Autor(es): IVAN IUNES |
Correio Braziliense - 10/01/2014 |
De
tempos em tempos, situações que escapam ao controle do marketing
político jogam na casa dos brasileiros o estado de emergência do sistema
carcerário do país. A crise, mesmo esquecida ao fim de cada ciclo,
envolve matemática complexa: a absoluta falta de controle das
autoridades sobre as unidades prisionais é inversamente proporcional ao
aumento da população que cumpre pena — já somos o quarto país do mundo
no quesito. O saldo não poderia ser diferente. Sem uma política que fuja
do cosmético, as masmorras medievais pulsam.
O
primeiro aviso de que uma granada estava prestes a explodir no setor
veio na década de 1970, com as organizações criminosas formadas no
cárcere, a mais notória delas a Comando Vermelho. A sucessão de
rebeliões e a articulação entre presos de diferentes presídios
impulsionaram o aumento do tráfico de drogas, especialmente no Rio, a
partir da década de 1980, e conseguiu a proeza de parar a maior cidade
do país, em 2006. Na ocasião, a onda de violência em São Paulo contou
mais de 100 ataques criminosos e forçou, em plena democracia, a
decretação de um toque de recolher.
Desde
os atentados na capital paulista, a sucessão de absurdos não para.
Ataques articulados de dentro dos presídios foram registrados em Santa
Catarina, Rondônia, Mato Grosso do Sul. A coisa se alastra a tal ponto, e
com tal velocidade, que não poupa coloração partidária. Não importa a
bandeira política, todos se enrolaram, em algum momento, diante da
situação. Vale lembrar que o Presídio Central de Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul, foi apontado como o pior do país. Ou seja, o Maranhão de
hoje será o RS amanhã — ou Rondônia, com a famigerada penitenciária de
Urso Branco. Candidatos não faltam.
Dentro
do caldeirão, sobram culpados. Executivo, Legislativo, Judiciário.
Todos os Poderes falham no combate à crise no sistema carcerário. Que
ninguém se engane com os números. A maquiagem é de praxe e
institucionalizada nas secretarias de Segurança Pública estaduais país
afora. O Brasil real é muito pior do que o sugerido pela estatística.
A
barbárie no Maranhão é replicada por todo o país. A crise obedece a uma
lógica de latência de décadas, em que, a cada pulso, maior é a
consternação com o cenário de terror. Temos uma política carcerária
mínima para dar conta de um problema imenso. É o mesmo que exigir de um
rato que equilibre o elefante sobre os ombros.
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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Fábrica de absurdos
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