Guerra contra o plástico está nos distraindo de ameaças mais urgentes, alertam especialistas
Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/11/2020
Guerra contra inimigo errado
Uma equipe de importantes especialistas ambientais lançou um
alerta de que a "guerra contra os plásticos" sendo atualmente travada
no mundo todo está eclipsando ameaças muito maiores ao meio ambiente.
O painel de 13 especialistas afirma que, embora os resíduos
de plástico sejam de fato um problema, sua proeminência na preocupação da mídia
e do público em geral com o meio ambiente está ofuscando ameaças maiores como,
por exemplo, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.
O argumento é que muito do discurso em torno dos resíduos
plásticos é baseado em dados que nem sempre são representativos dos ambientes
que foram amostrados - por exemplo, recentemente se comprovou que não há tanto plástico nos oceanos quanto se temia.
Os autores alertam que a poluição do plástico passou a
dominar a preocupação do público com o meio ambiente e tem sido explorada
politicamente, por exemplo, por meio de imagens emotivas da vida selvagem
envolvida com lixo plástico e de manchetes alarmistas.
E isto é sério porque a aversão da população ao plástico
pode encorajar o uso de materiais
alternativos que têm efeitos potencialmente mais nocivos, algo que já
aconteceu no caso dos gases projetados para salvar a camada de ozônio e que
agora ameaçam o clima, e das lâmpadas
fluorescentes compactas, que disseminaram o mercúrio por todo o planeta.
Alternativas que pioram as coisas
A equipe destaca que o plástico não é o único tipo de
material poluente oriundo da atividade humana que contamina o meio ambiente.
Outros exemplos incluem as fibras têxteis naturais, como algodão e lã,
partículas carbonáceas esferoidais (restos de combustíveis fósseis) e
partículas de desgaste dos freios de veículos - todas presentes em locais
diferentes, onde podem ter efeitos ambientais adversos.
Esses materiais são frequentemente muito mais abundantes do
que os microplásticos e alguns, como vidro, alumínio, papel e fibras naturais,
estão associados a "plásticos alternativos" que são comercializadas
como soluções para a poluição do plástico tradicional, mas na realidade são um
passo para o lado, que não muda as práticas de consumo que estão na raiz do
problema. Os impactos ecotoxicológicos de alguns desses materiais são menos
conhecidos do que a poluição por plásticos e microplásticos, mas podem ter
impactos significativos, diz a equipe.
Os autores do artigo apelam à mídia para garantir que as
realidades da poluição do plástico não sejam deturpadas, particularmente na
divulgação pública do problema, e exortam os governos a minimizar o impacto
ambiental do consumo excessivo, por mais inconveniente que seja, por meio do
projeto dos produtos, e da gestão de resíduos verdadeiramente circular.
"Estamos vendo um engajamento sem precedentes por parte
do público com as questões ambientais, particularmente a poluição do plástico,
e acreditamos que isso representa uma oportunidade em uma geração para promover
outras questões ambientais potencialmente maiores. Este é um momento chave para
destacar e abordar áreas como a 'cultura de jogar fora' da sociedade e
reformular a gestão dos resíduos. Porém, se continuarmos a priorizar o
plástico, essa oportunidade será perdida - e com grande custo para o nosso meio
ambiente," ressaltou o professor Tom Stanton, da Universidade de
Nottingham, no Reino Unido.
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