Operações das Forças Armadas na Amazônia continuarão até 2022, anuncia governo federal
“A operação é uma medida urgente, mas não é um esforço isolado. Temos o planejamento para manter a GLO, se necessário, até o final do atual mandado presidencial. As ações estão sendo ampliadas para evitar as queimadas durante o verão amazônico, que já começou e se estende até setembro”, afirmou Mourão.
Recentemente, o vice-presidente disse que esse ano o Brasil deve ter alta no desmatamento, em comparação ao ano passado. Segundo ele, as operações das Forças Armadas na região amazônica deveriam ter se iniciado antes, no começo de 2020.
Os esforços do governo para tentar colocar panos quentes sobre o crescimento nas taxas de desmatamento da floresta acontecem depois que várias entidades empresarias, investidores e companhias do Brasil e do exterior demonstraram preocupação, publicamente, com o assunto, e ameaçaram retirar seus investimentos do país, caso medidas urgentes não sejam tomadas (leia mais abaixo).
Batizadas de “Operação Verde Brasil”, as ações foram estabelecidas através de um decreto, e foram iniciadas em agosto do ano passado, quando incêndios florestais estavam devastando a Amazônia, sem controle, e o assunto ganhou as manchetes internacionais.
Este ano, a Operação Verde Brasil começou em maio. Todavia, conforme mostramos nesta outra reportagem, o custo aos cofres públicos dos dois meses da operação da GLO em 2019 foi de quase R$ 125 milhões.
Para se ter uma ideia de quão alto é este valor, o orçamento anual do Ibama para o trabalho de fiscalização no Brasil inteiro é de R$ 70 milhões.
“Apesar da presença das Forças Armadas na Amazônia, houve crescimento de 12% no desmatamento no mês de maio, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo os alertas do Inpe”, afirma Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede de organizações da sociedade civil, que atua para o progresso do diálogo, das políticas públicas e processos de tomada de decisão sobre mudanças climáticas no país e globalmente.
“As operações das Forças Armadas servem como um remédio para baixar a febre, mas não vão acabar com a doença, que fica cada vez mais forte com os discursos do governo”, completa Astrini.
Outros especialistas concordam que a ação das Forças Armadas na Amazônia deveria ser uma medida paliativa e que somente a implementação de políticas públicas realmente eficazes, e discutidas com todos os setores da sociedade envolvidos na questão, conseguirão reduzir a devastação da floresta.
O Exército não foi treinado para isso e nem possui as ferramentas de inteligência para planejar medidas que funcionem a longo prazo.
Desmonte dos órgãos ambientais
Durante a coletiva em Brasília, Hamilton Mourão afirmou que o governo precisa planejar a recuperação da capacidade operacional dos órgãos de fiscalização.“Eles perderam pessoal por aposentadoria, estão com seus efetivos reduzidos. Nós precisamos aumentar a capacidade deles de modo a que liberemos as Forças Armadas do emprego constante em atividades as quais elas não estão, não é a atividade precípua delas”, admitiu.Mourão fala em “recuperação dos órgãos de fiscalização” mas o que aconteceu desde que Bolsonaro assumiu a presidência foi justamente o sucateamento de órgãos como Ibama e ICMBio. Servidores públicos relatam um cotidiano diário de trabalho em que sofrem com perseguições, censura e exonerações, conforme mostra esta matéria exclusiva produzida pelo Conexão Planeta.
Em maio desse ano, foram exonerados dois chefes de fiscalização do Ibama, no Pará, responsáveis por operações contra garimpos ilegais em terras indígenas. Houve ainda a reestruturação do ICMBio, com a nomeação de vários policiais militares para cargos de chefias – entre eles o próprio presidente da instituição, que já havia assumido em 2019.
Desmatamento coloca em risco a economia brasileira
Nas últimas semanas, o governo de Jair Bolsonaro recebeu uma série de alertas, escritos e verbais, em relação à ineficácia do Brasil para conter o desmatamento, o que já tem gerado sanções comerciais a empresas que atuam no país.A produtora norueguesa de salmão Grieg Seafood, uma das maiores do mundo em seu setor, suspendeu a compra de produtos ligados ao desmatamento brasileiro (leia mais aqui).
Antes disso, empresários do próprio Brasil cobraram ações do governo e alertaram sobre a péssima imagem do governo Bolsonaro no exterior. Em carta, CEOs de companhias como Natura, Ambev, Bradesco, Itaú e Klabin, apontaram potencial prejuízo para a economia brasileira, já tão impactada pela pandemia da COVID-19, caso medidas urgentes não sejam implementadas na área socioambiental.
Houve também o envio de cartas a embaixadores do Brasil por um grupo, com representantes da Europa, Ásia e Estados Unidos, com ativos na ordem de US$ 4,1 trilhões, relatando apreensão com a atual situação ambiental.
E apesar da presença dos militares na Amazônia desde maio, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou dados que revelam que a região teve novo recorde em alertas de desmatamento em junho e aumento de 25% no semestre.
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Foto: divulgação/Fotos Públicas
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e
2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras,
entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta
Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas,
energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em
Londres, vive agora em Washington D.C.
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