quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Periquitos mortos em Manaus foram contaminados por agrotóxicos


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Periquitos mortos em Manaus foram contaminados por agrotóxicos e Ipaam descarta mortes por veneno
 Por: Elaíze Farias | 20/12/2014 às 14:50
O resultado do exame toxicológico realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em periquitos-de-asa-branca (Brotogeris versicolurus), encontrados mortos há 23 dias no entorno do Condomínio Ephigênio Salles, em Manaus, concluiu que os pássaros foram contaminados por agrotóxicos, entre eles, a Ciromazina, que combate a ação de larvas de insetos em lavouras como de alface, mas não apontou se a causa das mortes foi o produto tóxico, também usado em inseticidas.
O laudo da UFMG divulgado neste sábado (20) pelo Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) descartou as suspeitas de envenenamento, segundo o presidente do órgão ambiental do Estado, Ademir Stroski.  Foram examinados mais de 150 agrotóxicos nas amostras das aves mortas, disse Stroski.

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Numa análise preliminar sobre o laudo, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no Amazonas, afirmou à agência Amazônia Real que vai continuar a investigação sobre as mortes de cerca de cerca de 250 periquitos e verificar o nível de contaminação de agrotóxico encontrado nos cadáveres dos animais para saber se foi intencional ou não.
O Ipaam planejava divulgar o resultado do laudo da UFMG na próxima terça-feira (23), antevéspera da celebração do Natal, mas apressou o comunicado para este sábado (20), segundo apurou a Amazônia Real.


Conforme o laudo assinado pela toxologista Marília Martins Melo, do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da UFMG, ao qual a Amazônia Real teve acesso, foram detectados “níveis residuais” de três agrotóxicos, entre eles a Ciromazina, uma substância utilizada para matar larvas, nas amostras de vísceras e músculos de 20 periquitos-de-asa-branca. Em três amostras de aves foram encontrados resíduos de Aletrina e em quatro, de Fenazaquina, também substâncias usadas para combater pragas.


Os periquitos-de-asa-banca, que são abundantes na zona urbana de Manaus e cidades vizinhas, começaram a aparecer mortos no entorno do condomínio de luxo Ephigênio Salles na manhã de 27 de novembro, sendo que neste dia foram 200 pássaros. O caso provocou uma comoção na cidade e repercussão nacional. No dia 29 de novembro, durante manifestação de ativistas da causa animal, mais dez cadáveres foram encontrados. No dia 16 de dezembro a Delegacia de Meio Ambiente recolheu mais 40 aves mortas.


O síndico do condomínio Ephigênio Salles, que não teve o nome revelado pelas autoridades ambientais do Amazonas, foi notificado pelo Ipaam. Ele não se pronunciou sobre o caso, assim como os outros moradores do imóvel, à imprensa.


Contaminação em área agrícola
Segundo a toxologista Marília Martins Melo, os resíduos encontrados nas aves podem significar contaminação por alimento como fruta, grão ou outro produto agrícola onde possa ter sido utilizado os agrotóxicos.


O laudo da UFMG descartou a presença de raticidas anticoagulantes (cumarínicos e derivados da idandiona), substâncias químicas popularmente conhecidas como “veneno para rato”.
“O laudo apontou negativo para o veneno. O resíduo deu agrotóxico e isto merece ser avaliado. Pode ter sido alguma contaminação de alimento em área agrícola ou em qualquer lugar da cidade, mas não podemos afirmar onde as aves ingeriram, pois elas não vão para aquela área dos condomínios para comer, mas para se abrigar”, afirmou o presidente do Ipaam, Ademir Stroski.


O presidente do Ipaam também se disse “cauteloso” ao ser questionado sobre a suspeita de que moradores do condomínio Ephigênio Salles teriam envenenado as aves por meio das telas que protegiam as palmares imperiais.  “Não podemos atribuir isso aos moradores. Se fizermos isso, podemos estar cometendo um grave erro”, disse Stroski.


Ele descartou ter recebido pressão por parte de moradores do condomínio para dar respostas à questão. No imóvel moram políticos, magistrados e empresários.


“Em momento algum isso aconteceu. Ficamos muito independentes. Apenas fomos muito cobrados pela imprensa, que queria saber se já tinha alguma novidade sobre o laudo”, afirmou.


Segundo Stroski, como o laudo não aponta a causa da morte das aves é necessário aprofundar os exames no laboratório da UFMG, inclusive, sobre a presença de metais pesados, tais como mercúrio, chumbo, cadmio e arsênio.


A Delegacia Estadual de Meio Ambiente (Demma) também investiga a suspeita de atropelamento provocado por uma colisão das aves com um veículo de grande porte. Imagens de câmeras de segurança de condomínios foram recolhidas para análises.


Amostras dos animas mortos serão encaminhadas pelo Ipaam para o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), para investigar se as mortes foram provocadas por vírus.


Ibama aguarda resultados
O superintendente do Ibama, Mário Reis, disse que o corpo técnico do órgão avaliará se a contaminação dos periquitos com o agrotóxico Ciromazina foi proposital ou não.
“O que a gente tem que avaliar é o nível dessa contaminação por agrotóxicos. Se foi de um processo comum de alimentação de produto que foi pulverizado com agrotóxicos como vegetais de lavouras ou se foi algo relevante que causou a morte deles”, afirmou.


É esperado também pelo Ibama o resultado de análises de imagens de câmeras de segurança dos condomínios residenciais situados no entorno do local onde apareceram os periquitos mortos. As imagens registraram carretadas em colisão em árvores onde os periquitos dormem.


“Independente do atropelamento, que sabemos que acontece, o problema é o número de animais mortos num dia só. Temos que investigar tudo. A investigação não concluiu. O agrotóxico apontado é utilizado em lavouras. Isso leva a regiões de agricultura onde se cultiva pulverizando com esse agrotóxico. Se está contaminando os animais, pode estar contaminando gente, o solo. Então temos que fazer um levantamento sobre esse produto, pois tem o dono ambiental” afirmou.


Poda das árvores como medida de proteção
Ademir Stroski disse que medidas de proteção das aves estão sendo tomadas. Neste sábado, foram realizadas podas de árvores no entorno dos condomínios da avenida Ephigênio Salles (V-8) para evitar risco de colisão com automóveis.


Na próxima semana, o órgão ambiental vai pedir para a Manaustrans, órgão municipal de trânsito, para que sejam instalados redutores de velocidade na avenida e placas de aviso informando que a área é abrigo de aves.





Entenda o caso
Após os 200 periquitos-de-asa-branca terem sido encontrados mortos em novembro passado no entorno do condomínio de luxo Ephigênio Salles, localizado em área nobre da zona centro-sul da cidade, o Ipaam abriu investigação para apurar suspeitas de envenenamento, intoxicação e ingestão de substância química como causas da mortandade das aves.


Uma investigação policial da Demma foi aberta para apurar o responsável pelo crime ambiental. A Polícia Federal também ofereceu apoio na investigação da Polícia Civil, embora não tenha aberto inquérito.


No dia 29 de novembro ativistas das questões animal e ambiental, professores, servidores públicos e famílias que moram em casas e nos edifícios do entorno do condomínio Ephigênio Salles fizeram um grande protesto no local pedindo investigação e punição dos culpados.


Na ocasião, os manifestantes encontraram ao menos dez periquitos mortos na rua, sem marcas de atropelamento, e outros esmagados por veículos. Também avistaram aves presas nas telas que cobrem as palmeiras imperiais.  Os ativistas chamaram o Corpo de Bombeiros, que retirou pássaros vivos das telas e os encaminhou ao Refúgio Sauim Castanheira, da Prefeitura de Manaus.


No dia 1º de dezembro, o Ipaam determinou a realização de necropsia e do exame toxicológico dos pássaros mortos. Também notificou o síndico do condomínio e coletou amostras das telas das palmeiras imperais para investigar a presença de veneno nelas. O nome do síndico não foi divulgado à imprensa.


Desde o final de 2011, os moradores do Ephigênio Salles combatem a presença de milhares de periquitos-de-asa-branca nas copas das palmeiras imperiais plantadas do condomínio. Com apoio das autoridades ambientais locais, o condomínio colocou telas de proteção nas copas das árvores para afugentar os pássaros.

No dia 02 de dezembro, as telas que cobriam as 20 palmeiras imperiais no entorno do condomínio Ephigênio Salles e impediam o pouso e revoada dos periquitos-de-asa-branca, foram retiradas por determinação do Ipaam A decisão foi comemorada por ativistas da causa animal e ambiental de Manaus nas redes sociais.



Hemorragia acentuada
Necropsia realizada pelo médico veterinário do Ibama, Diogo Lagroteira, constatou hemorragia interna em cinco periquitos-de-asa-branca que foram recolhidos em frente ao condomínio Ephigênio Salles, na zona centro-sul de Manaus.


Em uma nota pessoal, divulgada internamente por e-mail para alguns contatos, incluindo a reportagem da Amazônia Real, Diogo Lagroteria, explicou o resultado dos exames feitos por ele.
“Não vou entrar em detalhes, mas o que observei foi uma hemorragia acentuada em todos eles. Essa hemorragia é compatível com muitas coisas, entre elas intoxicação (que pode ser por veneno, zinco, cobre, tintas) e traumatismo (quedas, pancadas). Ou seja, sem um exame toxicológico é impossível determinar a causa mortis com exatidão e responsabilidade. Somente após recebermos o laudo laboratorial, poderemos dizer o que realmente causou a morte de tantos animais”, disse Lagroteria.


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