quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Deep learning ajuda cientistas a olharem fogo no Brasil com lupa

 https://ipam.org.br/deep-learning-ajuda-cientistas-a-olharem-fogo-no-brasil-com-lupa/

Deep learning ajuda cientistas a olharem fogo no Brasil com lupa




10.02.2021 • Notícias


Cerrado é o bioma mais ameaçado do Brasil atualmente. 

Um artigo científico publicado nesta semana por pesquisadores do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e da Universidade de Brasília propõe uma nova abordagem para mapear as marcas do fogo no Brasil. O trabalho, publicado na revista especializada “Remote Sensing Applications: Society and Environment”, utiliza deep learning para facilitar o processamento de imagens sem perda na qualidade e na confiança da informação, e com uma sensibilidade melhor às cicatrizes de queimadas deixadas no solo. Com isso, é possível obter o mapeamento da área queimada com mais detalhe.

Com acurácia de 95%, o novo método detectou 115% mais áreas queimadas no bioma do que o método utilizado pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e 57% mais área queimada do que o Modis Burned Area, da Nasa. Essa diferença se deve ao uso de todas as imagens disponíveis do Landsat (com resolução de 30 metros e frequência de 16 dias), que ainda têm melhor resolução das obtidas com o sensor Modis (com resolução de 500 metros), e a possibilidade de processar um grande volume de dados em um curto espaço de tempo.

Deep learning é uma forma de “ensinar” máquinas a partir de redes neurais artificiais. Para desenvolver e validar o método, os cientistas usaram imagens do satélite Landsat-8, amostras de treinamento e algoritmos de deep learning, implementados no Google Earth Engine, para avaliar quanto foi afetado por queimadas e incêndios florestais no Cerrado em 2017, além de descobrir onde o fogo aconteceu: em vegetação nativa ou em áreas com atividades agropecuárias.

“O desenvolvimento de uma nova metodologia para mapeamento de áreas queimadas com uso de sensoriamento remoto e aprendizado de máquinas permite um alto potencial para a construção de longas séries temporais de áreas afetadas por fogo”, explica a pesquisadora do IPAM Vera Arruda, que liderou o trabalho. “Essa linha de trabalho pode ser útil para estimar emissões de carbono, impactos ambientais, analisar as interações entre o clima e as causas ecológicas do fogo e desenvolver modelos preditivos de risco de incêndios, fornecendo assim informações espaciais que auxiliam nas políticas públicas, no manejo do fogo e em ações para a conservação.”

A nova abordagem já foi utilizada para calcular a evolução da área queimada no Brasil entre 2000 e 2019, lançada em dezembro pela iniciativa MapBiomas Fogo (http://plataforma.mapbiomas.org). Segundo a análise, nos últimos 20 anos 1,5 milhão de quilômetros quadrados do Brasil, ou cerca de 17,5% de seu território, queimou pelo menos uma vez.


Leia o artigo científico.

 

Especialistas debatem possíveis impactos de acordo comercial com UE

 

https://ipam.org.br/pt

22.02.2021 • Notícias
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O primeiro episódio da série OCAA Webinários (Observatório de Comércio e Ambiente na Amazônia) foi ao ar na última sexta-feira (19) aprofundando o debate sobre as possíveis consequências do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia para a floresta amazônica. O documento, assinado em 2019, após duas décadas de negociações, ainda precisa ser ratificado pelos 31 Estados envolvidos para entrar em vigor. Questões ambientais que envolvem a Amazônia estão entre os principais entraves para sua confirmação.

O programa debateu dois estudos sobre o tema, que chegaram a conclusões diferentes sobre a relação desflorestamento e desenvolvimento econômico — Is the EU Mercosur Agreement Deforestation Proof?, publicado pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), e Sustainability Impact Assessment, da London School of Economics.

Conforme destacou a especialista sênior em análise ambiental da universidade britânica, Stefania Lovo, entre 2003 e 2012, houve uma queda no desmatamento no Brasil. No período seguinte, de 2012 a 2018, foi registrado um leve aumento, enquanto em 2019, o país teve um “aumento significativo” em áreas devastadas.

Ela destacou que a queda foi uma resposta a iniciativas politicas apropriadas e defendeu evidências de que o aumento na produção de soja e carne não está necessariamente atrelado à perdas ambientais.

Lovo salientou que o acordo deve aumentar o crescimento do setor agrícola e que o futuro do meio ambiente no Brasil depende mais de políticas públicas do que do acordo em si. A pesquisadora rebateu críticas de que o país poderia afrouxar regras de sustentabilidade. “Sem o acordo, como seria? Ficaria melhor?”, indagou.

Por outro ângulo

Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon, uma das organizações membro do OCAA, apresentou o estudo Is the EU Mercosur Agreement Deforestation Proof.

Ele destacou um levantamento que observou aumento significativo no desmatamento em 189 países, três anos após acordos comerciais internacionais serem firmados e entrarem em vigor. O estudo traça uma geografia da perda ambiental, avaliando diferentes cenários e a elasticidade comercial dos produtos comercializados nessas regiões.

Cauteloso sobre os desdobramentos do pacto comercial, Barreto afirmou que “de fato, o Brasil poderia produzir sem desmatar”. Ele acrescentou, porém, que as atuais condições políticas do país indicam um risco real de um efeito contrário, produzindo um aumento no desmatamento.

O webinário foi mediado pelo coordenador de comunicação do Observatório do Clima, Claudio Angelo, e pode ser acessado, na íntegra, no canal do OCAA no Youtube.

Para mais estudos como esses e para acompanhar o debate sobre comércio e Amazônia, conheça o site do OCAA.

Controlar el clima mundial para 2035: el objetivo que China ya puso en marcha

 

Controlar el clima mundial para 2035: el objetivo que China ya puso en marcha

China tiene años ensayando cómo provocar o detener lluvias, lo logró en el año 2008 durante la clausura de los Juegos Olímpicos en Pekín para evitar cancelar la ceremonia

Leyenda: China usa aviones cargados con yoduro de plata para bombardear nubes y provocar las lluvias. (Twitter)

Los planes de China para consolidarse como potencia mundial cubren varias aristas. Mucho se ha hablado de su incursión en la tecnología, la política, la economía y la salud, pero otro tema está en marcha sin que se hable demasiado al respecto: el control del clima.

Aunque raya en una película de ficción, el país asiático lo viene practicando desde hace algunos años. El mundo vio un adelanto en los Juegos Olímpicos del 2008 en Pekín. Los meteorólogos alertaban posibles lluvias durante la ceremonia de clausura y para no dañar la fiesta, ocho aviones cargados de químicos despegaron de una base en la ciudad de Zhangjiakou, provincia de Hebei. Al mismo tiempo se lanzaron nueve tandas de cohetes (241 en total) con químicos, según el reporte de EFE. La ceremonia transcurrió sin contratiempos. Ese año Pekín aseguraba que podía provocar lluvia artificial en un tercio de su territorio.

La apuesta se redobla para 2025, cuando el régimen espera cubrir 57 % de su territorio para provocar lluvias o nieve. Si quiere eliminar granizo, podrá hacerlo en 580.000 kilómetros cuadrados.

El año 2035 pinta de otra manera: la modificación del clima desde China debería llegar a un nivel mundial «avanzado» en términos de operación, tecnologías y servicios, según una nota publicada por el Consejo de Estado de ese país.

«Robo de agua»

Aquella nota de EFE detallaba que los químicos utilizados suelen ser diatomita (una sustancia secante) para frenar la lluvia, o yoduro de plata si lo que se desea es acelerar la llegada de precipitaciones.

Una iniciativa similar fue usada por Estados Unidos en el Proyecto Stormfury de 1962 a 1983 para calmar los ciclones tropicales sembrándolos con yoduro de plata hasta que el proyecto fue cancelado. En la misma década de los años 60, China habría comenzado sus propios ensayos.

El régimen chino enumera planes como proteger la agricultura, estimación de desastres como la sequía y caída de granizos o controlar incendios forestales. Pero tal como ocurre con muchos planes de China, las suspicacias están a la orden del día.

Hasta el momento no hay evidencia de «robo de agua» hacia otros países, pero tampoco ha habido «siembras» tan grandes que sean capaces de comprobarlo. Por ello se genera un debate sobre hasta dónde llegará el plan de China. El razonamiento pertenece a Andrea Flossmann, copresidenta del grupo especializado en modificación del clima de la Organización Meteorológica Mundial. «Deberá monitorizarse”, declaró la experta a La Vanguardia.

Flossmann reseña que otros países como Israel también lo hacen. Mientras que Francia, Rusia, Rumania o Moldavi trabajan en programas para la prevención del granizo por el cambio climático.

La amenaza para países vecinos

Desde 2012 a 2017 China había asignado 8800 millones de yuanes (1340 millones de dólares) para apoyar programas de modificación del clima, indicó en ese momento la agencia Xinhua.

La nota de La Vanguardia menciona otro punto para tener en cuenta dentro del plan chino y son las técnicas que está usando incluso en la cordillera del Himalaya, donde nacen sus tres grandes ríos, el Yangtsé, el Mekong y el Amarillo.

En torno al río Mekong gira un problema que tiene años. Las enormes represas chinas limitan la cantidad de agua a las poblaciones vecinas, secan los cauces cercanos dejándolos sin pesca y matan a las especies acuáticas. Un reportaje de The New York Times retrata las penurias de los pobladores.

Esto, sumado a que las lluvias podrían abarcar otros países sin que las necesiten, se convierten en un serio problema hídrico para esa región según Xulio Ríos, director del Observatorio de la Política China que declaró el medio español.

La India es un claro ejemplo de esta situación, el monzón de verano es un evento clave porque pone fin a meses de sequía y es recibida con alegría entre los hindúes. Más lluvias solo podrían traducirse en tragedia.

«Uno de los factores impulsores del monzón es la diferencia de temperatura entre la meseta tibetana y el océano Índico. Así que si realizaras cambios significativos en la meseta tibetana, como están planeando algunos (…), creo que eso sí podría tener efectos bastante drásticos», explicó Dhanasree Jayaram, experta en clima de la Academia Manipal de Educación Superior en Karnataka, en declaraciones a BBC.

Otro problema es la poca claridad de quién está «sembrando de nubes». Lo que sí es evidente es que China apuesta por cubrir todo el planeta para 2035, según el comunicado de sus autoridades emitido en diciembre de 2020.

 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Meio ambiente: Quando mudar pode deixar as coisas piores que estão

 

Meio ambiente: Quando mudar pode deixar as coisas piores do que já estão

Com informações da New Scientist - 23/07/2018


Faca de muitos gumes

Todos conhecem as questões ambientais e sua urgência, e muitos já concordam em fazer sua parte.

Infelizmente, aderir à última moda no movimento ambientalista nem sempre é o caminho adequado para salvar o planeta.

Por exemplo, cortar a carne e os laticínios da sua dieta é uma abordagem válida para reduzir sua pegada ambiental, mas afastar-se do mundo animal não parece ser a melhor opção quando se trata do seu guarda-roupa.

Acontece que as alternativas para as peles e o couro podem simplesmente redirecionar os danos para as criaturas marinhas, porque essas alternativas são feitas de outro ecovilão: o plástico. Os indícios ainda são iniciais, mas apontam que, para o vestuário, alguns tecidos animais podem ser a escolha menos prejudicial para o meio ambiente.

Já se demonstrou também que trocar as sacolas plásticas descartáveis por uma sacola de algodão reutilizável só passa a fazer diferença depois que você a usar 131 vezes. Isso se deve à grande carga ambiental do algodão, que também é o grande responsável pela pegada ambiental das roupas, sem contar seu histórico devastador no uso de agrotóxicos.

Os biocombustíveis também têm sido largamente aclamados como uma alternativa ambientalmente correta aos derivados do petróleo, mas os dados mostram que cultivar plantas para transformá-las em combustível para carros leva ao desmatamento e ao aumento das emissões de carbono.

Trocamos as lâmpadas incandescentes, que gastavam muita energia, por lâmpadas fluorescentes compactas, mas nunca houve um estudo sobre o ciclo de vida dessa substituição, o que deveria ter incluído reciclar seu material eletrônico - o que já sabemos é que "democratizamos" o perigoso mercúrio por todo o planeta.

Também tentamos eliminar os gases usados em geladeiras e ar-condicionados que destroem a camada de ozônio, mas a emenda saiu pior do que o soneto, e os gases que salvaram camada de ozônio agora são acusados de ameaçar o clima, sem contar que também provocam chuva ácida.

Apenas análises iniciais sobre as propostas de geoengenharia, por sua vez, mostram que a geoengenharia climática vai afetar sobretudo os países mais pobres e pode ser um beco sem saída, já que não poderia ser interrompida.

Então o que devemos fazer? Continuar procurando alternativas. Dá trabalho, mas, a longo prazo, é a única escolha que vale a pena fazer.

Guerra contra o plástico está nos distraindo de ameaças mais urgentes, alertam especialistas

 

Guerra contra o plástico está nos distraindo de ameaças mais urgentes, alertam especialistas

Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/11/2020






Guerra contra inimigo errado

Uma equipe de importantes especialistas ambientais lançou um alerta de que a "guerra contra os plásticos" sendo atualmente travada no mundo todo está eclipsando ameaças muito maiores ao meio ambiente.

O painel de 13 especialistas afirma que, embora os resíduos de plástico sejam de fato um problema, sua proeminência na preocupação da mídia e do público em geral com o meio ambiente está ofuscando ameaças maiores como, por exemplo, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.

O argumento é que muito do discurso em torno dos resíduos plásticos é baseado em dados que nem sempre são representativos dos ambientes que foram amostrados - por exemplo, recentemente se comprovou que não há tanto plástico nos oceanos quanto se temia.

Os autores alertam que a poluição do plástico passou a dominar a preocupação do público com o meio ambiente e tem sido explorada politicamente, por exemplo, por meio de imagens emotivas da vida selvagem envolvida com lixo plástico e de manchetes alarmistas.

E isto é sério porque a aversão da população ao plástico pode encorajar o uso de materiais alternativos que têm efeitos potencialmente mais nocivos, algo que já aconteceu no caso dos gases projetados para salvar a camada de ozônio e que agora ameaçam o clima, e das lâmpadas fluorescentes compactas, que disseminaram o mercúrio por todo o planeta.

Alternativas que pioram as coisas

A equipe destaca que o plástico não é o único tipo de material poluente oriundo da atividade humana que contamina o meio ambiente. Outros exemplos incluem as fibras têxteis naturais, como algodão e lã, partículas carbonáceas esferoidais (restos de combustíveis fósseis) e partículas de desgaste dos freios de veículos - todas presentes em locais diferentes, onde podem ter efeitos ambientais adversos.

Esses materiais são frequentemente muito mais abundantes do que os microplásticos e alguns, como vidro, alumínio, papel e fibras naturais, estão associados a "plásticos alternativos" que são comercializadas como soluções para a poluição do plástico tradicional, mas na realidade são um passo para o lado, que não muda as práticas de consumo que estão na raiz do problema. Os impactos ecotoxicológicos de alguns desses materiais são menos conhecidos do que a poluição por plásticos e microplásticos, mas podem ter impactos significativos, diz a equipe.

Os autores do artigo apelam à mídia para garantir que as realidades da poluição do plástico não sejam deturpadas, particularmente na divulgação pública do problema, e exortam os governos a minimizar o impacto ambiental do consumo excessivo, por mais inconveniente que seja, por meio do projeto dos produtos, e da gestão de resíduos verdadeiramente circular.

"Estamos vendo um engajamento sem precedentes por parte do público com as questões ambientais, particularmente a poluição do plástico, e acreditamos que isso representa uma oportunidade em uma geração para promover outras questões ambientais potencialmente maiores. Este é um momento chave para destacar e abordar áreas como a 'cultura de jogar fora' da sociedade e reformular a gestão dos resíduos. Porém, se continuarmos a priorizar o plástico, essa oportunidade será perdida - e com grande custo para o nosso meio ambiente," ressaltou o professor Tom Stanton, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.


 

Veja um bilhão de anos do movimento tectônico da Terra em 40s

 https://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=veja-bilhao-anos-movimento-tectonico-terra-40s&id=010125210209#.YDYLcVQzaUk


Veja um bilhão de anos do movimento tectônico da Terra em 40s

Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/02/2021

Tectônica de placas acelerada

Uma equipe internacional de geólogos criou um   ídeo que mostra em 40 segundos o movimento ininterrupto das placas tectônicas da Terra no último bilhão de anos.

O vídeo revela um planeta em movimento constante conforme as massas de terra se movem ao redor da superfície do planeta, por exemplo, mostrando que a Antártica já esteve no equador.

"Apresentamos, pela primeira vez, um modelo de placa inteira contínua abrangendo 1 bilhão de anos [atrás] até os dias atuais, incluindo um modelo revisado e melhorado para o Neoproterozóico-Cambriano (1000-520 milhões de anos) que se conecta com os modelos do Fanerozoico, abrindo assim os tempos pré-Gondwana para análises quantitativas e outros refinamentos regionais," escreveu a equipe.

Mais do que uma curiosidade educativa, o trabalho fornece uma estrutura de pesquisa para a compreensão da habitabilidade do nosso planeta e até mesmo para localizar recursos metálicos críticos para viabilizar um futuro de baixo carbono.

"Em uma escala de tempo humana, as coisas se movem em centímetros por ano, mas, como podemos ver na animação, os continentes estiveram em todos os lugares no tempo. Um lugar como a Antártica, que vemos como um lugar frio,inóspito e gelado hoje, na verdade já foi um ótimo destino de férias no equador," disse Michael Tetley, da Universidade de Sydney, na Austrália.

"O planeta Terra é incrivelmente dinâmico, com sua superfície composta de placas que se chocam constantemente de uma forma única entre os planetas rochosos conhecidos. Essas placas se movem na velocidade do crescimento das unhas, mas quando um bilhão de anos se condensam em 40 segundos o que se revela é uma dança hipnotizante. Os oceanos se abrem e fecham, os continentes se dispersam e se recombinam periodicamente para formar supercontinentes imensos," acrescentou seu colega Sabin Zahirovic.

Berço que balança

Este modelo de um bilhão de anos permitirá que os cientistas entendam melhor como o interior da Terra se convecta, se mistura quimicamente e perde calor por meio do espalhamento do fundo do mar e do vulcanismo.

O modelo também ajudará a entender como o clima mudou, como as correntes oceânicas se alteraram e como os nutrientes fluíram das profundezas da Terra para estimular a evolução biológica.

"Colocando em termos simples, este modelo completo ajudará a explicar como nosso lar, o planeta Terra, se tornou habitável para criaturas complexas. A vida na Terra não existiria sem as placas tectônicas. Com este novo modelo, estamos mais perto de entender como este lindo planeta azul se tornou nosso berço," disse o professor Dietmar Müller.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Obra na praia de Matinhos, no litoral do Paraná, recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental

 

 

Obra na praia de Matinhos, no litoral do Paraná, recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental


4 de dezembro de 2020 Observatório de Justiça & Conservação

Obra em praia do litoral do Paraná recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental
Obra em praia do litoral do Paraná recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental

O anúncio das obras de revitalização da praia de Matinhos, no litoral do Paraná, foi feito com grande alarde. Imagens e vídeos simulam o resultado para convencer a população pela estética do projeto. Mas sobre os detalhes técnicos e como será a execução, pouco foi apresentado. A reação da comunidade científica foi imediata. O impacto ambiental, social e paisagístico da proposta será imenso e não há licenciamento ambiental para as intervenções propostas. O que existe é um licenciamento para outro projeto, de 2009, totalmente diferente e com impactos bem menores do que o desenho atual.

A obra tem um custo estimado de R$ 513 milhões, o que significa também um maior endividamento do Estado. O empréstimo será feito junto ao Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, conta que será paga com dinheiro público e que ficará a cargo dos próximos governos. Já a manutenção do empreendimento deverá ficar sob responsabilidade do município e não é barata, pelo contrário.

A engorda de praia, na prática, é o alargamento da faixa de areia com obras de aterramento e colocação de areia dragada de outro local. O projeto do Estado prevê a colocação de blocos de rocha compactados em uma faixa de 8 km, na Avenida Atlântica e Avenida Beira Mar.

As imensas barreiras da costa até o mar mudam a dinâmica do oceano e causam um grande impacto visual e ambiental. O projeto atual prevê um par de guias-correntes no canal da Avenida Paraná, outro par na foz do Rio Matinhos e um terceiro par na foz de um canal artificial a ser escavado no Balneário Saint Etienne.

A obra prevê, ainda, um espigão ao Norte da Praia Brava, e dois headlands (espigões com alargamento na extremidade voltada para o mar) localizados nos balneários Riviera e Saint Etienne. Também estão previstas a reposição de areia com engordamento artificial, obras de macrodrenagem e microdrenagem, revitalização urbanística e pavimentação. Mas não existe qualquer projeto de manutenção associado ao real dimensionamento do custo para manter os anteparos artificiais.

A pedido do Ministério Público do Paraná, um grupo formado por 17 pesquisadores da UFPR, com ampla experiência em pesquisa e atuação no litoral do Paraná, elaborou uma segunda nota técnica sobre a proposta de revitalização e engordamento da orla de Matinhos. Entre eles, há quatro geólogos, três oceanógrafos, dois geógrafos, quatro biólogos, além de um engenheiro cartógrafo, um advogado, um químico e uma socióloga, todos referência em suas áreas de pesquisa.

Um primeiro estudo, anterior, já havia trazido uma série de questionamentos e críticas à proposta. O segundo, tornado público no dia 1o de dezembro – depois de a equipe ter tido acesso a mais documentos e contatos com o próprio governo – teve as críticas acentuadas e feitas com ainda mais propriedade. Recomendações técnicas alternativas ao projeto, mais baratas e com maior eficiência, também foram feitas na nota.

Foi esse grupo que analisou as avaliações apresentadas pelo governo para confirmar que as guias-correntes, ou “espigões” instalados na foz de rios e canais, não servem para controle de erosão, pelo contrário, alteram a dinâmica costeira com impactos negativos irreversíveis e permanentes.

Para os pesquisadores, os “espigões” em formato de headlands (com uma praça e mirante na ponta) foram adotados apenas por critérios paisagísticos e trazem grandes prejuízos ambientais, além de serem incompatíveis com a paisagem natural de uma região tombada pelo Patrimônio Histórico.

Com base na experiência técnico-científica da equipe, o bloqueio físico dessas estruturas vai provocar acúmulo de areia do lado sul das construções e, consequentemente, erosão costeira do lado norte, ou seja, transferir o problema de Matinhos para Pontal do Paraná.

Outro problema grave é que não há comprovação de que exista areia para esse empreendimento: “Para a alimentação artificial da praia de Matinhos está previsto um volume de areia de 3.222.250 m3. Porém, não existe comprovação da ocorrência de jazida de areia em volume e características adequadas para realizar o aterramento proposto. Ou seja: o volume da jazida não foi adequadamente determinado, o que é grave, já que recursos públicos serão destinados a uma obra sem viabilidade técnica demonstrada”, aponta o texto da nota técnica.

O Grupo de Trabalho também reforça que, tanto as empresas envolvidas na proposta quanto o Estado, não se preocuparam em fazer um estudo específico para saber de que modo a engorda da praia vai alterar a arrebentação das ondas e a prática de surf, tradicional em Matinhos. De acordo com a nota, todo o projeto é passível de questionamentos na Justiça.

Além de inconsistências envolvendo o licenciamento ambiental, o projeto não tem embasamento técnico, não houve participação pública, nem aderência ao plano diretor municipal e ao Plano de Desenvolvimento Sustentável do Litoral, o PDS.

“Este grupo de trabalho ratifica seu alerta para as consequências ambientais, paisagísticas e financeiras do empreendimento, assim como para a qualidade de vida da população afetada, especialmente em longo prazo. A insistência em se manter este empreendimento, mesmo frente às inconsistências técnicas apontadas, significará, de fato, protelar a solução dos problemas ou até mesmo intensificá-los ou transferi-los para outras localidades do litoral paranaense. Assim, recomenda-se fortemente a reformulação da proposta conceitual e do projeto, alinhando-as com as melhores práticas recomendadas por documentos orientadores do assunto, tanto na literatura especializada como em nível federal.”

Um dos pesquisadores envolvidos no grupo de trabalho é Daniel Telles, coordenador do Laboratório de Geografia Marinha e Gestão Costeira do Centro de Estudos do Mar (CEM/UFPR). Para ele, o projeto foi trazido em uma perspectiva de monólogo por parte do governo e merece ser analisado em sua essência e não só na aparência, pelas maquetes apresentadas.

Para Telles, a solução não é simples. “A engorda de praia é um assunto de alta complexidade dentro da Ciência do Mar, e que toca diferentes países costeiros mundo afora. Esse recurso inicial é só um primeiro investimento. O projeto exige, dentro das experiências já conhecidas, a manutenção das obras e monitoramento. Quanto mais você interfere em uma paisagem natural, maior o custo de manutenção exigido dos cofres públicos”.

O litoral brasileiro tem sofrido com ressacas cada vez mais fortes, erosões seríssimas e enchentes. As ondas avançam sobre ruas, casas e comércios. É o caso do município de Matinhos, no Paraná, que passou, ao longo da história, por um processo indevido de urbanização que ocupou e destruiu toda a faixa de restinga, ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica que tem, entre suas funções, o controle das inundações. A vegetação da Restinga serve como uma barreira e é capaz de absorver ou segurar grande parte da água após a alta das marés.

Para pessoas desatentas ou com pouco conhecimento, pode parecer apenas “mato”, mas seus arbustos, flores, plantas rasteiras e árvores de diversos tamanhos formam uma rica floresta. É a barreira mais eficaz para proteger a cidade do aumento do nível do mar. Sem a restinga, nada impede a água de avançar cada vez mais. Nem uma milionária obra de aterramento da praia.

Para o professor Eduardo Vedor, coordenador do Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (LAGEAMB) da UFPR, que também participou do estudo, existe uma pressão e um lobby do setor imobiliário, que busca valorizar os empreendimentos que já existem com esse tipo de revitalização proposta. Mas, para ele, é muito mais barato desapropriar os imóveis e ressarcir os moradores e comerciantes do que investir em um processo de engorda de praia. O professor esclarece que a desapropriação envolveria de 15 a 20 imóveis na Praia Central, local onde a linha de costa já está comprometida.

“Na praia central de Matinhos, não há mais nem vestígios da área de restinga. Houve uma ocupação desordenada anterior à legislação vigente, feita por pessoas que compraram legalmente os terrenos e por isso teriam direito a indenizações em caso de desocupação. Mas também há ilegalidades, ocupações posteriores. Por ausência de fiscalização e pelo risco que esses proprietários assumiram, não caberia qualquer tipo de indenização”, argumenta Vedor.

Cabe lembrar que o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Litoral (PDS), finalizado no ano passado, a um custo de, aproximadamente R$ 5 milhões, foi o maior investimento que o estado realizou até hoje no que se refere a planejamento para o litoral. Houve ampla participação da sociedade nas discussões que envolveram 76 projetos. A engorda de Matinhos sequer entrou na pauta das discussões.

Giem Guimarães, diretor-executivo do Observatório de Justiça e Conservação (OJC), reforça que as notas técnicas são a prova de que o governo Ratinho Jr. não está nem um pouco preocupado com as prioridades no Paraná: “Esse projeto deveria se chamar ‘o Engodo da Praia’, e não ‘a Engorda da Praia’, porque não faz, nem devia fazer, parte das prioridades para o Estado. Trata-se, portanto, de uma obra desnecessária com cunho meramente eleitoreiro. Por que aplicar tanto dinheiro em uma obra de estética no litoral? Para simplesmente angariar votos”.

O Governo do Paraná também ignorou recomendações do Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção à Erosão Costeira (2018), resultado de quatro anos de trabalhos e articulações entre representantes de diversos órgãos e instituições. O documento foi planejado para dar subsídios à tomada de decisões dos responsáveis pelas obras costeiras. O Guia deixa claro que a intervenção em linhas de costa com colocação de “próteses”, ou obras rígidas, deve ser evitada, pois resultam em problemas futuros, repassados a outras áreas. No caso de Matinhos, impacto deve ocorrer com o Balneário de Saint Etienne, que não sofre erosão.
Obra na praia de Matinhos, no litoral do Paraná, recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental
Obra na praia de Matinhos, no litoral do Paraná, recebe críticas de especialistas, preocupados com impacto ambiental
Projeto visa conter a erosão que ameaça a praia do litoral paranaense

Toda a paisagem da orla marítima é tombada pelo governo estadual, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Coordenadoria do Patrimônio Cultural (CPC), sendo obrigatória por lei a preservação de bens de valor histórico, cultural, arquitetônico e ambiental, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. Qualquer intervenção exige aprovação do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Cepha).

O oceanógrafo e biólogo Paulo Lana, foi conselheiro do Cepha na época em que houve debate da necessidade de obras em Matinhos. Mas Lana foi surpreendido com o novo projeto, totalmente diferente do que foi discutido no passado com o Projeto Orla (2000) e o Paraná Cidade (2009).

“Esse empreendimento, por maiores que possam ser suas justificativas, em face dos processos de erosão, vai gerar uma grande intervenção paisagística, além das questões ambientais, geológicas e marinhas. Então, deve ser objeto de uma reflexão técnica ainda maior de todos os órgãos responsáveis. É uma nova proposta. Ela não pode e não deve ser aprovada com base em análises de dez anos atrás, feitas para outro empreendimento”.

O geólogo Rodolfo José Angulo, do Laboratório de Estudos Costeiros da UFPR, foi o coordenador do Estudo de Impacto Ambiental feito em 2009, e conta sobre a preocupação quando surgiu o novo projeto do IAT, em 2019.

“Vendo o material de divulgação na imprensa e na internet, percebi que era um projeto totalmente ampliado, com novas linhas correntes, canais artificiais e novos objetivos. Eu tentei acessar esse projeto, fui pessoalmente ao Instituto, para saber sobre o novo estudo de impacto ambiental, porque não achava adequado usar aquele antigo. Do ponto de vista técnico, sempre fui contra essas intervenções rígidas, chamadas como guias-correntes, headlanders ou espigões. Elas alteram toda a dinâmica costeira. Esse tipo de obra não se recomenda desde os anos 50, 60 do século passado. Ela pode causar problemas irreversíveis em Pontal do Paraná e outros municípios. Uma obra muito impactante e que está sendo proposta sem base técnico-científica”, reforça Angulo.

“Esse espigão é um ‘Frankenstein’ previsto também para o Balneário de Saint Etienne, que não tem problema de erosão, área que, sequer, passou pelo estudo de impacto ambiental. Depois vão dizer que o Ministério Público barrou o investimento, mas, infelizmente, o governo não cumpre o mínimo do que a lei exige para a obra”, sentencia Eduardo Vedor.
Quais são as alternativas?

O grupo de trabalho da UFPR propõe Soluções Baseadas na Natureza, mais baratas e eficientes. O ponto de partida é a desocupação das áreas em ambiente que deveria ser de restinga e recuperação dessa vegetação para conter as ressacas.

Além disso, é possível recuperar a faixa dinâmica da praia, com a reconstrução das dunas frontais. Os “espigões” podem ser substituídos por recifes artificiais submersos. “Eles têm potencial de funcionar como atrativo turístico de mergulho e cumprem o papel de reduzir a energia das ondas. Com ondas mais fracas, o sedimento artificialmente depositado se mantém, com um custo menor e benefícios sociais e ambientais relevantes”, esclarece Eduardo Vedor.

Outra questão fundamental é o saneamento básico. Afinal, de que adianta ter uma orla revitalizada e o Rio Matinhos estar completamente poluído? A urgência está na despoluição, desobstrução e recuperação das margens e da navegabilidade.

A pesquisadora Camila Domit, do Laboratório de Ecologia e Conservação (UFPR), lembra que a maior colônia de pesca artesanal do estado está em Matinhos e a despoluição vai beneficiar toda a sociedade e a fauna marinha.

“Mesmo os animais que são capturados pela pesca, muitos deles já estão com doenças, com patologias fúngicas, bacterianas e virais, características de um animal imunossuprimido pela contaminação da água. Hoje em dia, com a Covid-19, as pessoas têm ouvido muito sobre comorbidades e a fauna também tem. Existe um problema que não enxergamos na natureza, que é essa poluição química, por esgoto e pelo microplástico. Ela passa pela fauna muito rápido e reduz muito a população marinha. As consequências de médio e longo prazo devem estar no nosso radar em obras como essa”, alerta Domit.

Matinhos possui 36 balneários. Na Praia Central e no balneário de Riviera, se construiu dentro da linha de faixa de areia, então, naturalmente, o mar retomará essas áreas
Conflito de interesses

Um dos principais responsáveis técnicos pela nova proposta do IAT, professor Eduardo Felga Gobbi, é também conselheiro do Cepha, ou seja, uma das pessoas que vão avaliar a nova proposta diante da questão paisagística. Um evidente conflito de interesses, muito marcado,presente e significativo.

Outra suspeita recai sobre o engenheiro civil Eduardo Ratton, coordenador do Instituto Tecnológico de Transportes e Infraestrutura (ITTI), que assina os atuais estudos da engorda da praia de Matinhos. Ratton foi denunciado pelo jornal Gazeta do Povo por usar dinheiro público de convênios com órgãos federais para bancar uma série de privilégios pessoais, como viagens internacionais em hotéis de luxo, refeições em restaurantes de renome e até festas de confraternização.

De acordo com a Gazeta do Povo, Ratton é professor aposentado da UFPR e criou o ITTI em 2009, não para promover as atividades fins da UFPR – como ensino, pesquisa e extensão –, mas para convênios com órgãos públicos. No ano passado, a universidade paranaense já foi condenada a devolver R$ 16 milhões, em razão de convênios executados pelo ITTI, órgão que atua em estradas e gestão portuária sem nenhuma experiência em obras de engorda de praia.

*Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Conexão Planeta


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Fotos: divulgação Observatório de Justiça e Conservação


Observatório de Justiça & Conservação

O Observatório de Justiça e Conservação (OJC) é uma iniciativa apartidária e colaborativa que trabalha fiscalizando ações e inações do poder público no que se refere à prática da corrupção e de incoerências legais em assuntos relativos à conservação da biodiversidade, prioritariamente no Sul do Brasil, dentre os quais se destacam, a Floresta com Araucária

STF suspende lei que permite garimpo com mercúrio em Roraima

 

STF suspende lei que permite garimpo com mercúrio em Roraima

Duda Menegassi
domingo, 21 fevereiro 2021 15:26
Com decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, fica suspensa em caráter cautelar 
a lei de Roraima que autoriza o garimpo com mercúrio. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

Na última sexta-feira (19), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou a suspensão da Lei Estadual nº 1.453/2021, de Roraima, que institui o licenciamento para a atividade de lavra garimpeira no estado. A medida acata o pedido protocolado pelo partido Rede Sustentabilidade pela inconstitucionalidade da lei, que autoriza o uso de mercúrio no garimpo e o licenciamento simplificado para atividade. A decisão, em caráter cautelar, ainda será submetida ao plenário do STF.

De acordo com a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI/6.672), ajuizada pela Rede, a lei fere o dever constitucional de preservar um meio ambiente ecologicamente equilibrado, com normas que “afrontam os princípios da precaução e da prevenção”, principalmente pela “autorização para o uso do mercúrio na atividade de lavra garimpeira, o que representa verdadeiro retrocesso em face de consensos mínimos estabelecidos a nível internacional”. Além disso, o pedido afirma ainda que ao criar a Licença de Operação Direta, “o legislador roraimense esvaziou o procedimento de licenciamento ambiental estabelecido na legislação nacional”.

De acordo com o ministro do Supremo, apesar dos estados possuírem autonomia para estabelecerem normas específicas diferentes da Constituição Federal, em matéria de proteção ao meio ambiente, o entendimento é que a mudança seja para instituir uma legislação mais restritiva no estado. “No entanto, como ressaltado pelo requerente, o que aparentemente se tem na espécie é situação inversa, em que legislação estadual busca a aplicação de licenciamento simplificado para atividades de impacto significativo ao meio ambiente, como é o caso da lavra garimpeira, sobretudo com o uso de mercúrio”, escreve Alexandre de Moraes em sua decisão (leia na íntegra).

A Lei 1.453/2021

A lei estabelece os procedimentos e critérios para o licenciamento ambiental de atividades de garimpo em Roraima e foi aprovada pela Assembleia Legislativa do estado no dia 18 de janeiro de 2021 (veja a publicação no Diário Oficial do Estado). Seu ponto mais polêmico corresponde ao artigo 8º, que permite o uso de mercúrio na lavra de ouro diante da apresentação, por parte do empreendedor, de um projeto de “solução técnica” que garanta “a eficiência técnica e ambiental do processo”.

Além disso, a lei estabelece que o licenciamento ambiental para atividade de lavra garimpeira será feita por meio de Licença de Operação Direta, concedida diretamente pela Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh).

A norma causou forte reação de organizações ambientalistas e indigenistas, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Norte I, que manifestou preocupação e repúdio com a lei.

“A Lei 1.453/2021, de licenciamento ambiental da atividade garimpeira, é flagrantemente inconstitucional. A competência para legislar sobre a atividade da mineração é exclusiva da União. No caso da legislação ambiental, assegura-se aos estados exclusivamente a possibilidade de legislar, de forma coerente com a legislação federal, sobre procedimentos simplificados de licenciamento para atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental. E claramente o garimpo não se encontra entre essas atividades”, declarou o Cimi em nota pública. No texto, eles reforçam ainda os impactos negativos do garimpo nos rios, na floresta e na saúde dos indígenas, e apontam que mesmo que a lei não fale sobre Terras Indígenas especificamente, “é evidente que irá contribuir, de forma significativa, com um aumento ainda maior da exploração ilegal e da impunidade dentro das terras indígenas, bem como com o impacto sobre áreas adjacentes e vias de acesso, fluvial ou terrestre, às terras indígenas”.