Desmatamento na Amazônia sobe 88% este ano. Mas ainda há
tempo de acertar
12.12.2019 • Notícias
Com a pergunta “Será que voltamos aos anos 1990?” pesando na
sala, membros da coletiva organizada pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia), e realizada hoje na 25ª Conferência do Clima da ONU (COP25),
alertaram para a crise ambiental que o Brasil enfrenta atualmente: acréscimos
de 88% nas taxas de desmatamento na Amazônia, entre janeiro e novembro deste
ano, segundo dados dos alertas que monitoram as alterações na região.
Baseado nas informações do Prodes – sistema oficial de
monitoramento do desmatamento na Amazônia –, divulgadas em novembro pelo INPE
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) –, a pesquisadora e diretora de
Ciências do IPAM, Ane Alencar, destacou, contudo, que o dado que mais chamou a
atenção é que cerca de 30% dos focos de incêndios em 2019 ocorreram em terras
não designadas e sem informação. “Em termos de desflorestamento, esse número
representa 40% de todas as derrubadas que tivemos. Isso significa que essas
áreas estão sem governança”, alertou Alencar. “Estamos perdendo nosso principal
patrimônio, nosso tesouro, que são as florestas, para a grilagem”, lamentou
Nesse sentido, a pesquisadora afirmou ainda que, apesar do
fogo ter diminuído nessas áreas, o desmatamento continua avançando e formando
dentro da Amazônia uma bomba latente pronta para queimar o solo. “Nós
ainda temos florestas que foram colocadas no chão, que estão desmatadas, mas
que ainda não foram queimadas. Isso pressupõe que, se nada for feito, teremos
muitos incêndios no próximo ano”, alertou a pesquisadora. “Se não fizermos nada
agora, nós iremos, sim, alcançar os números dos anos 1990”, advertiu.
Endossando o discurso, o diretor executivo do IPAM, André
Guimarães, salientou que é fundamental considerar não apenas a importância do
bioma amazônico para o Brasil e para o mundo, como também para o futuro da
espécie humana: “A Amazônia recicla o carbono, a água e armazena a
biodiversidade”, destacou. “A floresta guarda uma em cada cinco ou seis
condições que a vida encontrou para existir neste planeta pelos últimos três
bilhões de anos. Essa é a importância da Amazônia para a biodiversidade”,
completou Guimarães.
O Brasil já sabe o caminho
A ex-ministra do Meio Ambiente e conselheira honorária do
IPAM, Marina Silva, também presente na coletiva, afirmou, no entanto, que o
Brasil já possui conhecimento, tecnologia e modelos de políticas públicas
eficientes para reduzir as derrubadas e as emissões de CO². “Isso já foi feito.
Em 2004, conseguimos fazer com que a criminalidade de queimadas, desmatamentos
e explorações de madeira ilegais fossem combatidas de forma incisiva, colocando
mais de 725 pessoas criminosas na cadeia, aplicando R$ 4 bilhões em multas e
apreendendo um milhão de m³ de madeira”, relembrou a ministra.
Na ocasião, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-PE)
apresentou um relatório elaborado pela Comissão do Meio Ambiente do Senado
Federal que trazia conclusões a respeito da PNMC (Política Nacional de Mudanças
Climáticas) – instituída em 2009 pela lei 12.187 – e das metas a serem
atingidas pelo Brasil em 2020.
De acordo com o documento, a análise, feita por
especialistas do próprio Senado e da sociedade civil e por acadêmicos, concluiu
que o país não irá alcançar no próximo ano os números acordados com diversas
conferências – especialmente a de Paris – na redução de 80% das taxas de
desmatamento e da emissão do gás carbônico. Apesar da visão pessimista,
Rodrigues também reconheceu que o passado brasileiro já demonstrou que é
possível virar esse jogo, a partir de uma governança e um ordenamento
territorial bem elaborados.
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