quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
O Correio Braziliense percorreu o centro da cidade pedindo a cidadãos
que depositassem numa urna votos de natal para os políticos em 2014
A voz da ruas quer ser ouvida
Em um ano marcado pelos protestos no país, brasilienses depositam em uma
urna pedidos ao Papai Noel. Fim da corrupção e mais investimentos em
saúde, educação e transporte são as principais demandas.
Julia Chaib
Os presentes de Natal que a população espera dos políticos em 2014 são
antigos conhecidos de Papai Noel. Com uma urna, o Correio percorreu o
centro de Brasília para saber o que o eleitor quer para o ano que vem. A
maioria dos desejos são por honestidade, pelo fim da corrupção, mais
investimento em saúde, educação e transporte público. Muitos desses
pedidos já haviam emergido das ruas, quando o “gigante acordou” por
algumas semanas no meio do ano, mas seguem sem solução. São demandas que
devem perseguir os políticos no próximo ano, que será marcado pela Copa
do Mundo e pelas eleições.
Na avaliação do cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade
de Brasília, os desejos da população são aspirações permanentes de que
os políticos ajam com mais correção e cumpram as promessas feitas. “São
quase solicitações, que não precisariam sequer serem pedidas, mas acabam
sendo para o brasileiro, porque estamos longe de ter um padrão de
performance política. A insatisfação é latente e muito grande”, analisa
João Paulo Peixoto, que estuda o funcionamento das instituições
públicas.
Peixoto acredita que, mesmo com um recuo nas manifestações, o ano que
vem será marcado por mais protestos. “Certamente, será um ano eleitoral
de desafios para os candidatos. Há dois polos que estimulam os atos: as
eleições e a Copa do Mundo. É natural que as pessoas interessadas em se
fazer ouvir e enxergar aproveitem para colocar os pedidos em panos
quentes”, diz. A estudante do ensino médio Gabriela Faria Mendes, 18
anos, faz parte do perfil de jovens que participaram das manifestações
neste ano. Ela diz que fará questão de ir aos protestos no ano que vem.
“Espero transparência política. Gostaria que os políticos tivessem mais consciência popular. Que ouvissem mais o que a população pede.”
“Espero transparência política. Gostaria que os políticos tivessem mais consciência popular. Que ouvissem mais o que a população pede.”
O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, doutor em direito pela
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), também acredita que 2014
será palco de protestos. Para o especialista, os atos de 2013 foram uma
manifestação generalizada em torno da qualidade dos serviços públicos e
um divisor de águas na política. “Ninguém esperava pelos protestos. A
presidente Dilma levou de três a quatro dias para fazer um
pronunciamento oficial sobre o assunto. Ficamos assistindo a um embate
entre manifestantes e polícia, sem que nenhuma autoridade se
pronunciasse”, diz o cientista, que é integrante do Instituto de
Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
O ano de 2013 também entrará para a história como o da prisão dos
políticos envolvidos no processo do mensalão, esquema de compra de votos
no Congresso Nacional durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da
Silva. Mas, para algumas pessoas ouvidas pelo Correio, o julgamento não
foi suficiente para assegurar o fim dos malfeitos.
De 50 cédulas depositadas na urna, os pedidos por honestidade e fim da corrupção lideraram os desejos. O ajudante de cozinha e estudante de direito Fernando Mascarenhas, 28 anos, quer mais honestidade. “Gostaria que os políticos honrassem a palavra deles e cumprissem o que prometem quando vão pedir votos à população”, disse, antes de depositar a cédula na urna. A arquiteta Flávia Portela, 52 anos, também espera mais competência dos governantes. “Que haja menos apadrinhamento e mais seriedade nas decisões”, disse.
De 50 cédulas depositadas na urna, os pedidos por honestidade e fim da corrupção lideraram os desejos. O ajudante de cozinha e estudante de direito Fernando Mascarenhas, 28 anos, quer mais honestidade. “Gostaria que os políticos honrassem a palavra deles e cumprissem o que prometem quando vão pedir votos à população”, disse, antes de depositar a cédula na urna. A arquiteta Flávia Portela, 52 anos, também espera mais competência dos governantes. “Que haja menos apadrinhamento e mais seriedade nas decisões”, disse.
Depois de honestidade e fim da corrupção, o pedido que mais apareceu foi
o investimento em saúde.
“E uma área que precisa de atenção”, disse o técnico em secretariado Elisvaldo Rocha, 28 anos, que depositou a cédula com a sobrinha Maria Eduarda Nunes Magalhães, 12 anos, e a amiga da menina, Giovana Fernandes Teixeira, 9 anos. Segundo Monteiro, as pesquisas de opinião geralmente colocam a saúde como a principal preocupação da população, seguidas por preocupação com segurança, transporte, emprego e educação. “Mais uma vez, as pessoas estão dizendo, as prioridades estão aí, estão colocadas, vocês (os políticos) que não querem ver, não querem enxergar.”
Mais investimento em educação e transporte são anseios que aparecem logo
depois de saúde. Consciência dos políticos e compromisso com a
população, transparência, cidadania e justiça também são qualidades
esperadas para o ano que vem. Em duas cédulas, o recado pede por
melhorias em presídios. O setor recebeu mais atenção nas últimas
semanas, com a prisão de condenados pelo mensalão e de vantagens
concedidas a alguns deles na Papuda. “A comida é muito ruim”, diz uma
das notas. Ainda apareceram entre os desejos o fim do voto secreto,
investimento em políticas para deficientes físicos e respeito ao
Estatuto do Idoso.
Fonte: Correio Braziliense
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