sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

O Globo – Nova agenda no meio ambiente é caminho para atrair investimentos / Editorial


Mudança de rumo no conflito com ambientalistas serviria para ajudar na retomada do crescimento

1 Jan 2020

O governo Bolsonaro tem o temerário estilo de tentar fazer na marra aquilo que foi prometido a seus eleitores, não importa se a lei é desrespeitada. Ou mesmo que não seja, mas contrarie o bom senso. A área do meio ambiente tem sido varrida por uma série de atos desmedidos, sob o comando do ministro Ricardo Salles. Entre eles destaca-se a desmontagem do sistema de vigilância e repressão para conter o desmatamento, principalmente na Amazônia, a maior floresta tropical do mundo.

Pressões sobre o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável pelo monitoramento da região por satélites, e a redução da capacidade operacional do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) são parte dessa política de desmonte. E que certamente causará problemas para as exportações do agronegócio brasileiro, barradas em retaliação aos danos causados no meio ambiente por uma exploração irresponsável dos recursos naturais sob a vista grossa do governo Bolsonaro. Concorrentes do país neste mercado devem acompanhar esses erros esperançosos em herdar clientes do Brasil. Avisos não têm faltado ao Planalto.

Esta nova política de descuido com o meio ambiente não atinge apenas a Amazônia. Documentos obtidos pelo GLOBO atestam que o presidente do Ibama, Eduardo Fortunato Bim, contrariou dois pareceres de técnicos do instituto e permitiu o desmatamento de uma área de Mata Atlântica, outro bioma ameaçado — só restam intactos 12,4% da floresta nativa —, no Paraná. Bim atendeu a um recurso da Tibagi Energia a fim de erguer um canteiro de obras às margens do rio Tibagi, para a construção de uma hidrelétrica. O Ibama-PR havia acatado o diagnóstico técnico, mas Bim, numa penada, permitiu o desmatamento, por sinal executado mesmo antes de o presidente do Ibama formalizar sua decisão.

Bolsonaro deve achar que contrariou um bolsão de ambientalistas do PT aparelhados no Paraná. Mas o inventário de ataques do seu governo a políticas ambientalistas aconselha cautela antes de uma conclusão.

Encerrado o primeiro ano no Planalto, o presidente, num saudável balanço do seu trabalho e da equipe, precisaria se convencer de que seu método de governar por conflitos, muito visível no meio ambiente, prejudica a imagem do país e, por decorrência, retarda a atração de investimentos pesados.

Faz o papel de oposição a si mesmo, no momento em que a economia sinaliza que deverá decolar.

Nenhum comentário: