[EcoDebate] Claudio Ângelo afirma que a Fauna da Amazônia presta serviço ambiental de US$ 5 trilhões ao Brasil
Assim um serviço cujo valor é estimado em pelo menos US$ 5 trilhões, quase três vezes o PIB do Brasil, vai sendo literalmente abatido a tiros no norte do país. Trata-se do valor do carbono mantido na Amazônia por grandes animais, como o macaco-aranha e a anta, mortos por caçadores.
A estimativa foi publicada por um grupo de cientistas do Brasil, Estados Unidos e Reino Unido, liderados por um amazônida, o paraense Carlos Peres, professor da Universidade de East Anglia, na Inglaterra.
Estes animais de grande porte, afirma o grupo, guardam a chave para a fixação de parte expressiva do carbono da Floresta Amazônica, que, por sua vez, estoca sozinha metade do carbono das florestas tropicais do planeta. São os responsáveis por dispersar as sementes das árvores de madeira de lei, que têm o maior teor de carbono.
A caça de antas, macacos-aranha e macacos-barrigudos, cuja carne é apreciada nas zonas rurais da Amazônia, pode levar a perdas de 2,5% a 5,8% da biomassa da floresta, em média, chegando a quase 38% em alguns locais onde esses bichos foram extintos pelos caçadores.
Extrapolando esse valor para toda a área da Amazônia, e considerando um valor da tonelada de carbono de modestos US$ 5 no mercado internacional de emissões, Peres e colegas estimaram que estes animais prestam um serviço estimado entre US$ 5 trilhões a US$ 13 trilhões inteiramente de graça, apenas comendo frutos dessas árvores e defecando suas sementes.
Ao fazer isso, ajudam novas árvores de madeira densa a se espalhar pela floresta, retirando carbono do ar por fotossíntese e estocando-o em caule e galhos à medida que crescem.
A conta foi publicada nesta segunda-feira (25/11) no periódico da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Antes que o Ministério da Fazenda resolva bolar um esquema para se apropriar desse valor para tampar o buraco fiscal brasileiro, os autores se apressam em dizer que trata-se de uma estimativa apenas para referência, já que nem todo o carbono da Amazônia é “monetizável”, ou passível de ser transacionado em mercados como crédito. Mesmo assim, afirma Peres, há um valor bem concreto em manter os animais vivos.
“O serviço de dispersão prestado por estes vertebrados florestais vale dinheiro”, disse ao Observatório do Clima.
“Poderia até se pensar num programa de pagamentos por serviços ambientais para subsidiar comunidades locais a manejar melhor seus estoques de caça num regime de manejo comunitário”, afirmou.
O que é urgente, porque ao irem para a grelha, para zoológicos particulares ou mesmo ao serem mortos por esporte, os grandes vertebrados da Amazônia causam perdas de valor e ainda ajudam a aquecer ainda mais o planeta.
Como os caçadores são, em geral, populações pobres ou índios em busca da proteína de cada dia, mas usando armas cada vez mais modernas e vivendo em aldeias cada vez mais sedentárias, o que agrava seu impacto sobre as zonas de caça, vale a pena pagar para que eles racionalizem essa caça.
Este procedimento é estimulado pelo “REDD” (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal).
Este procedimento é estimulado pelo “REDD” (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal).
No estudo, Peres e colegas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade do Estado do Oregon, nos Estados Unidos, usaram computadores e dados de campo de 166 áreas de floresta com e sem pressão de caça para modelar o impacto que a caça na Amazônia brasileira poderia ter.
Depois, modelaram o impacto que a caça praticada por 1 milhão de residências rurais na Amazônia poderia ter, usando como base de dados 2.300 áreas de floresta previamente inventariadas onde a população de árvores era conhecida.
A conclusão dos pesquisadores foi que os grandes primatas comedores de frutas têm suas populações afetadas pela caça em 32% das áreas remanescentes de floresta na Amazônia, e podem sumir completamente de 7,5% da região.
Peres e seus colegas usaram no estudo uma abordagem relativamente nova. A discussão do mutualismo, a interdependência entre plantas e animais na agenda climática. O reconhecimento do papel da fauna na manutenção do carbono florestal foi totalmente ignorado na construção do chamado “REDD+”, o mecanismo de redução de emissões por desmatamento proposto no âmbito da Convenção do Clima e reconhecido no Acordo de Paris. O “REDD+”, por assim dizer, enxerga as árvores, mas não a floresta.
Estudos sobre a importância da fauna para a fixação de carbono e sobre o impacto da caça nas emissões vêm sendo feitos na África e na Ásia, mas até agora nenhum havia sido realizado para a Amazônia, que é justamente o lugar onde o “REDD+” está mais adiantado devido ao monitoramento regular que o Brasil faz do desmatamento.
Na Mata Atlântica, a primeira avaliação da chamada “defaunação” sobre o carbono foi publicado num estudo liderado por Mauro Galetti e Carolina Bello, da UNESP de Rio Claro, que tem Carlos Peres como co-autor. A conclusão é que extinções locais de grandes vertebrados causam perdas de até 3 toneladas de carbono por hectare, ao deixar a floresta mais “rala”.
“O nosso modelo é bem mais conservador, tendendo a uma sub-estimativa de perda de biomassa florestal e carbono”, disse Peres. “Ele leva em consideração somente um grupo morfológico muito mais restrito de plantas que dependem quase exclusivamente de dispersão de sementes por algumas espécies de frugívoros de grande porte que são altamente sensíveis a pressão de caça.”
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
Referência:
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/10/2019
Serviços ambientais da fauna na Amazônia, artigo de Roberto Naime, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/10/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/10/22/servicos-ambientais-da-fauna-na-amazonia-artigo-de-roberto-naime/.
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