quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Organizações denunciam manobra para beneficiar grileiros em RO

 WWF

Organizações denunciam manobra para beneficiar grileiros em RO



04 dezembro 2020    
Projeto de lei pretende entregar 161 mil hectares de áreas protegidas na Amazônia a criadores de gado que expulsaram seringueiros com o uso de violência

Por WWF-Brasil


Mais de 50 organizações da área socioambiental protocolaram manifestação na Assembleia Legislativa de Rondônia contra projeto de lei (PLC nº 80/2020), que pretende diminuir duas UCs (Unidades de Conservação) estaduais onde vivem índios isolados: Reserva Extrativista Jaci-Paraná e Parque Estadual Guajará Mirim. O projeto, de autoria do governo do estado, se aprovado, retirará 161 mil hectares das duas áreas públicas.

O objetivo é repassar as terras desmembradas para criadores de gado e desmatadores que têm invadido as unidades de conservação nos últimos 20 anos.  As organizações, entre elas o WWF-Brasil, exigem que o projeto seja arquivado, que os invasores sejam retirados das UCs –como determinam a lei e decisões judiciais– a recondução das comunidades tradicionais aos seus territórios e a apreensão do gado criado nas UCs, para leilão e aplicação dos recursos na recuperação das áreas degradadas.

A manifestação das entidades informa que seringueiros foram expulsos da Jaci-Paraná com violência por jagunços armados a serviço dos grileiros: “Entregar essas áreas aos invasores é premiar e legitimar a ação do crime organizado no Estado. É assumir que o crime compensa e incentivar novas invasões em outras unidades de conservação, a exemplo do que ocorre na Resex Aquariquara e outras reservas na região de Machadinho e Vale do Anari. A desafetação dessas unidades impacta diretamente as Terras Indígenas Uru-eu-wau-wau, Karipuna, Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão, Karitiana e os povos que estão em isolamento voluntário na região que envolve as áreas protegidas, ameaçando a integridade física, cultural e territorial podendo levar à eminência de um genocídio de culturas milenares”.

Ainda segundo a nota: “Entendemos que as unidades de conservação não são empecilho para o desenvolvimento e que, ao contrário, podem ser aliadas na geração de emprego e renda, como por exemplo, na exploração sustentável da biodiversidade. O ataque a elas mostra ao Brasil e ao mundo que o estado não está preocupado em cuidar da Floresta Amazônica, nosso maior patrimônio”.

A Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Neidinha Bandeira Cardoso, fez um chamamento, em audiência pública promovida pela Assembleia para debater o projeto, nesta quarta, 2, para o fim dos ataques às unidades de conservação no estado. “Este estado tem que parar de premiar quadrilhas que grilam terras públicas. Espero que esta casa de leis não compactue com a bandidagem”, disse, lembrando da presença de comunidades indígenas nas áreas. “Deputado não pode apoiar genocídio, não pode apoiar descumprimento da lei. Deputado é eleito para fazer e para cumprir a lei”, disse. Leia aqui a íntegra da nota.

O Parque Estadual de Guajará-Mirim é uma das 117 unidades de conservação da Amazônia que recebem recursos do Arpa (Programa Áreas Protegidas da Amazônia), um arranjo entre governo federal, governos estaduais, iniciativa privada e organizações da sociedade civil para consolidar a gestão dessas áreas. O programa tem apoio financeiro do GEF (Global Environment Facility), do Banco Mundial e da Fundação Gordon e Betty Moore, entre outros.
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