Alemanha e Noruega estão corretas em bloquear verba para Fundo Amazônia, diz Marina
Guilherme Amado
Em entrevista, a ex-ministra afirma que Moro se anulou ao não de pronunciar sobre Funai
Em entrevista à coluna, Marina afirmou que o erro é do governo de Jair Bolsonaro.
"No momento em que o governo propôs que o dinheiro do fundo fosse utilizado para regularizar terras ilegalmente ocupadas, não só rompe com o objetivo do fundo, como financia as ações que contribuem para a destruição da floresta", disse.
Marina também disse estar decepcionada com Sergio Moro. A ex-ministra, apoiadora durante anos de Moro, disse que o ministro se omite ao não falar publicamente sobre questões ambientais e questões indígenas, a exemplo da Funai.
Para ela, Bolsonaro já rompeu na prática com o Acordo de Paris, e Ricardo Salles é “o pior ministro de Meio Ambiente da história do Brasil”.
Leia a entrevista:
Como avalia a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro?
A palavra "política" está correta, mas precisamos acrescentar "antiambiental". É uma política antiambiental em todos os níveis. É uma profusão de "desfazimento" de tudo o que foi feito ao longo de todas essas décadas. Do professor Paulo Nogueira Batista ao (Rubens) Ricupero, até 2012, quando o desmatamento da Amazônia estava caindo, é a primeira vez na história do Brasil que temos um ministro do Meio Ambiente que é contrário à agenda ambiental, que está no ministério para fazer uma agenda contrária ao meio ambiente. E não só isso, também ao agronegócio, à imagem do Brasil, aos interesses estratégicos do Brasil. É um desmonte. É como se fosse uma sangria desatada.
A Alemanha e a Noruega estão certas em suspender os repasses para o Fundo Amazônia?
O Fundo foi concebido com o objetivo de fortalecer as políticas que ajudam a reduzir o desmatamento da Amazônia e fortalecer a governança socioambiental e o desenvolvimento sustentável. No momento em que o governo propôs que o dinheiro do fundo fosse utilizado para regularizar terras ilegalmente ocupadas, não só rompe com o objetivo do fundo, como financia as ações que contribuem para a destruição da floresta. Esses países estão corretos, porque quem está incorreto é o governo.
O Brasil perde respeito no cenário internacional com essas sinalizações?
Nos últimos seis meses, o Brasil saiu de um sério e respeitável protagonista na agenda ambiental global para um pária ambiental. Isso é muito triste. Lembro quando era ministra e surgia a ideia de que a agricultura brasileira se dava em prejuízo da Amazônia, mostrava um gráfico da economia crescendo a 3%, o agronegócio a 2% e o desmatamento caindo vertiginosamente. Hoje temos economia em recessão técnica e desmatamento fora de controle. E sinalizações contrárias aos acordos assumidos historicamente. O Acordo de Paris está sendo rompido. O governo Bolsonaro já rompeu com ele na prática.
Como avalia o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles?
Posso falar do papel que ele desempenha pessimamente na agenda ambiental, e que é o de mais nefasto em toda a história da proteção ambiental no Brasil.
Ele é o pior ministro do Meio Ambiente que o Brasil já teve?
Sim, é o pior ministro no Ministério do Meio Ambiente que o Brasil já teve. Ele não é o ministro do Meio Ambiente. É um ministro no Ministério do Meio Ambiente.
Qual será o futuro da Amazônia, se o governo insistir nessa postura?
A Amazônia está vivendo uma situação difícil e dramática, que começou a partir de 2012, mas que ganhou uma aceleração assustadora. A Dilma juntou o cal, o Temer botou a pá de cal e agora o Bolsonaro está dando o tiro de misericórdia.
Partidos ambientalistas, como a Rede, terão espaço ou serão engolidos pelo discurso antiambientalista do governo Bolsonaro?
O problema é que somos como o candiru. Se o Bolsonaro não souber o que é um candiru, ele que vá pesquisar. (Candiru é um peixe pequeno encontrado na bacia amazônica. É temido por muito temido porque, uma vez dentro de outros seres, abre suas nadadeiras, o que torna muito difícil a remoção).
Teve alguém do governo que a decepcionou mais do que imaginava?
Não escolhi ninguém desse lugar que não me decepcionasse. Esse tipo de expectativa é fantasiosa, mas ver a omissão do ministro da Justiça na agenda de combate à corrupção, quando se refere ao patrimônio público, é algo que deve decepcionar o Brasil inteiro. Veja o trabalho que foi feito para combater a corrupção do patrimônio brasileiro no caso da Petrobras.
Temos muito mais do que a Petrobras hoje sofrendo a corrupção desenfreada com a grilagem de terra, roubo de madeira, invasão de área, tudo o que é corrupção, e o ministro da Justiça não se sente estimulado para uma "Operação Lava Mato".
Nenhum comentário:
Postar um comentário