“Eu não entraria num avião pilotado por um cotista. Nem aceitaria ser operado por um médico cotista”.
O fuzilamento da direita
Guilherme Fiuza, Revista ÉPOCA
NO BRASIL DE HOJE, COMO SE SABE, NINGUÉM é de direita. Ou melhor: a
direita existe, mas é uma espécie de sujeito oculto, que só aparece
para justificar os heróicos discursos da esquerda – eterna vítima dela.
Lula governou oito anos, promoveu seus companheiros aos mais altos
cargos e salários estatais, fez sua sucessora, e a esquerda continua
oprimida pela elite burguesa. É de dar pena. Nessa doce ditadura dos
coitados, é preciso cuidado com o que se fala. Os coitados são muito
suscetíveis. Foi assim que o deputado federal Jair Bolsonaro foi parar
no paredão.
Bolsonaro é filiado ao Partido Progressista, mas é uma espécie de
reacionário assumido. Defende abertamente as bandeiras da direita –
que, como dito acima, não existem mais. Portanto, Bolsonaro não existe.
Mas fala – e esse é seu grande crime.
Depois da polêmica entrevista
do deputado ao CQC, da TV Bandeirantes, o líder do programa, Marcelo
Tas, recebeu e-mails de telespectadores revoltados. Parte deles
protestava contra o próprio Tas, por ter dado voz a Jair Bolsonaro. Na
Constituição dos politicamente corretos – assim como nas militares -,
liberdade de expressão tem limite.
A grande barbaridade dita por Bolsonaro no CQC, em resposta à
cantora Preta Gil, foi que um filho seu não se casaria com uma negra,
por não ser promíscuo. Uma declaração tão absurda que o próprio Marcelo
Tas cogitou, em seguida, que o deputado não tivesse entendido a
pergunta.
Foi exatamente o que Bolsonaro afirmou no dia seguinte.
Estava falando sobre homossexualismo e não percebeu que a questão era
sobre racismo: “A resposta não bate com a pergunta”, disse o deputado.
Se Jair Bolsonaro é ou não é racista, não é essa polêmica que vai
esclarecer. No CQC, pelo menos, ele não disparou deliberadamente contra
os negros. Estava falando de promiscuidade, porque seu alvo era o
homossexualismo. O conceito do deputado sobre os gays é, como a maioria
de seus conceitos, reacionário. A pergunta é: por que ele não tem o
direito de expressá-lo?
Bolsonaro nem sequer pregou a intolerância aos gays. Disse inclusive
que eles são respeitados nas Forças Armadas. O que fez foi relacionar o
homossexualismo aos “maus costumes”, dizendo que filhos com “boa
educação” não se tornam gays. É um ponto de vista preconceituoso, além
de tacanho, mas é o que ele pensa. Seria saudável que os gays, com seu
humor crítico e habitualmente ferino, fossem proibidos de fustigar a
truculência dos militares? A entrevista também passou pelo tema das
cotas raciais. Jair Bolsonaro declarou o seguinte: “Eu não entraria num
avião pilotado por um cotista. Nem aceitaria ser operado por um médico
cotista”.
É a resposta de um reacionário, um dinossauro da direita, prescrito
pelas modernas ideologias progressistas e abominado por sua lealdade ao
regime militar. Mas é uma boa resposta. E agora? Agora o Brasil
bonzinho vai fazer o de sempre: passar ao largo do debate e choramingar
contra a direita. Eis um caminho de risco zero. Processar Bolsonaro, o
vilão de plantão, é vida fácil para os burocratas do humanismo. No
reinado do filho do Brasil, até o nosso Delúbio, com a boca na botija
do mensalão, gritou que aquilo era uma conspiração da direita contra o
governo popular. O filão é inesgotável (rsss).
Cutucar o conservadorismo destrambelhado de Bolsonaro é atração
garantida. Mas censurá-lo em seguida não fica bem. Parece até coisa dos
antepassados políticos dele. A metralhadora giratória do capitão
dispara absurdos, mas não está calibrada para fazer média com as
minorias – e isso é raro hoje em dia. De mais a mais, se manifestantes
negros podem tentar barrar um bloco carnavalesco que homenageia
Monteiro Lobato, por que um deputado de direita não pode ser contra o
orgulho gay e as cotas raciais? Vai ver o preconceito também virou
monopólio da esquerda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário