O laudo da UFMG divulgado neste sábado (20) pelo Ipaam
(Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) descartou as suspeitas de
envenenamento, segundo o presidente do órgão ambiental do Estado, Ademir
Stroski. Foram examinados mais de 150 agrotóxicos nas amostras das
aves mortas, disse Stroski.
Numa análise preliminar sobre o laudo, o Ibama (Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no Amazonas,
afirmou à agência Amazônia Real que vai continuar a
investigação sobre as mortes de cerca de cerca de 250 periquitos e verificar o
nível de contaminação de agrotóxico encontrado nos cadáveres dos animais para
saber se foi intencional ou não.
O Ipaam planejava divulgar o resultado do laudo da UFMG na
próxima terça-feira (23), antevéspera da celebração do Natal, mas apressou o
comunicado para este sábado (20), segundo apurou a Amazônia Real.
Conforme o laudo assinado pela toxologista Marília Martins
Melo, do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da UFMG, ao qual
a Amazônia Real teve acesso, foram detectados “níveis
residuais” de três agrotóxicos, entre eles a Ciromazina, uma substância
utilizada para matar larvas, nas amostras de vísceras e músculos de 20
periquitos-de-asa-branca. Em três amostras de aves foram encontrados resíduos
de Aletrina e em quatro, de Fenazaquina, também substâncias usadas para
combater pragas.
Os periquitos-de-asa-banca, que são abundantes na zona
urbana de Manaus e cidades vizinhas, começaram a aparecer mortos no entorno do
condomínio de luxo Ephigênio Salles na manhã de 27 de novembro, sendo que neste
dia foram 200 pássaros. O caso provocou uma comoção na cidade e repercussão
nacional. No dia 29 de novembro, durante manifestação de ativistas da causa
animal, mais dez cadáveres foram encontrados. No dia 16 de dezembro a Delegacia
de Meio Ambiente recolheu mais 40 aves mortas.
O síndico do condomínio Ephigênio Salles, que não teve o
nome revelado pelas autoridades ambientais do Amazonas, foi notificado pelo Ipaam. Ele
não se pronunciou sobre o caso, assim como os outros moradores do imóvel, à
imprensa.
Contaminação em área agrícola
Segundo a toxologista Marília Martins Melo, os resíduos
encontrados nas aves podem significar contaminação por alimento como fruta,
grão ou outro produto agrícola onde possa ter sido utilizado os agrotóxicos.
O laudo da UFMG descartou a presença de raticidas
anticoagulantes (cumarínicos e derivados da idandiona), substâncias químicas
popularmente conhecidas como “veneno para rato”.
“O laudo apontou negativo para o veneno. O resíduo deu
agrotóxico e isto merece ser avaliado. Pode ter sido alguma contaminação de
alimento em área agrícola ou em qualquer lugar da cidade, mas não podemos
afirmar onde as aves ingeriram, pois elas não vão para aquela área dos
condomínios para comer, mas para se abrigar”, afirmou o presidente do Ipaam,
Ademir Stroski.
O presidente do Ipaam também se disse “cauteloso” ao ser questionado
sobre a suspeita de que moradores do condomínio Ephigênio Salles teriam
envenenado as aves por meio das telas que protegiam as palmares imperiais.
“Não podemos atribuir isso aos moradores. Se fizermos isso, podemos estar
cometendo um grave erro”, disse Stroski.
Ele descartou ter recebido pressão por parte de moradores do
condomínio para dar respostas à questão. No imóvel moram políticos, magistrados
e empresários.
“Em momento algum isso aconteceu. Ficamos muito
independentes. Apenas fomos muito cobrados pela imprensa, que queria saber se
já tinha alguma novidade sobre o laudo”, afirmou.
Segundo Stroski, como o laudo não aponta a causa da morte
das aves é necessário aprofundar os exames no laboratório da UFMG, inclusive,
sobre a presença de metais pesados, tais como mercúrio, chumbo, cadmio e
arsênio.
A Delegacia Estadual de Meio Ambiente (Demma) também
investiga a suspeita de atropelamento provocado por uma colisão das aves com um
veículo de grande porte. Imagens de câmeras de segurança de condomínios foram
recolhidas para análises.
Amostras dos animas mortos serão encaminhadas pelo Ipaam
para o Instituto Evandro Chagas, em Belém (PA), para investigar se as mortes
foram provocadas por vírus.
Ibama aguarda resultados
O superintendente do Ibama, Mário Reis, disse que o corpo
técnico do órgão avaliará se a contaminação dos periquitos com o agrotóxico
Ciromazina foi proposital ou não.
“O que a gente tem que avaliar é o nível dessa contaminação
por agrotóxicos. Se foi de um processo comum de alimentação de produto que foi
pulverizado com agrotóxicos como vegetais de lavouras ou se foi algo relevante
que causou a morte deles”, afirmou.
É esperado também pelo Ibama o resultado de análises de
imagens de câmeras de segurança dos condomínios residenciais situados no
entorno do local onde apareceram os periquitos mortos. As imagens registraram
carretadas em colisão em árvores onde os periquitos dormem.
“Independente do atropelamento, que sabemos que acontece, o
problema é o número de animais mortos num dia só. Temos que investigar tudo. A
investigação não concluiu. O agrotóxico apontado é utilizado em lavouras. Isso
leva a regiões de agricultura onde se cultiva pulverizando com esse agrotóxico.
Se está contaminando os animais, pode estar contaminando gente, o solo. Então
temos que fazer um levantamento sobre esse produto, pois tem o dono ambiental”
afirmou.
Poda das árvores como medida de proteção
Ademir Stroski disse que medidas de proteção das aves estão
sendo tomadas. Neste sábado, foram realizadas podas de árvores no entorno dos
condomínios da avenida Ephigênio Salles (V-8) para evitar risco de colisão com
automóveis.
Na próxima semana, o órgão ambiental vai pedir para a
Manaustrans, órgão municipal de trânsito, para que sejam instalados redutores
de velocidade na avenida e placas de aviso informando que a área é abrigo de
aves.
Entenda o caso
Após os 200 periquitos-de-asa-branca terem sido encontrados
mortos em novembro passado no entorno do condomínio de luxo Ephigênio Salles,
localizado em área nobre da zona centro-sul da cidade, o Ipaam abriu
investigação para apurar suspeitas de envenenamento, intoxicação e ingestão de
substância química como causas da mortandade das aves.
Uma investigação policial da Demma foi aberta para apurar o
responsável pelo crime ambiental. A Polícia Federal também ofereceu apoio na
investigação da Polícia Civil, embora não tenha aberto inquérito.
No dia 29 de novembro ativistas das questões animal e
ambiental, professores, servidores públicos e famílias que moram em casas e nos
edifícios do entorno do condomínio Ephigênio Salles fizeram um grande protesto
no local pedindo investigação e punição dos culpados.
Na ocasião, os manifestantes encontraram ao menos dez
periquitos mortos na rua, sem marcas de atropelamento, e outros esmagados por
veículos. Também avistaram aves presas nas telas que cobrem as palmeiras
imperiais. Os ativistas chamaram o Corpo de Bombeiros, que retirou
pássaros vivos das telas e os encaminhou ao Refúgio Sauim Castanheira, da
Prefeitura de Manaus.
No dia 1º de dezembro, o Ipaam determinou a realização de
necropsia e do exame toxicológico dos pássaros mortos. Também notificou o
síndico do condomínio e coletou amostras das telas das palmeiras imperais para
investigar a presença de veneno nelas. O nome do síndico não foi divulgado à
imprensa.
Desde o final de 2011, os moradores do Ephigênio Salles combatem
a presença de milhares de periquitos-de-asa-branca nas copas das palmeiras
imperiais plantadas do condomínio. Com apoio das autoridades ambientais locais,
o condomínio colocou telas de proteção nas copas das árvores para afugentar os
pássaros.
No dia 02 de dezembro, as telas
que cobriam as 20 palmeiras imperiais no entorno do condomínio
Ephigênio Salles e impediam o pouso e revoada dos periquitos-de-asa-branca,
foram retiradas por determinação do Ipaam A decisão foi comemorada por
ativistas da causa animal e ambiental de Manaus nas redes sociais.
Hemorragia acentuada
Necropsia realizada pelo
médico veterinário do Ibama, Diogo Lagroteira, constatou hemorragia interna em
cinco periquitos-de-asa-branca que foram recolhidos em frente ao condomínio
Ephigênio Salles, na zona centro-sul de Manaus.
Em uma nota pessoal, divulgada internamente por e-mail para
alguns contatos, incluindo a reportagem da Amazônia Real, Diogo
Lagroteria, explicou o resultado dos exames feitos por ele.
“Não vou entrar em detalhes, mas o que observei foi uma
hemorragia acentuada em todos eles. Essa hemorragia é compatível com muitas
coisas, entre elas intoxicação (que pode ser por veneno, zinco, cobre, tintas)
e traumatismo (quedas, pancadas). Ou seja, sem um exame toxicológico é
impossível determinar a causa mortis com exatidão e responsabilidade. Somente
após recebermos o laudo laboratorial, poderemos dizer o que realmente causou a
morte de tantos animais”, disse Lagroteria.
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