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Nesta sexta-feira, na agenda oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está programada uma visita a uma fábrica da JBS em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O evento marca o primeiro embarque de carne para a China “a partir de plantas recém-habilitadas para exportar ao país asiático”, informou em nota o Palácio do Planalto. Ainda segundo o comunicado, a planta é uma das 38 habilitadas pela China em 12 de março.
A multinacional brasileira JBS, maior produtora de carne do mundo, foi fundada pelo empresário José Batista Sobrinho e é comandada por seus filhos, os irmãos Joesley e Wesley Batista. Os dois estão envolvidos em uma série de escândalos, já foram investigados e o primeiro deles preso em duas ocasiões. A companhia fez um acordo de leniência com a justiça por práticas ilegais que ultrapassou o valor de 10 bilhões de reais.
Não bastasse esse histórico, a JBS sofre com denúncias e processos em outros países por sua suposta associação com o desmatamento no Cerrado. Entre sua rede de fornecedores estão empresas que destroem o bioma para expandir o cultivo da soja e da pecuária.
Em março deste ano, o Estado de Nova York entrou com uma ação contra a JBS. No processo, a Procuradora-Geral Letitia James acusa a multinacional de “alegações enganosas” sobre suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa em campanhas divulgadas nos Estados Unidos com o único intuito de aumentar suas vendas e com isso, enganar consumidores preocupados com a questão ambiental.
Segundo a ação, movida contra a subsidiária da JBS nos EUA, a empresa se comprometeu a zerar suas emissões de carbono até 2040, “apesar de não apresentar um plano viável para tal”.
“Quando as empresas anunciam falsamente o seu compromisso com a sustentabilidade enganam os consumidores e põem o nosso planeta em perigo. O greenwashing da JBS USA explora os bolsos dos americanos comuns e a promessa de um planeta saudável para as gerações futuras”, afirma a procuradora de NY.
Já em 2023, a JBS apareceu como líder no ranking global “Vilões da Pecuária”, elaborado pela organização Proteção Animal Mundial, que apontava as empresas com o maior volume de emissões no planeta.
E mesmo assim, Lula decide visitar a fábrica do Mato Grosso do Sul. Sabe-se que é um agrado ao agronegócio, com quem o presidente vem tentando estreitar laços nos últimos meses. Para tal também tem promovido churrascos nas sextas-feiras com representantes do setor – os mesmos que com seu poder de lobby no Congresso Nacional conseguem aprovar projetos como aquele que acaba com a proteção a campos naturais no Brasil ou então, que garantem sua exclusão do PL que regulamenta o mercado de carbono.
Lula sabe que depende do agronegócio para governar. O setor representa quase 24% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e teve um salto de 15,8 em 2023.
Mas associar o governo com a JBS é uma péssima jogada. No ano passado, os Batista fizeram parte da comitiva do Brasil que visitou a China, o que já gerou diversas críticas.
Dificilmente Lula conseguirá cumprir a promessa de “desmatamento zero até 2030” se o ritmo do desmatamento no Cerrado continuar como o atual. Enquanto a devastação na Amazônia parece retroceder, no segundo maior bioma do Brasil a destruição segue a passos largos – perdeu 7.852km² de vegetação nativa em 2023, um aumento de 43,73% em comparação ao ano anterior (leia mais aqui).
Por último, os “churrasquinhos” com os empresários do agro são ainda uma mensagem completamente desconectada daquela que o governo usa em seus discursos quando fala em conservação do meio ambiente e combate às mudanças climáticas.
Há muito tempo especialistas do clima insistem que precisamos, como humanidade, reduzir o consumo de carne com urgência. A criação de gado é apontada como uma das grandes vilãs do aquecimento global. Em seu processo de digestão, vacas, bois, ovelhas e outros animais produzem o gás metano. E consequentemente, o liberam no ar. Assim como o dióxido de carbono, o metano é um gás de efeito estufa e contribui para o aumento da temperatura superfície da Terra. Mas ele é 30% mais potente que o CO2.
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