terça-feira, 7 de outubro de 2014

Visão argentina da estrutura economica brasileira


Mirada global

Brasil define lideranças para encarar uma guinada


Jorge Castro El Clarin

No dia 5 de outubro será o primeiro turno da eleição presidencial no Brasil, ponto culminante de uma campanha eleitoral de um mês e meio de duração - e de mudanças pela frente no maior país da América Latina.
Buenos Aires, 2 de setembro de 2014

Isso significa que, se nas primeiras duas semanas de campanha surgiu uma diferença significativa entre os três candidatos –Dilma Rousseff, Marina Silva, Aécio Neves–, uma tendência provavelmente irreversível, que anteciparia o nome do próximo mandatário, teria se instalado.

Quem for escolhido –inclusive Dilma em um segundo mandato– se verá forçado a inovar, modificando profundamente o statu quo, tanto econômico quanto político, perante a alternativa de aprofundar a atual situação de depressão, que fez com que nos últimos cinco anos o nível de expansão médio tenha sido de 1,5% anual (que seria +0,7% em 2014), somado a uma queda da taxa de crescimento potencial (5/10 anos), que agora é menos de 2% anual –estancamento estrutural de longo prazo–, o que no capitalismo em sua fase de globalização é sinônimo de crescente irrelevância.





China

Brasil foi (junto com a Austrália) o país do mundo mais favorecido pelo boom da demanda de matérias primas da China nos últimos 10 anos.


Esse posicionamento lhe permitiu crescer entre 2002 e 2010 o dobro (+5% por ano) que nas duas décadas prévias, quando a explosão da crise da dívida externa (governo Ernesto Geisel/1974-1979) o submergiu na profunda depressão atual.


Nesse período, a China se transformou em seu principal sócio comercial (2009) e mais de 60% de suas exportações foram matérias primas (62% em 2013), enquanto que sua participação nas vendas globais de commodities não petrolíferas passou de 5% em 2002 para 9% em 2012.

Classe média

Agora, o boom da demanda de matérias primas da China terminou ou pelo menos fez uma pausa até retomar o ritmo com a urbanização e o aparecimento da nova classe média.


O resultado é que para cada ponto de desaceleração da economia chinesa (neste ano cresce 7,5%), a capacidade de crescimento do Brasil diminui de forma mais do que proporcional. Isso deixa a economia brasileira submetida ao seu nível estrutural de produtividade, que é inferior a 1% anual nos últimos cinco anos, e que se expandiu entre 1990 e 2013 a uma taxa média de 1,2% por ano.

Esse não é um problema de desequilíbrio macroeconômico, mas de profundo atraso estrutural. O desenvolvimento capitalista é um fenômeno qualitativo –a passagem dos setores de baixa produtividade aos de produtividade mais elevada (novas indústrias)– e não uma mera expansão de caráter quantitativo, usualmente denominada crescimento econômico.





Seja Dilma, Marina ou Aécio o próximo presidente do Brasil, é forçoso que coloque 100% de sua atenção no deslocamento da proteção das indústrias no mercado doméstico ao fortalecimento sistemático de sua competitividade/produtividade na economia global.


O Brasil precisa de uma guinada de 180° em sua orientação estratégica, que obrigue as empresas brasileiras a inovar, investir e se transnacionalizar.

O que breca o Brasil não é a conversão plena da economia global em um sistema hiperconectado e superintensivo de conhecimento avançado, mas suas barreiras internas; consequência de uma história de 50 anos do “projeto varguista” de substituição de importações.

Futuro

Agora o mundo mudou e o Brasil ainda não. Por isso o país se encontra diante de um ponto de inflexão, que coincide com a eleição de outubro. As gigantescas manifestações de junho do ano passado mostraram a incorporação de 40 milhões de brasileiros que abandonaram a pobreza e se agregaram à nova classe média nos últimos 10 anos, dentre eles sete milhões de estudantes universitários, que são seus filhos.


Há um enorme vazio político e uma carência fenomenal de líderes. Estão dadas todas as condições para que comece um ciclo de mudança em um dos grandes países do século 21.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Pobre jornalismo brasileiro. Precisou um jornalista espanhol para dizer com precisão e leveza o que levou Aécio à vitória.

 
Em artigo publicado no El País, mais importante jornal espanhol, intitulado " O segredo da virada de Aécio Neves", Juan Arias escreve o que os jornalistas brasileiros sabem, mas têm medo de escrever, patrulhados pela esquerda nojenta que domina as redações. Leia abaixo. 

Aécio Neves não só foi a surpresa final deste primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras como também sua vitória, maior do que a prevista em todas as pesquisas, deve-se a ele pessoalmente. Tratou-se quase de um fenômeno em termos de psicologia: sua capacidade de reação frente a uma derrota anunciada e de alguma forma já aceita até por seu partido.

Neves cresceu em vez de se apequenar quando o terremoto Marina Silva o esmagou de tal forma que ele foi inclusive aconselhado a desistir. Arregaçou as mangas e anunciou que seria o vencedor capaz de disputar um segundo turno contra a Presidenta candidata Dilma Rousseff, que era tudo o que o partido dela, o PT, não desejava.

Sua posição de terceiro na disputa, um candidato em quem ninguém apostava diante da força da ecologista Silva, o levou a reagir inclusive nos debates, que acabou vencendo.

Não sei se conscientemente ou não, o que garantiu a vitória a Neves foi o fato de ter aparecido em todas as suas manifestações exteriores, entrevistas e debates, como o mais brasileiro de todos os candidatos. Revelou isso de modo cristalino em sua despedida de um minuto e 40 segundos no último e mais importante dos debates televisivos, o da TV Globo, com 50 milhões de telespectadores.

Apesar de aparecer naquele momento como derrotado em todas as pesquisas, Aécio, ao contrário das suas duas adversárias principais, Rousseff e Silva, dirigiu-se à audiência com coração brasileiro, exalando confiança, ou seja, sem dureza, sem agressividade, agradecendo o carinho recebido em suas peregrinações pelo país, revelando sua vontade de prosseguir na disputa, e com a certeza da vitória.

Apresentou-se como candidato de todos os brasileiros, aos quais ofereceu certezas e capacidade de Governo, assim como a segurança de que possuía a receita para levantar o país da sua atual frustração. Emocionou-se e apelou à esperança hasteando a bandeira da mudança que a rua pedia. Foi naquela hora o único que acabou sendo aplaudido pela plateia presente.

Ex-senador e ex-governador do segundo Estado mais populoso do país, Minas Gerais, revelou em suas discussões com a candidata que liderava as pesquisas, Rousseff, sua capacidade dialética e uma forma firme, mas ao mesmo tempo brasileira, ou seja, não raivosa, de enfrentar suas adversárias políticas.

Aécio sempre foi criticado, quando na oposição, por não saber bater de frente com o governo. Atribuíam isso a esse espírito mineiro, mais propenso ao diálogo e aos acordos do que à guerra. Com esse espírito desarmado, enfrentou uma campanha levada a cabo sob o signo dos golpes baixos, sem se deter nem mesmo diante da mentira e das desqualificações pessoais.

Neves nunca caiu nessa armadilha e prosseguiu firme em seu esquema, convencido de que, apesar de ter sido quase selada sua derrota, ele continuava acreditando com fé firme em dar a volta por cima.Os votos reais, contrariamente ao que as pesquisas anunciavam até os levantamentos de boca de urna, o colocam a seis pontos da Dilma, muito pouco quando se pensa em como ele estava ao iniciar a aventura.

Dilma, que conseguiu menos votos do que na primeira vez em que foi escolhida, em 2010, agora enfrentará Neves, que aparece como surpresa ganhadora e que poderia contar a seu favor com até 60% dos votos da perdedora Marina.

Ele, que já foi surfista, lançou o slogan de que a “onda da razão” havia se erguido no mar da campanha, contra a onda do sentimento. Seu êxito consistiu em saber, com teimosia, querer ganhar. Também contribuiu para isso sua campanha propositiva e de esperança, as duas fibras do atual coração brasileiro: o afeto e ausência do medo e o sentimento dos brasileiros que, em junho de 2013, haviam começado a usar a razão para exigir um Brasil melhor, que é o que prometeu criar o candidato mineiro, prudente e ao mesmo tempo tenaz. 
 
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