Quem mora perto de casas noturnas se queixa da falta de tranquilidade durante as festas. É o eterno impasse entre quem deseja sossego e quem quer se divertir
DANIEL
GUERRA dguerra@jornaldacomunidade.com.br
Redação
Jornal da Comunidade
Descansar,
relaxar ou dormir em um ambiente próximo a uma festa barulhenta é praticamente
impossível. Empolgado, quem está se divertindo simplesmente ignora o direito
alheio à tranquilidade. Janelas tremem, a cabeça dói e não há sono que resista.
Brasília, a exemplo de diversas outras grandes capitais brasileiras, convive
com o impasse entre moradores em busca de sossego e proprietários de
estabelecimentos comerciais noturnos de grande movimento. Bares, restaurantes,
boates e casas de shows figuram na lista das recordistas de reclamações.
Foto:
Sebastião Pedra/Cedoc – Bares e casas noturnas localizados nas proximidades de
residências geram conflitos com os moradores e figuram na lista dos recordistas
de reclamações.
Em
cidades planejadas para grandes construções e casas de grande porte, como Lago
Sul, Lago Norte e Park Way, as festas particulares promovidas em mansões
produzem o som que incomoda os moradores. Já em cidades com ruas mais estreitas
e com comércios muito próximos às áreas residenciais, como Guará, Cruzeiro e
Sudoeste, os bares são os responsáveis pelo barulho.
Brunna
Modesto, estudante de 22 anos e moradora da QE 4 do Guará, convive com o
barulho noturno de um grande bar da cidade. Há alguns anos o estabelecimento
passou por uma reforma e ganhou um espaço no subsolo, um pub que, segundo ela,
aumentou o movimento no local.
“É
difícil dormir com as pessoas conversando em voz alta nas mesas do barzinho,
com a música e com as buzinas no estacionamento”, reclama Brunna. Ela mora no
segundo andar do prédio, em frente ao bar. Porém, explica que a situação já
esteve mais crítica. “As pessoas têm frequentado bastante o pub e lá as paredes
vedam o som”, explica. A estudante conta que, apesar do barulho, o ambiente é
tranquilo e raramente ocorrem confusões.
Brunna
também se queixa do barulho durante os jogos de futebol. “Eles transmitem (os
jogos) no bar com vários televisores. Normalmente no domingo, dia de descanso.
Com o futebol, não há como conter o ímpeto do pessoal nas comemorações”,
conclui a estudante.
O
advogado Luiz Felipe Sá, 34 anos, mora na quadra 15 do Park Way. Próximo à
residência dele há uma mansão onde frequentemente acontecem festas com a
presença de grandes multidões. “Normalmente são eventos pagos, de grande porte,
com bandas tocando ao vivo. A maioria vai até a madrugada. Além da música
alta, o som automotivo antes das festas é ensurdecedor”, desabafa o advogado.
Gustavo
Cavalcante, gerente comercial da Paulo Baeta Empreendimentos Imobiliários,
orienta as pessoas a pesquisarem bem a vizinhança antes de finalizar a compra
de um imóvel. “Localização é fundamental. É importante passar pelo local em
diferentes dias e horários”, diz. Gustavo cita que não é comum haver
desvalorização financeira nesses imóveis, mas é possível que surjam pequenas
dificuldades na hora da venda.
Academia faz festas e não respeita os horários
Algumas
vezes os pedidos de silêncio e compreensão são ignorados. A PM do DF informou
que o horário e o tipo de música executada no estabelecimento comercial devem
estar de acordo com o alvará de funcionamento expedido pelas administrações
regionais. Com relação à contravenção penal de perturbação da tranquilidade,
todo cidadão que se sentir ofendido pode solicitar a presença da PM pelo
telefone 190.
Cabe ressaltar que é necessária a presença da parte ofendida para tal solicitação e deslocamento à delegacia.
Cabe ressaltar que é necessária a presença da parte ofendida para tal solicitação e deslocamento à delegacia.
Em
Taguatinga alguns moradores também reclamam do barulho de certos
estabelecimentos. A cidade é famosa por oferecer muitas opções de bares,
restaurantes e boates. Mas o que tem tirado o sossego do supervisor de vendas
C.B., 48 anos, morador da QNE 7, é uma academia.
Segundo
ele, que pediu para não ser identificado, as atividades típicas do local,
durante o dia e parte da noite, não roubam sua paz. Mas a cada 15 dias festas
noturnas são promovidas no espaço e não respeitam horários.
C.B.
explica que, apesar de morar em um prédio diferente daquele onde funciona a
academia, os imóveis são no mesmo andar e separados por uma parede. “As músicas
são de mau gosto e muitas palavras de baixo calão são gritadas na janela. É
possível ver seguranças particulares nas entradas do prédio quando há evento.
Tenho filhos adolescentes e me preocupo. Já liguei inúmeras vezes para a
polícia e raramente vem uma viatura”, diz.
Ele
acha que a ação da polícia poderia ser mais efetiva. “Quando os policiais são
deslocados até aqui, o pessoal da festa abaixa o som e espera eles irem embora
para retomar o barulho. Ficamos sem ter a quem recorrer”, diz. Ele conta que
não é o único insatisfeito no prédio e todos têm medo de ser alvos de
represálias.
Clayton
Machado, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de
Brasília (Sindhobar), explica que muitas vezes falta bom senso, também, a quem
reclama do barulho. Para ele, o fato de Brasília ser uma cidade com endereços
mistos (residências e comércios no mesmo prédio ou muito próximos) é responsável
por boa parte das queixas. “No Sudoeste, por exemplo, os prédios comerciais são
construídos para este fim. Mas o cidadão compra ou aluga uma loja nos andares
de cima para usar como quitinete residencial e posteriormente reclama”, diz.
Clayton
diz que é comum haver choques de horários nesse tipo de estabelecimento. “A
pessoa chega em casa após as 18 horas querendo descansar, é um direito de todo
trabalhador. Só que é nesse horário que os bares e restaurantes próximos estão
iniciando o período de maior movimento”, conclui o presidente do sindicato
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