GAZETA DO POVO - PR - 05/10
Com tantas questões urgentes merecendo análise sensata e serena nesta campanha, preferiu-se construir problemas imaginários e recorrer à mentira pura e simples na tentativa de amedrontar os eleitores
Em março do ano passado, a presidente Dilma Rousseff deixou a pista definitiva sobre como seria a campanha eleitoral deste ano: “Podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”, disse em João Pessoa (PB). Hoje, quando se realiza o primeiro turno do pleito, podemos dizer que pelo menos essa promessa foi cumprida, em maior ou menor nível, não só por Dilma, mas também por Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). Com tantas questões urgentes merecendo análise sensata e serena, preferiu-se construir problemas imaginários e recorrer à mentira pura e simples na tentativa de amedrontar os eleitores.
O terrorismo eleitoral, infelizmente, foi a tônica da campanha. Na economia, enquanto os problemas reais, como a inflação em alta, a produção industrial cambaleante e o rombo nas contas públicas (só para ficar em alguns poucos itens) não ganharam a discussão séria que mereciam, anúncios de propaganda política petista satanizavam a defesa da independência do Banco Central feita por Marina Silva, afirmando que tal medida causaria falta de comida na mesa do brasileiro, em uma improvável relação de causa e efeito.
A campanha de
Dilma também passou a insinuar que a candidata do PSB mexeria em itens
como 13.º salário e Fundo de Garantia caso eleita, tudo porque Marina
havia defendido a necessidade de atualizar a engessada legislação
trabalhista brasileira, ressaltando que nenhum direito do trabalhador
seria afetado. E a própria Dilma afirmou claramente, em 20 de setembro,
que o Bolsa Família “vai acabar se eles [Aécio ou Marina] forem eleitos”
– isso apesar de os dois principais adversários da presidente já terem
deixado clara a manutenção do programa de transferência de renda caso
vençam a eleição.
Já Marina batalhou para colar em seus adversários a pecha de representantes da “velha política”, apresentando-se messianicamente como a “nova política” (aparentemente não muito diferente do que os outros fazem) e, diante dos ataques sofridos, apelando ao vitimismo, como se isso, e não suas propostas, bastasse para conquistar o apoio dos brasileiros. E Aécio, que só terminou de divulgar seu plano de governo na sexta-feira passada, preferiu, ao longo da campanha, desconstruir não as propostas, mas a pessoa de Marina, batendo forte na tecla do “despreparo” da ex-senadora e ex-ministra, com quem disputa votos mais diretamente.
Boa parte dessas práticas recebe o apelido de “espantalho”. É a construção de uma caricatura simplista (ou puramente mentirosa) da posição adversária, caricatura essa que é muito mais fácil de atacar que o adversário real. Se dá trabalho discutir sobre o que poderia ser melhorado na CLT, ou no Bolsa Família, é muito mais fácil acusar o oponente de querer acabar com o 13.º salário ou a transferência de renda, e bater nele pelo que ele nunca disse ou propôs. É uma estratégia mentirosa que, infelizmente, se mostra eficaz, baseada no medo da população – basta recordar o episódio da corrida em massa a lotéricas e agências da Caixa em maio do ano passado, por supostos boatos de que o Bolsa Família acabaria (na época, a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, culpou a oposição, mas a Polícia Federal não encontrou nenhum indício de ação orquestrada).
Tudo indica que, na eleição presidencial, caminharemos para um segundo turno, embora ainda haja indefinição sobre quem seguirá na disputa pela faixa. Nossa esperança é a de que, caso se confirme a sequência da disputa, os candidatos se pautem pelo debate honesto e de alto nível, abandonando o terrorismo eleitoral que caracterizou este primeiro turno. O diabo já plantou espantalhos suficientes pelo Brasil; é hora de começar a derrubá-los.
Já Marina batalhou para colar em seus adversários a pecha de representantes da “velha política”, apresentando-se messianicamente como a “nova política” (aparentemente não muito diferente do que os outros fazem) e, diante dos ataques sofridos, apelando ao vitimismo, como se isso, e não suas propostas, bastasse para conquistar o apoio dos brasileiros. E Aécio, que só terminou de divulgar seu plano de governo na sexta-feira passada, preferiu, ao longo da campanha, desconstruir não as propostas, mas a pessoa de Marina, batendo forte na tecla do “despreparo” da ex-senadora e ex-ministra, com quem disputa votos mais diretamente.
Boa parte dessas práticas recebe o apelido de “espantalho”. É a construção de uma caricatura simplista (ou puramente mentirosa) da posição adversária, caricatura essa que é muito mais fácil de atacar que o adversário real. Se dá trabalho discutir sobre o que poderia ser melhorado na CLT, ou no Bolsa Família, é muito mais fácil acusar o oponente de querer acabar com o 13.º salário ou a transferência de renda, e bater nele pelo que ele nunca disse ou propôs. É uma estratégia mentirosa que, infelizmente, se mostra eficaz, baseada no medo da população – basta recordar o episódio da corrida em massa a lotéricas e agências da Caixa em maio do ano passado, por supostos boatos de que o Bolsa Família acabaria (na época, a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, culpou a oposição, mas a Polícia Federal não encontrou nenhum indício de ação orquestrada).
Tudo indica que, na eleição presidencial, caminharemos para um segundo turno, embora ainda haja indefinição sobre quem seguirá na disputa pela faixa. Nossa esperança é a de que, caso se confirme a sequência da disputa, os candidatos se pautem pelo debate honesto e de alto nível, abandonando o terrorismo eleitoral que caracterizou este primeiro turno. O diabo já plantou espantalhos suficientes pelo Brasil; é hora de começar a derrubá-los.
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