Destruição do Pantanal pelas queimadas chegou a quase 3 milhões de hectares – REUTERSNo dia em que a destruição do Pantanal pelas queimadas chegou
a quase 3 milhões de hectares (equivalente à área da Bélgica), oito
países europeus enviaram nesta quarta-feira (16/9) uma carta aberta ao
vice-presidente brasileiro, general Hamilton Mourão, para protestar
contra a política ambiental brasileira.
Os países afirmam que nos últimos anos o desmatamento aumentou no
Brasil em ritmo alarmante e que estão “profundamente preocupados” com os
efeitos dessa destruição para o desenvolvimento sustentável do país.
A carta foi enviada pelos países que participam da declaração de
Amsterdã, uma parceria entre nações para promover sustentabilidade e
cadeias de produção de commodities que não cause a destruição de
florestas. Participam Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Dinamarca,
Noruega, Países Baixos e Bélgica.
“Durante muito tempo o Brasil liderou a redução do desmatamento na
Amazônia através do estabelecimento de instituições científicas
independentes que garantem monitoramento rigoroso e transparente, de
agências de controle competentes e do reconhecimento de territórios
indígenas. Nos últimos anos, no entanto, o desmatamento tem crescido em
ritmo alarmante, como foi documentado pelo INPE (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais)”, diz a carta.
A situação das florestas
Além das queimadas que estão devastando o Pantanal neste mês de
setembro — e cujas origens podem ser criminosas, segundo investigação da
Polícia Federal —, a Amazônia também está sofrendo com devastação
gerada pelo fogo. Em apenas 14 dias, setembro de 2020 já registrou mais
queimadas na Amazônia do que em todo o mesmo mês do ano passado, segundo
o INPE.
Independente e respeitada internacionalmente, a instituição
científica que faz o monitoramento do desmatamento vem sendo criticada e
tratada como “oponente” pelo governo Bolsonaro desde que seus registros
passaram a mostrar aumento na destruição dos biomas. Na segunda (15/9),
Mourão afirmou que “alguém lá de dentro” do Inpe “faz oposição ao
governo”.
“Quando o dado é negativo, o cara vai lá e divulga”, afirmou o vice-presidente.A destruição tem sido registrada também por outras entidades. Segundo
a Global Forest Watch, que mantém uma plataforma online de
monitoramento de florestas, o Brasil foi responsável pela destruição de
um terço de todas as florestas tropicais virgens desmatadas no planeta
em 2019 — foram 1,3 milhão de hectares perdidos.
Fogo no Pantanal pode provocar falta de água ou alimentos para animais – ROGÉRIO FLORENTINO /EPA
Ainda na segunda-feira (14/9), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo
Salles, admitiu que as queimadas no Pantanal tomaram uma “proporção
gigantesca”, mas afirmou que os incêndios estão sendo “fortemente
combatidos”. O ministro havia compartilhado no mês passado um vídeo
negando que houvesse queimadas na Amazônia — as imagens, no entanto,
eram da Mata Atlântica.
Desmatamento dificulta o investimento
Questionada internamente por entidades científicas, ambientalistas
e até pelo Ministério Público, a política ambiental do governo é o
principal ponto mencionado pela carta dos países da declaração de
Amsterdã.
Eles afirmam que as preocupações com a situação ambiental no Brasil
atingem consumidores, negócios, investidores e a sociedade civil na
Europa.
“Na Europa, existe um legítimo desejo de que os alimentos à
disposição sejam produzidos de forma justa, ambientalmente segura e
sustentável”, afirma a carta. “Fornecedores, comerciantes e investidores
estão respondendo (à essa preocupação) incorporando esse desejo em suas
próprias estratégias corporativas.”
O desmatamento no Brasil está tornando cada vez mais difícil para que
empresas e investidores mantenham seus critérios de sustentabilidade,
diz a carta.
“Nossos esforços coletivos para gerar mais investimento financeiro em
produção agrícola sustentável (…) também poderia dar apoio ao
crescimento econômico brasileiro”, afirmam os países. “No entanto, já
que os esforços europeus buscam formar cadeias de produção livres de
desmatamento, a atual tendência de desmatamento no Brasil está está
tornando cada vez mais difícil para que empresas e investidores
mantenham seus critérios de sustentabilidade.”
“No passado, o Brasil mostrou que é capaz de expandir a produção
agrícola ao mesmo tempo em que reduz o desmatamento”, também afirma o
documento.
As nações que assinam o documento afirmam que “esperam um
comprometimento renovado e firme do governo do Brasil para reduzir o
desmatamento que seja refletido em ações reais e imediatas”.
Os países afirmam também que estão prontos para discutir formas de
ajudar o Brasil a melhorar a sustentabilidade e dar suporte a um “setor
agrícola sustentável” no país.
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