Por que reduzir o desmatamento ajuda a conter a
inflação?
Os economistas precisam começar a
calcular a participação da floresta na manutenção das chuvas que geram
eletricidade barata e controlam o preço dos alimentos
20/03/2025 08h00 Atualizado agora
A inflação continua sendo uma das maiores preocupações dos brasileiros.
Em janeiro de 2025, o IPCA acumulado em 12 meses alcançou 4,49%, com destaque
para o aumento no preço dos alimentos e da energia elétrica. Só os alimentos
subiram mais de 7% no ano anterior, refletindo os impactos das quebras de safra
provocadas por eventos climáticos extremos. Esse cenário levou o presidente
Lula e sua equipe econômica a reforçarem a prioridade no controle da inflação
como medida essencial para garantir o poder de compra da população,
especialmente dos mais pobres, que sentem de forma mais dura o peso do
encarecimento do custo de vida. O que poucos percebem é que, para reduzir a
inflação, é preciso conservar as florestas.
A relação entre a manutenção da floresta brasileira e o controle dos
preços é óbvia, embora ainda pouco considerada pelos economistas.
A floresta é essencial para produzir as chuvas que geram eletricidade
mais barata. Segundo estudo do projeto Amazônia 2030, o desmatamento na
Amazônia impacta diretamente a segurança energética do Brasil. A pesquisa
quantificou, pela primeira vez, o quanto a derrubada da vegetação reduz o
volume de chuvas, diminui a capacidade de geração das hidrelétricas e aumenta o
uso de fontes mais caras e poluentes, como as termelétricas.
Com menos água disponível, aumenta-se o uso de fontes mais caras e
poluentes. Isso resulta no aumento do custo da energia elétrica, repassado ao
consumidor e pressionando a inflação. Pela primeira vez, a equipe desenvolveu
uma metodologia para quantificar a perda na geração elétrica e o prejuízo
causado pela retirada de vegetação em cada trecho da Amazônia por onde passou o
vento que deveria ter levado umidade para as bacias de captação de cada
hidrelétrica.
As chuvas da floresta também são essenciais para a agricultura. Diversos
estudos comprovam que os chamados "rios voadores" da Amazônia
transportam umidade para o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, irrigando as
lavouras de soja, milho e cana-de-açúcar no Mato Grosso, interior de São Paulo
e outros polos agrícolas. Em 2023 e 2024, estiagens intensas afetaram
severamente essas regiões, provocando quebra de safra e contribuindo para a
inédita retração de 1,3% no PIB do agronegócio brasileiro em 2024. Essa queda
na produção fez com que os preços dos alimentos disparassem nos supermercados,
contribuindo diretamente para a inflação.
A relação entre a floresta e as chuvas, e entre as chuvas e o preço da
energia e alimentos, está clara. Energia e alimentos são os itens mais pesados
na cesta de produtos que influenciam o custo de vida dos brasileiros. É isso
que mais pressiona a inflação para cima ou para baixo. Ora, se a relação está
evidente, está mais do que na hora de os economistas brasileiros começarem a
criar métodos para relacionar o status das florestas com a inflação.
O Banco Central tem por missão proteger a moeda brasileira. Deveria, por
obrigação, estabelecer metas de redução do desmatamento até chegarmos a zero e
começarmos a recuperar a floresta. Garantir florestas de pé não é apenas uma
política ambiental, mas uma política econômica estratégica para estabilizar
preços e proteger a economia do Brasil.
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