VotePeloCerrado: Campanha da sociedade civil cobra propostas
para salvar o bioma
Posted on 8 setembro 2022
Geralmente esquecido por candidatos, bioma já perdeu metade
de sua vegetação original
Geralmente esquecido por candidatos, bioma já perdeu
metade de sua vegetação original
Por ISPN
O Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) lança a campanha #VotePeloCerrado,
uma ação de conscientização sobre a importância do bioma e as consequências
trágicas que sua degradação pode causar para nossa sociedade caso não
haja políticas públicas efetivas para salvar a savana mais biodiversa do mundo,
conhecida como “berço das águas” do Brasil. A intenção é mobilizar cidadãos na
cobrança de seus candidatos sobre propostas para conservação de seus
ecossistemas e combate ao desmatamento em ascensão.
A campanha pode ser acessada pelas redes sociais do ISPN (@ispn_brasil)
e conta com duas ações offline de sensibilização de público, por meio
de degustação de sucos de frutos nativos do Cerrado e distribuição gratuita de
água para hidratação (veja abaixo). #VotePeloCerrado é realizada por ISPN e
Rede Cerrado, com apoio do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), Small
Grants Programme, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
Projeto CERES, União Europeia e WWF-Brasil.
“É importante que as pessoas conheçam a diversidade de sabores do Cerrado, o
potencial que esses frutos têm para geração de renda e a conservação da
biodiversidade. A água que sacia a sede e que gera a energia de inúmeras casas
do país vem do Cerrado”, explica Isabel Figueiredo, Coordenadora do Programa
Cerrado e Caatinga do ISPN. “Sem Cerrado, não há água e, sem água, não há vida.
O Cerrado grita por socorro e nós gritamos pelo Cerrado”.
O vídeo inaugural da campanha apresenta o Cerrado como o melhor
candidato dessas eleições, porque cumpre tudo aquilo que promete: segurança
alimentar, água fresca, geração de energia e renda, diversidade cultural e
equilíbrio climático. “Como nosso herói não é um candidato real, precisamos
cobrar daqueles que receberão nossos votos propostas que incluam a conservação
do bioma”, destaca Figueiredo.
Entre 30 de agosto e 2 de outubro, as peças veiculadas nas redes sociais do
Instituto trazem dados científicos e associações do bioma com o cotidiano dos
brasileiros, independentemente da região em que habitam.
Ações offline de sensibilização
Duas parcerias fortalecem a campanha para realização de
ações offline de degustação de sucos de frutos nativos e distribuição
de água gratuita: uma delas é o Festival Ilumina, que chega à sua 8ª
edição na Chapada dos Veadeiros (GO); a outra é a Rede Cerrado, em
Brasília (DF).
Entre os dias 9 e 10 de setembro, a “estação de hidratação” do ISPN estará na
Aldeia Multiétnica, em Alto Paraíso de Goiás (GO), para sensibilização do
público do Festival Ilumina. No dia 11, Dia Nacional do Cerrado, é a vez
da estação se juntar à programação do Grito pelo Cerrado, realizado pela Rede
Cerrado no Eixão Norte, na altura da 210 norte.
As atividades da data especial na capital brasileira incluem ações culturais de
corrida de tora com os povos indígenas Xavante e Timbira, oficina artística
para crianças, oficina percussiva Vivendo & Batucando, ações musicais e
mais.
Sabores
Cajuzinho-do-cerrado, araticum, murici, pequi, buriti,
babaçu, bacuri, cagaita, mangaba, jatobá e tantas outras delícias são apenas
algumas das milhares de espécies de plantas presentes no Cerrado, conservadas
por agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais. Durante a
campanha, o público poderá conhecer alguns desses sabores e entender como é
possível cobrar de políticos ações para a conservação deste bioma que já perdeu
metade da sua vegetação nativa.Serão distribuídos pelas estações de hidratação
do ISPN sucos de araticum, coquinho azedo, mangaba e cagaita, além de água
mineral para compensar a seca e o calor. A distribuição será feita até acabarem
os estoques e o público poderá retirar o brinde especial, um copo da campanha
para levar um pedaço do Cerrado para casa e lembrar de votar pelo bioma.
3 eixos para salvar o Cerrado
Terena Castro, assessora técnica do ISPN, destaca que a conservação do Cerrado
é urgente e possível por meio de caminhos interdependentes que devem ser
garantidos pelos políticos eleitos, que são: o uso sustentável, o fim do
desmatamento e a inclusão dos produtos da sociobiodiversidade nativa no consumo
cotidiano das pessoas.
“É importante que cidadãos estejam atentos às propostas dos candidatos e que
cobrem de políticos ações que possam salvar o Cerrado. A ameaça real que o
bioma sofre é um risco para nossa segurança alimentar, para nossas fontes de
água e para o equilíbrio climático global, além de violar direitos territoriais
de milhares de comunidades tradicionais do país”, comenta.
“É preciso pesquisar as propostas e a trajetória de candidatos que receberão
nossos votos neste ano, para verificar se eles se comprometem com o uso
sustentável da biodiversidade, com a redução do desmatamento no Cerrado, e com
a economia de povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares, que
chamamos de ‘economia da sociobio’. Essa atitude salva o Cerrado”, completa.
Cerrado sociobiodiverso
No bioma, vivem mais de oitenta etnias indígenas, além de
quilombolas, geraizeiros, vazanteiros, quebradeiras de coco, ribeirinhos,
pescadores artesanais, comunidades de fundo e fecho de pasto, entre outros, que
têm seus modos de vida diretamente relacionados com a biodiversidade local. O
Cerrado abriga os aquíferos Guarani, Bambuí e Urucuia, além de nascentes de
oito das doze principais regiões hidrográficas do Brasil. Ele é responsável por
70% da vazão do Rio São Francisco e 47% da vazão da bacia do Rio Paraná, que
abastece a hidrelétrica de Itaipu.
O Cerrado é tema de segurança global, sendo central para os debates sobre
mitigação das mudanças climáticas. Com raízes que ultrapassam 30 metros de
profundidade, representando até 75% da biomassa de arbustos e árvores, o bioma
consegue estocar cerca de 13,7 bilhões de toneladas de carbono.
Ameaça de extinção
Entre agosto de 2020 e julho de 2021, o Cerrado perdeu área
de vegetação nativa equivalente a 6 cidades de São Paulo, um aumento de 8% em
relação ao ano anterior. A região do MATOPIBA, que abrange os estados do
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, concentrou 61,3% do desmatamento no período
(ou perda de 5.227,32 km²). Segundo Mapbiomas, foram quase 6 milhões de
hectares perdidos em uma década, de 2010 a 2020. A monocultura é uma das
principais responsáveis pelo desmatamento.
De acordo com dados do Mapbiomas, a área de lavoura no Brasil triplicou entre
1985 e 2020, passando de 19 milhões de hectares para 55 milhões. Destes, 36
milhões de hectares são dedicados à soja, em uma área maior do que a Itália.
Metade desse avanço está no Cerrado, que perdeu 16,8 milhões de hectares para a
soja nos últimos 36 anos.
“O Cerrado, escrito com inicial maiúscula, é tão importante quanto a Amazônia
para biodiversidade e equilíbrio climático. A minimização das desigualdades
sociais depende também do incentivo a um desenvolvimento sustentável”, afirma
Terena Castro. “O segundo maior bioma do Brasil serve de moradia, alimentação e
geração de renda para milhares de comunidades tradicionais do país, muitas
invisibilizadas nos mapas oficiais”, finaliza.
Sobre a Rede Cerrado
A Rede Cerrado surge durante a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Brasil em 1992
(Eco-92), para enfrentar as ameaças que o bioma já vinha enfrentando.
Atualmente, a Rede é composta por mais de 60 entidades da sociedade civil
associadas, representadas por indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco
babaçu, vazanteiros, fundo e fecho de pasto, pescadores artesanais, geraizeros,
extrativistas, veredeiros, caatingueros, apanhadores de flores Sempre Viva e
agricultores familiares, que são os verdadeiros guardiões da biodiversidade do
Cerrado.
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