De onde vêm as armas do crime em São Paulo?
Atualizado em 13 de janeiro, 2014 - 15:39 (Brasília) 17:39 GMT
Com 19 milhões de habitantes em
sua área metropolitana, São Paulo é uma cidade imponente por seu
tamanho, diversidade e dinamismo econômico. Mas a cidade é também um
grande mercado para as armas, com mais de 14 mil confiscadas durante
2011 e 2012.
O levantamento da ONG Sou da Paz,
com sede em São Paulo, também revelou que ao analisar-se exclusivamente
as armas de maior poder de fogo apreendidas na cidade, como fuzis,
carabinas e submetralhadoras, a maioria (56%) vem do exterior e mais de
um terço (35,6%) são americanas.
"Nos surpreendeu que os Estados Unidos sejam o maior provedor de armas (com alto poder de fogo) do crime em São Paulo", disse Bruno Langeani, um dos autores do estudo divulgado à BBC.
Langeani atribui o fenômeno à maior "facilidade" que existe nos Estados Unidos para que civis possam adquirir armas de guerra. Segundo ele, isso tem um impacto na violência doméstica do país e também em outras partes da América Latina.
"No fenômeno dos carteis mexicanos, essa participação de armas norte-americanas já estava bastante identificada. E com essa pesquisa mostramos que isso vai mais longe. Essas armas estão chegando ao Brasil", disse.
No entanto, os especialistas acreditam que sua presença na lista é inquietante.
"Elas (as armas de grosso calibre) têm uma capacidade de destruição muito maior, atravessam tranquilamente os veículos usados pela polícia", argumenta Langeani.
No Brasil há restrições legais para que os civis
tenham acesso a este tipo de armas. Por causa disso, uma hipótese é que
elas chegaram a São Paulo por meio do comércio clandestino.
Mas isto só poderá ser confirmado quando for realizado um rastreamento das armas apreendidas por sua numeração, algo previsto para uma próxima etapa do estudo.
Ainda assim, a indústria brasileira apareceu no estudo como a segunda grande fonte de armas de maior poder de fogo confiscadas em São Paulo (21% do total) e ao separá-las por marcas, a empresa Taurus (11%) também ficou no topo.
A Argentina apareceu como o terceiro país a abastecer o crime paulista de armas com alto poder de fogo (4,7%), com uma particularidade: todas as armas argentinas vinham da Dirección General de Fabricaciones Militares - órgão do Ministério da Defesa do país a cargo da fabricação de armamento - e tinham gravado o emblema do Exército argentino.
"Temos quase certeza de que foram armas desviadas ilegalmente do Exército", disse Langeani.
O estudo citou este dado para pedir uma maior regulamentação do comércio internacional, argumentando que "muitas vezes as armas vendidas a instituições supostamente preparadas para um controle rigoroso de armas acabam desviadas para a criminalidade".
Os pesquisadores acreditam que as armas de maior poder de fogo em São Paulo são adquiridas pelo crime organizado, por causa de seu alto preço (um fuzil pode custar mais de US$ 8 mil ou R$ 19 mil) e por que quase um terço das apreensões estavam ligadas ao tráfico de drogas.
Acredita-se que o mesmo ocorre em outras grandes cidades brasileiras.
Uma pesquisa sobre o tráfico de armas realizada pela Câmara dos Deputados em 2006 revelou que 4,4% das apreensões realizadas no Rio de Janeiro entre 1993 e 2003 eram fuzis, que costumam ser usados por quadrilhas para exercer o controle territorial das favelas.
As armas de fogo estão estreitamente ligadas à violência que o Brasil viveu nas últimas décadas.
O levantamento Mapa da Violência, divulgado no ano passado, afirmou que entre 1980 e 2010 as mortes por armas de fogo no país cresceram 346,5% e chegaram a quase 800 mil. A maior parte das vítimas são jovens entre 15 e 29 anos.
Outro estudo do Instituto Sou da Paz também afirmou que três de cada cinco homicídios cometidos em São Paulo, entre janeiro de 2012 e junho de 2013, foram realizados com armas de fogo.
O Brasil aprovou há uma década o Estatuto do Desarmamento para restringir o acesso às armas de fogo e conseguiu reduzir em 2004 a quantidade anual de homicídios com uma grande campanha para a entrega voluntária de armas pelos civis.
No entanto, Julio Jacobo Waiselfisz, sociólogo autor do Mapa da Violência, disse recentemente à BBC que esse esforço nunca se repetiu com a mesma intensidade e grupos de pressão pró-armas conseguiram "praticamente paralisar" o estatuto com diversas modificações.
O novo estudo sobre as armas em São Paulo mostrou que a indústria brasileira é a preferida pelos criminosos na hora de se armarem: quatro das cinco armas mais confiscadas são revólveres ou pistolas da marca Taurus; a outra é um revólver Rossi 38, também fabricado no país.
Outra conclusão do estudo foi que um quarto das armas de fogo apreendidas na maior cidade do Brasil entre 2011 e 2012 eram de brinquedo ou falsificadas - o que segundo os autores é uma alternativa para os criminosos diante da possível dificuldade de conseguir revólveres ou pistolas.
Eles acreditam, no entanto, que a maior ênfase deve ser posta na grande quantidade de armas de fogo reais que há no país.
"Nos surpreendeu que os Estados Unidos sejam o maior provedor de armas (com alto poder de fogo) do crime em São Paulo", disse Bruno Langeani, um dos autores do estudo divulgado à BBC.
Langeani atribui o fenômeno à maior "facilidade" que existe nos Estados Unidos para que civis possam adquirir armas de guerra. Segundo ele, isso tem um impacto na violência doméstica do país e também em outras partes da América Latina.
"No fenômeno dos carteis mexicanos, essa participação de armas norte-americanas já estava bastante identificada. E com essa pesquisa mostramos que isso vai mais longe. Essas armas estão chegando ao Brasil", disse.
'Capacidade de destruição'
As 231 armas de grosso calibre apreendidas em São Paulo entre 2011 e 2012 representaram menos de 2% do total confiscado na cidade por diversas contravenções (desde porte ilegal até homicídios).No entanto, os especialistas acreditam que sua presença na lista é inquietante.
"Elas (as armas de grosso calibre) têm uma capacidade de destruição muito maior, atravessam tranquilamente os veículos usados pela polícia", argumenta Langeani.
Armas de maior poder de fogo apreendidas em São Paulo, por nacionalidade
- EUA: 35.6%
- Brasil: 21%
- Argentina: 4,7%
- Bélgica: 3,7%
- Alemanha: 2,6%
- Israel: 2,6%
- China: 2,1%
- Itália: 1,5%
- Áustria: 1,1%
- Outros países: 2,1%
- Países não-identificados: 23%
- Total: 100%
Mas isto só poderá ser confirmado quando for realizado um rastreamento das armas apreendidas por sua numeração, algo previsto para uma próxima etapa do estudo.
Ainda assim, a indústria brasileira apareceu no estudo como a segunda grande fonte de armas de maior poder de fogo confiscadas em São Paulo (21% do total) e ao separá-las por marcas, a empresa Taurus (11%) também ficou no topo.
A Argentina apareceu como o terceiro país a abastecer o crime paulista de armas com alto poder de fogo (4,7%), com uma particularidade: todas as armas argentinas vinham da Dirección General de Fabricaciones Militares - órgão do Ministério da Defesa do país a cargo da fabricação de armamento - e tinham gravado o emblema do Exército argentino.
"Temos quase certeza de que foram armas desviadas ilegalmente do Exército", disse Langeani.
O estudo citou este dado para pedir uma maior regulamentação do comércio internacional, argumentando que "muitas vezes as armas vendidas a instituições supostamente preparadas para um controle rigoroso de armas acabam desviadas para a criminalidade".
Os pesquisadores acreditam que as armas de maior poder de fogo em São Paulo são adquiridas pelo crime organizado, por causa de seu alto preço (um fuzil pode custar mais de US$ 8 mil ou R$ 19 mil) e por que quase um terço das apreensões estavam ligadas ao tráfico de drogas.
Acredita-se que o mesmo ocorre em outras grandes cidades brasileiras.
Uma pesquisa sobre o tráfico de armas realizada pela Câmara dos Deputados em 2006 revelou que 4,4% das apreensões realizadas no Rio de Janeiro entre 1993 e 2003 eram fuzis, que costumam ser usados por quadrilhas para exercer o controle territorial das favelas.
Made in Brazil
O levantamento Mapa da Violência, divulgado no ano passado, afirmou que entre 1980 e 2010 as mortes por armas de fogo no país cresceram 346,5% e chegaram a quase 800 mil. A maior parte das vítimas são jovens entre 15 e 29 anos.
Outro estudo do Instituto Sou da Paz também afirmou que três de cada cinco homicídios cometidos em São Paulo, entre janeiro de 2012 e junho de 2013, foram realizados com armas de fogo.
O Brasil aprovou há uma década o Estatuto do Desarmamento para restringir o acesso às armas de fogo e conseguiu reduzir em 2004 a quantidade anual de homicídios com uma grande campanha para a entrega voluntária de armas pelos civis.
No entanto, Julio Jacobo Waiselfisz, sociólogo autor do Mapa da Violência, disse recentemente à BBC que esse esforço nunca se repetiu com a mesma intensidade e grupos de pressão pró-armas conseguiram "praticamente paralisar" o estatuto com diversas modificações.
O novo estudo sobre as armas em São Paulo mostrou que a indústria brasileira é a preferida pelos criminosos na hora de se armarem: quatro das cinco armas mais confiscadas são revólveres ou pistolas da marca Taurus; a outra é um revólver Rossi 38, também fabricado no país.
Outra conclusão do estudo foi que um quarto das armas de fogo apreendidas na maior cidade do Brasil entre 2011 e 2012 eram de brinquedo ou falsificadas - o que segundo os autores é uma alternativa para os criminosos diante da possível dificuldade de conseguir revólveres ou pistolas.
Eles acreditam, no entanto, que a maior ênfase deve ser posta na grande quantidade de armas de fogo reais que há no país.
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