.
Corri descalça por essas ladeiras a brincar.
Um futuro triste se abre para mim.
Como numa sexta-feira da paixão,
quando Jesus foi traído,
crucificado e morto pela humanidade.
Dá-nos forças para continuar a lutar por ti.
Muitos que não te amam,
após colherem os frutos,
arrancarem suas riquezas, alçarão voo.
mas haverá o tempo em que diante de ti,
meu pai celestial, prestarão contas.
Ai de ti!
Hoje aprendi: acauã não é ave agourenta.
Seu canto triste é o choro de um triste presságio.
Cida,
bateram com a cabeça na parede os podres poderes da política, da
economia e da religião que fizeram a sexta-feira da Paixão, pois Jesus
de Nazaré ressuscitou ao terceiro dia. Assim também o povo serrano está
acordando e se levantará cada vez mais contra esse projeto idolátrico
que a Herculano Mineração insiste em empurrar goela abaixo do povo
serrano. A empresa Herculano Mineração, com suas mentiras, não terá a
última palavra. As forças vivas impedirão que apunhalem de morte a
região serrana, seu povo, a mãe terra, a irmã água e toda a
biodiversidade. Sigamos a luta de cabeça erguida!
Belo Horizonte, MG, 28/5/2019.
Obs. 1: Reportagem da TV Assembleia de MG sobre a Audiência Pública no Serro, MG, dia 21/5/2019.
1
Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG;
licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo
ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI,
SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e
Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.com – www.gilvander.org.br – www.freigilvander.blogspot.com.br – www.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III
2 Conselho Municipal do Desenvolvimento do Meio Ambiente.
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A Petrobras Transporte (Transpetro) foi condenada pela Justiça Federal em São Paulo por crime ambiental em São Sebastião.
A empresa terá que pagar uma multa de R$ 2 milhões e custear projetos
ambientais e obras de recuperação das áreas degradadas e manutenção de
espaço público devido ao vazamento de óleo no canal de São Sebastião e
Caraguatatuba, ocorrido em abril de 2013. O valor da multa será
destinado a órgãos e entidades de proteção ao meio ambiente atuantes nas
praias do litoral norte de São Paulo. A decisão é do juiz federal
Gustavo Catunda Mendes, da 1ª Vara Federal de Caraguatatuba/SP.
Três funcionários da empresa que haviam sido acusados como responsáveis pelo vazamento tiveram a punibilidade extinta.
A empresa foi denunciada pelo Ministério Público Federal (MPF), que a
acusou de causar “poluição hídrica por lançamento de óleo em níveis
tais que resultaram em danos à saúde humana, bem como que provocaram a
mortandade de animais da fauna marítima, dificultando o uso das praias”.
Para o órgão, o dano se deu porque não foram observados os
procedimentos de segurança por parte de seus funcionários.
Em sua sentença, o magistrado manifestou que ficou claro que a
“Transpetro não observou e nem fez bem cumprir os procedimentos e
protocolos de segurança”. Além disso, diz o juiz, fato grave e
reprovável é que “mesmo após a provocação do vazamento dos 3.500 litros
de óleo, não se verifica qualquer alteração ou aperfeiçoamento pela
Transpetro nos procedimentos de segurança, o que conduz a permanência do
elevado risco e vulnerabilidade das atividades”.
Procurada pela Agência Brasil, a Transpetro informou que ainda não foi notificada da decisão.
Por Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/05/2019
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Transpetro é condenada por crime ambiental em São Sebastião, no litoral norte paulista
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Pesquisadores da
Embrapa ressaltam a importância da Reserva Legal (RL) em propriedades
rurais. O documento foi assinado por 116 pesquisadores de 31 unidades da
Embrapa. Uma síntese é apresentada abaixo:
-
A RL cumpre suas funções no âmbito da propriedade rural, na microbacia e
na região onde se insere. Portanto, não deve ser substituível por
Unidades de Conservação, muitas vezes distantes, com outra identidade
ecológica e com permissão de uso intensivo, como as Áreas de Proteção
Ambiental.
-
A RL desempenha papel fundamental na provisão de serviços
ecossistêmicos como polinização, manutenção de inimigos naturais de
pragas agrícolas e balanço hídrico, para boa parte das culturas
agrícolas brasileiras.
-
A RL complementa a conservação de populações e espécies não
representadas nas raras e mal distribuídas Unidades de Conservação do
país, especialmente nos biomas extra-amazônicos.
-
A RL tem função de manutenção da conectividade ecológica e facilitação
do fluxo gênico de populações e espécies silvestres nas paisagens
rurais.
-
A RL representa uma oportunidade de uso econômico da propriedade. Para
isso, é preciso envidar esforços de pesquisa, desenvolvimento e inovação
para estes ambientes. É preciso também avançar na regulamentação da
Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais.
-
A proteção da vegetação nativa do Brasil é valorizada nas relações de
comércio das commodities agrícolas, de modo que retrocessos na
legislação ambiental poderão prejudicar as exportações do agronegócio.
-
É preciso avançar na busca soluções que ampliem a produtividade e a
produção agropecuária, sem avanços destrutivos sobre a vegetação nativa
protegida por lei, buscando sustentabilidade e conservação dos recursos
naturais do país.
Maior apoiador do
ex-ministro Neri Geller, em sua campanha eleitoral, foi Elizeu Zulmar
Maggi Scheffer; sua família, formada por empresários da soja no Mato
Grosso, foi multada pelo Ibama por desmatar área onde está a Fazenda
Iguaçu, em Rondonópolis
Por Leonardo Fuhrmann
O deputado federal Neri Geller (PP-MT) foi escolhido dentro da Frente
Parlamentar da Agropecuária (FPA) para coordenar a comissão de meio
ambiente da frente, a face mais organizada da bancada ruralista. Sua
campanha recebeu dinheiro de pessoas – e de familiares delas – multadas
pelo Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) por desmatamento no Mato Grosso.
O principal doador individual da campanha foi Elizeu Zulmar Maggi
Scheffer, que deu R$ 100 mil.
A autuação dos Maggi Scheffer, grandes
produtores de soja, foi registrada em nome de Eraque Maggi Scheffer, por
destruição da flora na Fazenda Iguaçu, em Rondonópolis. No total,
Geller declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter gasto mais de
R$ 2,4 milhões para se eleger; R$ 1,5 milhão foi doado pela direção
nacional de seu partido.
Geller era braço direito do ex-governador Blairo Maggi, primo dos
Maggi Scheffer, quando ele esteve à frente do Ministério da Agricultura
(2016- 2019), durante o governo Temer. O deputado também chegou ao cargo
de ministro durante o primeiro governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Geller foi preso em Rondonópolis em novembro, acusado de participar
de um esquema de propinas da JBS. Ele passou três dias na prisão.
José Izidoro Corso, que colaborou com a campanha do parlamentar com
R$ 25 mil, foi autuado em Gaúcha do Norte, por desmatar a reserva legal
do Pontal do Piranha. No mesmo município, foi multada ainda Maria
Aparecida Corso Martins e Silva. Ela e Josué Corso Netto também foram
autuados em Paranatinga.
A campanha para a Câmara recebeu ainda recursos de multados em Alto
Garças. Inácio Camilo Ruaro doou R$ 19 mil. Murilo Antonio Ruaro, outros
R$ 10 mil. O multado da família é Ivo Luiz Ruaro. Foram seis autuações
em 2012 e 2014.
No ano passado, Geller declarou à Justiça Eleitoral R$ 9 milhões em
bens. Entre suas propriedades estão uma fazenda de 726 hectares em
Diamantino e outra de 121 hectares em Nova Mutum (grafado
equivocadamente no TSE como Nova Kutuk), além de R$ 2,8 milhões em bens
ligados a atividades produtivas no campo. Ele é um dos parlamentares
latifundiários do Mapa das Terras dos Parlamentares, publicado pelo De Olho nos Ruralistas.
MUNICÍPIOS ACUMULAM DENÚNCIAS DE TRABALHO ESCRAVO
Além do desmatamento, as áreas onde estão localizados esses
municípios têm uma série de outros problemas ligados a questões
agrárias. Alto Garças, Paranatinga e Rondonópolis são citados no Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil como focos de trabalho análogo ao de escravo.
O
levantamento, feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com a Escola
Nacional de Saúde Pública e o Núcleo Ecologias, Epistemologias e
Promoção Emancipatória da Saúde, aponta a monocultura e as madeireiras
como responsáveis pela exploração, que atinge principalmente famílias de
campesinos.
Em Paranatinga, os indígenas Ikpeng lutam para retomar seus
territórios originários. Eles foram transferidos para o interior do
Parque Nacional do Xingu no fim dos anos 60 e a área deles foi tomada
pela agropecuária. Em Diamantino, a luta dos povos indígenas Paresí é
pelo reconhecimento de seus territórios tradicionais.
Ofensas a colegas de
Congresso, derrubada do presidente local do Incra e ameaças a indígenas
fazem parte do estilo do deputado mais votado do Mato Grosso; ele atua
contra a TI Marãiwatsédé, antes invadida por fazendeiros e objeto de
desintrusão em 2012
Por Leonardo Furhmann
A barba longa e desgrenhada e o chapéu enterrado na cabeça, que o
torna parecido com o personagem Urtigão, de Walt Disney, são
características da face mais visível do estilo que fez Nelson Barbudo
(PSL) ser eleito o deputado federal mais votado do Mato Grosso na
eleição passada. Fora da imagem aparentemente folclórica, Barbudo é
visto como uma ameaça aos direitos dos povos originários do estado.
O principal constrangimento é imediato e causa preocupação aos
moradores da Terra Indígena Xavante de Marãiwatsédé, nas proximidades do
município de São Félix do Araguaia. Segundo a Fundação Nacional do
Índio (Funai), Barbudo prometeu invadir a demarcação e devolver o espaço
a agropecuaristas retirados da reserva, em 2012, por decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF). O Ministério Público Federal afirmou, em nota, que vai responsabilizar civil e criminalmente quem tentar invadir a área indígena.
O território foi objeto de desintrusão – expulsão de invasores, entre
eles políticos – durante o governo de Dilma Rousseff. Barbudo nega que
esteja incentivando as invasões. Mas há vídeos em que ele ataca a
demarcação de terras. Ele é apontado por líderes indígenas, entre eles
Vanderlei Temireté Xavante, como um dos principais políticos que ameaçam
a terra indígena.
“Nosso direito à terra já foi reconhecido pela Justiça”, disse Vanderlei Xavante em entrevista ao De Olho nos Ruralistas.
“Nossos ancestrais estavam aqui desde os anos 1920”. Vanderlei aponta o
ex-senador José Medeiros (Pode), segundo deputado federal mais votado,
como outro autor de incitação ao ódio contra indígenas.
Barbudo já mostrou suas garras em Brasília. Depois de não conseguir
emplacar um afilhado político na coordenação estadual do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ele passou a atacar o
engenheiro agrônomo Claudinei Chalito da Silva, que havia sido
escolhido para o cargo pelo presidente do Incra, general João Carlos de
Jesus Corrêa. Chalito é um funcionário de carreira do instituto. Barbudo
tentava emplacar o pecuarista Gilberto Cattani, dono de uma fazenda em
Nova Mutum com 50 cabeças de gado leiteiro, segundo a declaração dele à Justiça Eleitoral em 2018. Cattani foi candidato a deputado estadual pelo PSL no ano passado, mas não conseguiu se eleger.
Se não conseguiu levar o aliado para o cargo, Barbudo conseguiu a demissão
do nomeado, sob o argumento de que ele era ligado ao PT. Na sua
campanha contra Chalito, ele chamou o profissional de “meliante ligado à
esquerda”. O deputado afirmou em abril que os petistas continuam a
dominar os cargos na Funai e no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e defendeu que o governo retire
profissionais “de esquerda” dos cargos de confiança.
PROJETO PROIBIU A PALAVRA CARNE EM PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL
A incontingência verbal tem sido uma característica de Barbudo também
na Câmara. Ele xingou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) de “psicopata”
após ela ter criticado uma carta enviada pelo então ministro da
Educação, Ricardo Vélez, às escolas. Vélez queria que fossem
enviados vídeos ao ministério dos alunos perfilados cantando o hino
nacional e dizendo, em seguida, o slogan de campanha de
Bolsonaro: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. A proposta foi
engavetada após o anúncio do Ministério Público Federal de que Vélez
seria investigado por “improbidade administrativa” em razão da carta. O
ministro foi demitido dias depois.
Maria
do Rosário é a mesma deputada que foi ofendida pelo presidente Jair
Bolsonaro em 2014, quanto ambos eram deputados. Bolsonaro afirmou que só
não “estupraria” a petista porque “ela não merecia” por ser “feia”. O presidente foi condenado a indenizá-la pelas ofensas.
Como legislador, a proposta de Barbudo que ganhou maior repercussão é
a que proíbe o uso da palavra “carne” em produtos de origem vegetal,
como hambúrgueres de soja ou de jaca, consumidos por veganos e
vegetarianos. Para ele, o uso da expressão configura “propaganda
enganosa”. O parlamentar se apresenta como “produtor rural” e é
coordenador de infraestrutura e logística da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA).
Apesar de se apresentar como “produtor rural”, Barbudo não declarou a
propriedade de terras ou de produtos ligados à produção à Justiça
Eleitoral no ano passado. Seu único bem listado é uma carreta de reboque
avaliada em R$ 2,5 mil. Nem o veículo para transportá-la o deputado
alega ter.