quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Brasilia: Capital Federal das favelas!

A 2ª maior favela do país fica a 30km do Palácio do Planalto

  • Grilagem leva a enorme loteamento, onde esgoto corre a céu aberto no DF
Roberto Maltchik
Karine Rodrigues 
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Condomínio Sol Nascente, uma área não regularizada na periferia de Brasília e que, segundo o IBGE, é a segunda maior favela do país com 56 mil moradores Foto: Sérgio Marques / O Globo
Condomínio Sol Nascente, uma área não regularizada na periferia de Brasília e que, segundo o IBGE, é a segunda maior favela do país com 56 mil moradores Sérgio Marques / O Globo
BRASÍLIA - Sem esgoto, sem segurança e sem saúde, Vera Lucia da Silva Cardoso, 49 anos, chora só de pensar na vida que levava antes de encontrar seu canto na segunda maior favela do Brasil. Dona Vera, cearense, mãe de dois filhos, diz que conheceu a felicidade há seis anos, quando um "grileiro desses" lhe cobrou R$ 5 mil para viver o sonho da casa própria na Área de Regularização de Interesse Social (Aris) Sol Nascente, no Distrito Federal, retrato fiel da exploração ilegal e indiscriminada de terras alheias na capital do país.


A maior favela do Distrito Federal - a cerca de 30 quilômetros do Palácio do Planalto - tem 56.483 moradores, em 15.737 domicílios. Só perde em população para a Rocinha, no Rio, com seus 69.161 habitantes, de acordo com o censo de 2010 do IBGE.
 
Gigantesco loteamento com 56,4 mil habitantes

Como nos outros 35 aglomerados subnormais - nomenclatura dada pelo governo para definir área de ocupação irregular e com ausência de serviços públicos - do DF, que somam 133.556 moradores, a Aris Sol Nascente é um gigantesco loteamento.

Ali, poucos exploradores ganharam muito, vendendo terras da União ou se apossando de chácaras mal preservadas para enriquecer nas barbas do poder.

- Vi uma placa e achei um grileiro, que me vendeu esse pedaço. Não tinha nada aqui, só uma casinha e mato. Abençoado grileiro, que me tirou do aluguel - conta a diarista, emocionada, que só reclama do lixo e do esgoto a céu aberto, que junta ratos e baratas.

Ali, o abandono é a marca, e o teto, o consolo. Otacílio Souza Araújo, comerciante, 42 anos, é um dos pioneiros. Chegou em 2004, e só por duas vezes teve o grato prazer de encontrar os agentes do Programa Saúde da Família (PSF), braço preventivo de ações de saúde pública em todo o país. Se, para Vera, o sonho é a Sol Nascente, para Araújo, a favela é motivo de vergonha.

- Isso aqui é ruim demais. Só moro aqui porque não tenho outro lugar para onde ir. Estou aqui me escondendo da chuva - disse, sentado sobre o balcão de seu mercadinho vazio, minutos depois de limpar a lama acumulada na ruela onde vive e trabalha, depois do temporal da última sexta-feira.
No DF, segundo dados do Censo 2010, há cerca de 36 mil domicílios em aglomerados subnormais.

Desse total, 34.470 possuem rede geral de distribuição de água, uma enormidade em comparação às grandes favelas do Rio de Janeiro e São Paulo. Além disso, 5.487 domicílios têm rede geral de esgoto ou pluvial, 7.211 têm fossa séptica, 23.703 têm outro tipo de esgotamento sanitário e 71 domicílios não têm banheiro ou sanitário.

O Distrito Federal tem o segundo pior percentual de domicílios precários com energia elétrica adequada (45,3%), atrás apenas de Roraima (15,8%). O IBGE enquadra na categoria adequado o domicílio com energia de companhia distribuidora ou medidor de uso exclusivo.

Na Sol Nascente, Otacílio paga luz e água à empresa pública. Vera não paga nada e sobrevive das gambiarras.

O Censo de 2010 também confirmou um desgastado bordão de Brasília: a cidade das diferenças, dos contrastes. Centro rico, periferia pobre. As áreas semeadas pelas invasões, como Ceilândia, onde fica a Sol Nascente, e o chamado entorno - a borda do DF, onde Goiás e Brasília disputam para saber de quem é a culpa pela ausência de serviços públicos - concentram praticamente todas os domicílios em favelas: 97,7%.

É o segundo maior percentual entre as 20 maiores regiões metropolitanas com as maiores quantidades de domicílios em aglomerados subnormais do país. Perde apenas para Natal, que tem 100% dos domicílios em aglomerados subnormais em regiões metropolitanas.

Na Sol Nascente, de tão grande, existe a favela da favela, às margens do Córrego das Corujas, que quando chove mostra a dura face da miséria. A enxurrada varre o lixo e represa a água, que transborda para as casas construídas em área de risco e preservação ambiental. Na ponte precária, portal de acesso à favela, uma Kombi desceu um barranco este ano e quase provocou uma tragédia.
 
"Estamos à mercê", resigna-se moradora
É lá que vive a professora Maria do Socorro Resende Lima, 44 anos, desempregada. Há 15 dias, o governo do DF notificou as famílias e prometeu removê-las. Só não informou o destino.

- Enquanto isso, a gente continua aqui. Não tem nem endereço para receber uma correspondência.

Estamos à mercê - resigna-se Socorro, que diz que a coleta de lixo só passa depois do alagamento.

Segundo o IBGE, de 36.472 domicílios em aglomerados subnormais no Distrito Federal, em 19.557 o lixo é coletado diretamente pelo serviço de limpeza. Em 11.895, em caçamba de serviço de limpeza.

Em 5.020, o IBGE classifica como "outras". No caso da Sol Nascente, pode ser nenhum.


O numero de pessoas morando em favelas cresceu mais de 50% na região metropolitana de Brasília, aponta Ipea
02/12/2013 - 

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro- O número de pessoas morando em favelas na região metropolitana de Brasília cresceu mais da metade em dez anos. A capital federal está na contramão do restante do país, onde, em média, a população brasileira cresceu 14,5% entre 2000 e 2010 e a quantidade de pessoas morando em favelas aumentou 6%. Em Brasília, no entanto, o número de indivíduos em favelas subiu 50,7%.

A informação consta do estudo Cidades em Movimento: Desafios e Políticas Públicas, divulgado hoje (2) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base no Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa trata de mobilidade, fluxos migratórios e evolução de favelas no país, identificadas pela precariedade das condições de moradia.

Segundo o estudo do Ipea, Brasília está entre as capitais onde a população morando em favelas mais cresceu em uma década: 50,7%. Em seguida vem Manaus (29,2%), Belém (14,7%) e Rio de Janeiro (9,3%). De acordo com o presidente do Ipea, Marcelo Neri, o estudo não é conclusivo, mas indica a verticalização das favelas, reflexo do aumento do preço dos imóveis em grandes centros.

Responsável pelo estudo, o pesquisador Rogério Boueri ressaltou ainda que no Entorno de Brasília, onde está a maioria desses conglomerados, há um “boom imobiliário” que tem elevado os preços dos imóveis, especialmente nas regiões de baixa renda. “As pessoas estão sendo expulsas para áreas com mais favelização como Águas Lindas de Goiás, Valparaíso e Cidade Ocidental“, citou.

Por outro lado, entre as maiores regiões metropolitanas do país, diminuiu o número de pessoas morando nessas condições: Curitiba (22,1%), Belo Horizonte (12,8%) e Porto Alegre (6%), resultado da “redução da desigualdade (socioeconômica) e da pobreza”, diz o documento.

O número de pessoas vivendo nas favelas passou de 10,6 milhões para 11,2 milhões, entre 2000 e 2010, em todo o país. Em geral, foram classificados como favelas aglomerados urbanos localizados geograficamente com base na renda e número de banheiros por domicílio.

Edição: Aécio Amado 

Distrito Federal está a um passo de ter a maior favela da América Latina 

 O crescimento desordenado faz do Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia, o lar de 61 mil pessoas, segundo dados oficiais. Mas hoje podem ultrapassar 100 mil, o que deixaria a região como a mais populosa comunidade carente da América


Saulo Araújo
Publicação: 08/05/2013 06:19 Atualização: 08/05/2013 10:39



A diarista Paula Alves Ferreira, 42 anos, aponta para o fim da rua esburacada, no Trecho 1 do Condomínio Sol Nascente, em Ceilândia. Mostra que a região ocupada por barracos e biroscas há 12 anos não passava de um enorme cerrado. No período, ela viu casas se multiplicarem. Com a chegada de tantos moradores, os problemas não demoraram a aparecer. As terras da chácara de Paula, antes férteis, pararam de dar frutas e verduras devido à contaminação do solo. O lugar, tranquilo, tornou-se palco de crimes de toda ordem.  

Em pouco mais de uma década, a zona rural escolhida pela trabalhadora para viver com a família se transformou na segunda maior favela da América Latina, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só fica atrás da Rocinha, no Rio de Janeiro.
Vista geral do Sol Nascente : após três décadas de ocupação irregular e da ação de grileiros, a antiga área rural sofre com a falta de infraestrutura (Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press - 22/3/13)
Vista geral do Sol Nascente : após três décadas de ocupação irregular e da ação de grileiros, a antiga área rural sofre com a falta de infraestrutura

Três décadas atrás, os primeiros chacareiros chegaram à região. Em 1999, grileiros começaram a atuar no local, ainda no governo Joaquim Roriz, mas a migração em massa teve início no terceiro mandato de Joaquim Roriz, em 2004. Com 61 mil moradores e crescimento populacional desordenado, o Sol Nascente caminha para ocupar o topo do ranking de maior comunidade pobre do país — incrustada em um morro, a comunidade carioca da Rocinha praticamente não tem mais espaço físico para se expandir. Lideranças comunitárias garantem que, hoje, são pelo menos 100 mil pessoas na região do DF — o GDF não reconhece o número.

2 comentários:

Anônimo disse...


Lendo os últimos textos. Muito bons!
Serena.

Associação Park Way Residencial disse...

Oi Serena.Leia tb no BLOG a mensagem " Diga não ao comercio no Park Way".Os comentários a essa mensagem são ótimos e foram feitos por moradores do Park Way.

Que bom que vc percebeu o risco que corremos.

Qto ao FB eu criei uma conta em nome da Associação Park Way Residencial mas não divulguei.Uso só para divulgar noticias que acho interessantes.

Criei agora nesse BLOG uma janela chamada Ultimas Noticias com mensagens apenas para os moradores do Park Way.