“O futuro é ancestral e a humanidade precisa aprender com ele a pisar suavemente na terra”, convida Ailton Krenak
A frase acima inspirou o encontro organizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), no último sábado, 30 de julho, no qual foi exibido o documentário Pisar Suavemente na Terra. Temos falamos dele, aqui no site, desde setembro do ano passado.
Esta foi uma exibição muito especial dedicada aos povos indígenas durante a 11º Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa). Além disso, os últimos detalhes do filme ainda estão sendo finalizados, mas o convite era irresistível, como revelou o diretor, Marcos Colón, que não cabia em si de felicidade no final do dia. “Foi apoteótico. As pessoas aplaudiram de pé por mais de 20 minutos!”.
O evento contou com as presenças da cacica Katia Akrãntikatêgê e de José Manuyama (dois dos personagens principais do filme) e do pensador e líder indígena Ailton Krenak (foto acima), que também participa da obra, abrindo caminhos.
Para registrar este momento tão emocionante, reproduzimos a seguir o texto publicado pelo site da revista Amazônia Latitude, produtora do documentário. Em setembro, Pisar Suavemente na Terra inicia sua trajetória de exibições em festivais internacionais de cinema; a estreia para o público deve acontecer antes do final do ano, a confirmar. Mônica Nunes, editora do Conexão Planeta
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Por Andreza Costa Dias* para Amazônia Latitude**
Em 30 de julho, no Auditório Benedito Nunes da Universidade Federal do Pará (UFPA), a amplitude da diversidade de povos da Pan-Amazônia estava representada na casa cheia e assentos lotados por pessoas de todos os lugares do país.
O título do encontro se originou de uma fala do ativista e autor Ailton Krenak, que inspirou o título do documentário:
“O futuro é ancestral e a humanidade precisa aprender com ele a pisar suavemente na terra”
A exibição especial ‘arrecadou’ sorrisos, comentários, aplausos e, acima de tudo, identificação. O evento contou com a presença ilustre dos protagonistas das histórias contadas, além do diretor do filme, Marcos Colón e, do roteirista Bruno Malheiros, geógrafo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
O processo de produção durou três anos, devido à interrupção provocada pela pandemia do coronavírus. Mas, mesmo com tantos imprevistos, o filme manteve sua essência, transmitindo, com uma linguagem universal, o sentimento da resistência.
Resistência Indígena: histórias entrelaçadas pela luta
No contexto de séculos de atividades predatórias como o desmatamento, o garimpo e projetos de desenvolvimento econômico que visam a ocupação de terras indígenas, encontra-se a cacica Katia Akrãntikatêgê, de Marabá, no Pará, que luta num território tomado pela exploração de minérios e outros empreendimentos.
Katia e seu povo vieram das montanhas de Tucuruí, expulsos por fazendeiros. Segundo ela, por conta disso, traz resistência consigo – assim como seu pai, Payaré.
“Contamos histórias de países e cidades diferentes. Mas elas são muito parecidas e, portanto, têm o mesmo impacto. Espero que esse filme venha rodar o mundo inteiro e impactar as pessoas, para que consigam entender a nossa história, a história com “H” maiúsculo, história de realidade do que vivemos”, diz ela.
José Manuyama, indígena Kukama da Amazônia peruana, lida diariamente com a contaminação dos rios. Pepe, como é carinhosamente chamado, fala emocionado sobre sua história de luta.
“Não podemos nos sentir tristes porque somos parte de algo grande que une a todos. Por isso, somos uma pedra no sapato”.
A terra não precisa de mais desenvolvimento! Desenvolvimento este que progride com a destruição, produz guerras e mata gente. O documentário nasce, diante deste contexto, como um alerta:
“Pisar suavemente na Terra é uma poética que veio de um lugar onde rios e paisagens estão assoladas por fome e miséria, projetadas pelo capitalismo”, alerta Krenak.
“Aquilo ali não é onde não deu certo, é onde deu certo. Dá errado quando é preciso nos encontrar no meio do caminho”. E ainda declara: “Somos boas pedras no caminho das grandes corporações”.
A narrativa é um despertar de vozes anoitecidas pela barbárie do capitalismo.
“O sistema monetário na Amazônia sempre foi uma guerra. Com a pandemia, se intensificou”, diz Malheiros. Em 2021, no ápice da pandemia, a mineradora Vale reportou um lucro recorde de R$ 121,2 bilhões.
Essas vozes sugerem que a floresta tem relação direta com a diversidade étnica e ideológica, semeada por inúmeros povos. Se existe alguma tecnologia viável, não são os aparatos tecnológicos. São justamente esses povos que construíram a tecnologia, e ainda conseguem manter a Amazônia de pé.
“O que fazemos com o cinema ou com uma câmera, é só despertar essa técnica ancestral que talvez indique algum caminho”, destaca Bruno. A segurança está no futuro ancestral – e é tudo que temos agora.
A “sociedade ideal” está distante. Sem dúvidas, não é antropocêntrica. Deve nascer da relação da relação homem-natureza – portanto, seria biocêntrica.
A cultura predatória das corporações, que comem a Terra, traz riscos para o todo: o planeta não precisa de mais desenvolvimento e progresso! O amplifica a voz dos povos originários, que ensinam a enxergar – e voltar – ao futuro ancestral com aquilo que deu certo.
“O que leva esse povo a resistir, após 500 anos, é a alegria”, conclui o produtor e diretor Marcos Colón. Hoje, se faz necessário saudar a ancestralidade e pisar suavemente na Terra.
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* Andreza Costa Dias é estudante de Comunicação Social – Jornalismo pela UFPA, repórter no Projeto de Extensão Academia Amazônia da UFPA e responsável pela divulgação cientifica de produtos da universidade. Também estagia como social media do Geamaz – Grupo de Estudos em Educação Ambiental na Amazônia, da UFPA.
** Este texto foi publicado originalmente no site da Amazônia Latitude em 30/7/2022 e adaptado/editado para publicação aqui, no Conexão Planeta.
Foto (destaque): Marcos Colón
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