sexta-feira, 21 de março de 2025

Por que reduzir o desmatamento ajuda a conter a inflação?

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Por que reduzir o desmatamento ajuda a conter a inflação?

Os economistas precisam começar a calcular a participação da floresta na manutenção das chuvas que geram eletricidade barata e controlam o preço dos alimentos

20/03/2025 08h00  Atualizado agora





A inflação continua sendo uma das maiores preocupações dos brasileiros. Em janeiro de 2025, o IPCA acumulado em 12 meses alcançou 4,49%, com destaque para o aumento no preço dos alimentos e da energia elétrica. Só os alimentos subiram mais de 7% no ano anterior, refletindo os impactos das quebras de safra provocadas por eventos climáticos extremos. Esse cenário levou o presidente Lula e sua equipe econômica a reforçarem a prioridade no controle da inflação como medida essencial para garantir o poder de compra da população, especialmente dos mais pobres, que sentem de forma mais dura o peso do encarecimento do custo de vida. O que poucos percebem é que, para reduzir a inflação, é preciso conservar as florestas.

A relação entre a manutenção da floresta brasileira e o controle dos preços é óbvia, embora ainda pouco considerada pelos economistas.

A floresta é essencial para produzir as chuvas que geram eletricidade mais barata. Segundo estudo do projeto Amazônia 2030, o desmatamento na Amazônia impacta diretamente a segurança energética do Brasil. A pesquisa quantificou, pela primeira vez, o quanto a derrubada da vegetação reduz o volume de chuvas, diminui a capacidade de geração das hidrelétricas e aumenta o uso de fontes mais caras e poluentes, como as termelétricas.

Com menos água disponível, aumenta-se o uso de fontes mais caras e poluentes. Isso resulta no aumento do custo da energia elétrica, repassado ao consumidor e pressionando a inflação. Pela primeira vez, a equipe desenvolveu uma metodologia para quantificar a perda na geração elétrica e o prejuízo causado pela retirada de vegetação em cada trecho da Amazônia por onde passou o vento que deveria ter levado umidade para as bacias de captação de cada hidrelétrica.

As chuvas da floresta também são essenciais para a agricultura. Diversos estudos comprovam que os chamados "rios voadores" da Amazônia transportam umidade para o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, irrigando as lavouras de soja, milho e cana-de-açúcar no Mato Grosso, interior de São Paulo e outros polos agrícolas. Em 2023 e 2024, estiagens intensas afetaram severamente essas regiões, provocando quebra de safra e contribuindo para a inédita retração de 1,3% no PIB do agronegócio brasileiro em 2024. Essa queda na produção fez com que os preços dos alimentos disparassem nos supermercados, contribuindo diretamente para a inflação.

A relação entre a floresta e as chuvas, e entre as chuvas e o preço da energia e alimentos, está clara. Energia e alimentos são os itens mais pesados na cesta de produtos que influenciam o custo de vida dos brasileiros. É isso que mais pressiona a inflação para cima ou para baixo. Ora, se a relação está evidente, está mais do que na hora de os economistas brasileiros começarem a criar métodos para relacionar o status das florestas com a inflação.

O Banco Central tem por missão proteger a moeda brasileira. Deveria, por obrigação, estabelecer metas de redução do desmatamento até chegarmos a zero e começarmos a recuperar a floresta. Garantir florestas de pé não é apenas uma política ambiental, mas uma política econômica estratégica para estabilizar preços e proteger a economia do Brasil.

 

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