Há um mês fogo devasta Unidade de Conservação na Amazônia
mato-grossense
Posted on 12 setembro 2022
No Parque Cristalino, proprietários rurais formam brigadas
para combater os incêndios
No Parque Cristalino, proprietários rurais formam
brigadas para combater os incêndios
Por SOS Cristalino
O Parque Estadual Cristalino I e II, situado no sul da Amazônia, norte de Mato
Grosso, está sendo destruído pelo desmatamento e queimadas. Desde o dia 13 de
agosto, quando o fogo começou, a unidade já perdeu 5.080 hectares. Na área de
entorno da unidade de conservação, o fogo atingiu mais 1.800 hectares, além de
propriedades rurais e habitações. A unidade de conservação tem, ao todo,
184.900 hectares e está localizada entre os municípios mato-grossenses, de Alta
Floresta e Novo Mundo, divisa entre Mato Grosso e Pará. Os dados foram
divulgados pelo projeto Observatório Socioambiental de Mato Grosso (ObservaMT).
Até o domingo (11), não foi registrada a presença de instituições públicas de
defesa do meio ambiente no combate ao fogo. Foi criada uma Brigada de Combate
aos Fogo, iniciativa de propriedades privadas para combater os incêndios no
parque e em propriedades particulares do seu entorno. “Estamos tentando salvar
o parque Cristalino e as propriedades rurais no entorno, mas não temos
brigadistas e equipamentos adequados, como, por exemplo, aeronaves. Aguardamos
reforços do Governo de Mato Grosso”, disse a coordenadora da Rede Nacional
Pró-Unidades de Conservação (Rede Pró-UC), Ângela Kuczach.
Tudo começou há um mês, depois do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) anunciar
decisão judicial favorável a uma empresa agropecuária reivindica a
extinção do Parque Cristalino II, com 118 mil hectares.
A consultora jurídica e de articulação do Observa-MT, Edilene Amaral explica
que o Ministério Público de Mato Grosso conseguiu reverter em parte a ação que
deve ter ainda uma decisão final junto aos órgãos superiores de justiça.
"Apesar do ganho jurídico que manteve ainda recorrível a decisão judicial
do processo que tenta extinguir o Parque do Cristalino II, o que vemos é que
mesmo que irreal, a possibilidade da extinção da UC estimula as ações
criminosas de grilagem, desmatamentos e de incêndios florestais na região. O
cenário piora com a inércia do Poder Público de combater essas práticas
criminosas", diz.
Biodiversidade ameaçada
O Parque Cristalino I e II é uma das unidades de conservação
mais importantes da Amazônia, com 600 espécies de aves registradas, das 850
existentes em toda a Amazônia brasileira. Dessas 600 espécies, 25 delas estão
oficialmente ameaçadas de extinção. Outra espécie única no mundo é o
macaco-aranha-de-cara branca (Ateles marginathus), símbolo do parque.
Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foram
registrados 112.749 focos de calor no Brasil entre os dias 1 de julho até o dia
9 de setembro, 60% deles, na Amazônia.
Mato Grosso responde por 30% das queimadas na Amazônia Legal. Conforme dados
coletados pela plataforma Global Fire Emission Data Base ( GFED/NASA), de 1
janeiro de 2022 até o dia 7 de agosto, foram queimados 3,7 milhões de hectares,
sendo 1,9 milhões de hectares queimados no período proibitivo (1 de julho a 30
de outubro).
A região norte de Mato Grosso, no Arco do Desmatamento, é alvo de grilagem de
terras públicas e invasão de unidades de conservação e territórios indígenas. A
área do Parque Estadual Cristalino I e II pertencia à União e foi doada ao
Governo de Mato Grosso quando o parque foi criado a partir de 2000 e 2001,
respectivamente.
Alertas do INPE
Entre os dias 1 de julho até o dia 2 de setembro, O INPE
emitiu 3.099 alertas referentes a uma área de 5.719,67 km² na Amazônia,
2.770,57 km² na Amazônia mato-grossense. Ainda em agosto, o MapBiomas,
iniciativa do SEEG/OC (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito
Estufa do Observatório do Clima) divulgou que o Brasil já perdeu 13% da
vegetação nativa da floresta amazônica nos últimos 37 anos.
O desmatamento atingiu 830.429 km² até 2021, ou uma perda de cerca de 21% da
área total original da floresta (Prodes, Inpe). Em 2021, a cobertura vegetal
dessa região distribuía-se em floresta nativa (63%) e vegetação nativa não
florestal (19%). O restante da área (2%) é composto pela rede hidrográfica de
rios e lagos.
Preservar a Amazônia é fundamental para a manutenção dos serviços climáticos,
como a chuva, além de contribuir para as metas de gases de efeito estufa e
reduzir os efeitos do aquecimento global
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