Ruralista sem terras, Nelson Barbudo é acusado de incentivar invasões de terra dos Xavante
Por Leonardo Furhmann

O principal constrangimento é imediato e causa preocupação aos moradores da Terra Indígena Xavante de Marãiwatsédé, nas proximidades do município de São Félix do Araguaia. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), Barbudo prometeu invadir a demarcação e devolver o espaço a agropecuaristas retirados da reserva, em 2012, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O Ministério Público Federal afirmou, em nota, que vai responsabilizar civil e criminalmente quem tentar invadir a área indígena.
O território foi objeto de desintrusão – expulsão de invasores, entre eles políticos – durante o governo de Dilma Rousseff. Barbudo nega que esteja incentivando as invasões. Mas há vídeos em que ele ataca a demarcação de terras. Ele é apontado por líderes indígenas, entre eles Vanderlei Temireté Xavante, como um dos principais políticos que ameaçam a terra indígena.

Barbudo já mostrou suas garras em Brasília. Depois de não conseguir emplacar um afilhado político na coordenação estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ele passou a atacar o engenheiro agrônomo Claudinei Chalito da Silva, que havia sido escolhido para o cargo pelo presidente do Incra, general João Carlos de Jesus Corrêa. Chalito é um funcionário de carreira do instituto. Barbudo tentava emplacar o pecuarista Gilberto Cattani, dono de uma fazenda em Nova Mutum com 50 cabeças de gado leiteiro, segundo a declaração dele à Justiça Eleitoral em 2018. Cattani foi candidato a deputado estadual pelo PSL no ano passado, mas não conseguiu se eleger.
Se não conseguiu levar o aliado para o cargo, Barbudo conseguiu a demissão do nomeado, sob o argumento de que ele era ligado ao PT. Na sua campanha contra Chalito, ele chamou o profissional de “meliante ligado à esquerda”. O deputado afirmou em abril que os petistas continuam a dominar os cargos na Funai e no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e defendeu que o governo retire profissionais “de esquerda” dos cargos de confiança.
PROJETO PROIBIU A PALAVRA CARNE EM PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL
A incontingência verbal tem sido uma característica de Barbudo também na Câmara. Ele xingou a deputada Maria do Rosário (PT-RS) de “psicopata” após ela ter criticado uma carta enviada pelo então ministro da Educação, Ricardo Vélez, às escolas. Vélez queria que fossem enviados vídeos ao ministério dos alunos perfilados cantando o hino nacional e dizendo, em seguida, o slogan de campanha de Bolsonaro: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”. A proposta foi engavetada após o anúncio do Ministério Público Federal de que Vélez seria investigado por “improbidade administrativa” em razão da carta. O ministro foi demitido dias depois.

Como legislador, a proposta de Barbudo que ganhou maior repercussão é a que proíbe o uso da palavra “carne” em produtos de origem vegetal, como hambúrgueres de soja ou de jaca, consumidos por veganos e vegetarianos. Para ele, o uso da expressão configura “propaganda enganosa”. O parlamentar se apresenta como “produtor rural” e é coordenador de infraestrutura e logística da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Apesar de se apresentar como “produtor rural”, Barbudo não declarou a propriedade de terras ou de produtos ligados à produção à Justiça Eleitoral no ano passado. Seu único bem listado é uma carreta de reboque avaliada em R$ 2,5 mil. Nem o veículo para transportá-la o deputado alega ter.

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