Em duas décadas, mais de 200 jacutingas são reintroduzidas na natureza, graças a cooperação de criadores particulares
Em 2000, três criadouros de aves, CRAX – Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (Minas Gerais), Guaratuba (Paraná) e Tropicus (Rio de Janeiro), assinaram um acordo de cooperação técnica para trabalhem em conjunto para reintroduzir as jacutingas (Aburria jacutinga) em áreas da Mata Atlântica, onde a espécie foi praticamente extinta no passado.
Com cerca de 70 cm de altura, a jacutinga possui penas predominantemente negras em tons arroxeados pelo corpo, um bico azulado e um papo vermelho e azul. Quando em estado de alerta, ergue uma crista branca. Classificada como “em perigo” pela Lista de Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção, a espécie é uma das principais aves dispersoras das sementes do palmito-juçara, também em risco de desaparecer de nossas matas.
Todavia, graças ao trabalho árduo dos profissionais desses três criadores nos últimos 22 anos, a reintrodução da jacutinga na natureza se tornou uma história de sucesso dos esforços de conservação em nosso país.
Desde a primeira soltura de indivíduos, em 2003, na Fazenda Macedônia, uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) situada no município de Ipaba, em Minas Gerais, 220 jacutingas já foram soltas na vida selvagem, sempre em áreas protegidas.
Além de Minas, as aves foram reintroduzidas ainda em reservas nos estados do Rio de Janeiro e do Paraná. Neste último, recentemente 30 delas, todas nascidas em cativeiro, foram levadas para o Parque Ecológico Klabin, em Telêmaco Borba, a pouco mais de 230 km de Curitiba.
Elas se somam a outras dez jacutingas que chegaram ali em abril deste ano. Há anos a espécie não era avistada em vida livre naquela região. Na área de quase 10 mil hectares, dos quais 91,6% são compostos por floresta nativa, já vivem outros 180 animais de 50 espécies diferentes – 13 delas ameaçadas de extinção no estado (leia mais aqui).
Ao atingir esse marco, os criadores envolvidos no projeto comemoram as conquistas das últimas duas décadas. “A jacutinga é uma ave símbolo de resistência que ainda habita a Mata Atlântica e muito ajuda a natureza”, ressaltam.
Entre esses criadores, está o mineiro Roberto Azeredo, que há 40 anos se dedica à reprodução em cativeiro de diversas espécies de aves do Brasil (contamos sua história nesta outra reportagem).
Após o nascimento, os filhotes permanecem com os pais entre oito a dez meses. Após esse tempo são “expulsos” da convivência familiar para que se inicie um novo período reprodutivo
(Foto: Edgar Fernandez)
Infelizmente, ainda há muito trabalho a ser feito. Não basta apenas a reintrodução da espécie. Após essa fase as aves continuam a monitoradas.
O desmatamento na Mata Atlântica, a degradação e a perda de habitat no bioma, além da caça ilegal, são ameaças constantes a esses belíssimos animais. Mesmo em reservas protegidas por lei, eles são alvo de criminosos.
Mas apesar disso, a luta segue em frente. E nos brinda com excelentes resultados. Fruto deles são os nascimentos 55 filhotes oriundos das aves que foram soltas ao longo dos últimos anos.
“O objetivo da equipe é ampliar a criação do que chamamos de “ilhas de bancos genéticos” da espécie, em todo área de ocorrência original da jacutinga”, revela Azeredo.
A espécie não costuma fazer voos longos. Permanece a maior parte do tempo na copa das árvores. Quando vai ao chão, é sempre por pouco tempo
(Foto: Edgar Fernandez)
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Foto de abertura: Edgar Fernandez
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