Brasileiros insatisfeitos com economia e segurança
invadem Miami
- By Portal
Segundo uma advogada que trabalha na
cidade, o número de brasileiros em busca de ajuda para obter um
visto, comprar imóveis ou abrir firmas nos Estados Unidos aumentou dez vezes
desde a eleição de Dilma.
Pergunte a muitos brasileiros ricos por que eles estão se mudando
para o sul da Flórida e eles citarão problemas com a segurança e a fraca
economia do Brasil. Mas há outra explicação que pode ser expressa numa única
palavra e que Alyce M. Robertson, diretora executiva da Agência de
Desenvolvimento do Centro de Miami, ouviu com frequência numa recente viagem de
negócios ao Brasil: “Dilma”. “Depois da última eleição, conversamos com muita
gente preocupada em tirar seu capital do Brasil”, disse Robertson recentemente
em Miami. O que preocupa essas pessoas, tanto no Rio de Janeiro quanto em São
Paulo, “é principalmente a [situação] política”.
Já faz décadas que os ricos e poderosos do Brasil vêm
adquirindo imóveis de luxo em Miami e comprando vorazmente nas lojas de Bal
Harbour. Nos últimos meses, porém, um bom número de brasileiros reagiu à
reeleição de Dilma Rousseff decidindo fincar raízes mais duradouras na região
de Miami e, em menor grau, também em Orlando, Nova York e Boston. Embora
não haja dados exatos, profissionais de Miami, como corretores imobiliários,
banqueiros, lojistas e advogados de imigração, dizem que um número crescente de
brasileiros ricos está tentando se mudar para a região, abrir empresas lá ou procurando
obter residência ou cidadania americana para si e suas famílias.
“Eles se preocupam principalmente com a instabilidade do
ambiente político no Brasil. Eles não querem ser os últimos a sair”, diz
Genilde Guerra, uma advogada do escritório Kravitz & Guerra, em Miami.
Guerra diz que o número de telefonemas que seu escritório recebe de brasileiros
em busca de ajuda para obter um visto, comprar imóveis ou abrir firmas nos
Estados Unidos aumentou dez vezes desde a eleição de Dilma. E os emails que
ela recebe solicitando informações sobre como conseguir um visto de residência
permanente nos EUA, o chamado “green card”, passaram de 3 ou 4 por dia antes da
eleição para 25 ou 30 logo depois. “Eles querem ter uma segunda nacionalidade,
um segundo lugar para onde ir, e os EUA são o melhor lugar para isso”, diz
Guerra.
Um exemplo típico desses exilados de classe alta é a dona de
casa Regina Sposito Pires, que mora em São Paulo e recentemente fez uma viagem
de exploração com sua família para comprar um imóvel em Miami. Depois de pensar
no assunto por algum tempo, Pires, que tem 45 anos, tomou uma decisão em 26 de
outubro, quando Dilma conquistou seu segundo mandato numa eleição apertada.
“Foi como se alguém tivesse morrido”, diz Pires, mencionando
sua frustração com a alta taxa de criminalidade do Brasil e a corrupção no
governo. “Eu disse ao meu marido que a pouca vontade que eu tinha de ficar no
Brasil tinha acabado.” José Antônio Parada também aderiu ao êxodo. No dia
seguinte à reeleição de Dilma, ele decidiu cumprir sua antiga promessa de se
mudar com a família para a Flórida, onde já possui vários imóveis de
investimento, devido, diz ele, à questão política e a falta de segurança.
“Estou muito preocupado com a proximidade entre o governo [brasileiro] e outros
como Venezuela e Cuba”, diz Parada, um corretor de câmbio de 48 anos,
acrescentando que sua residência em São Paulo foi arrombada duas vezes, uma
delas quando ele estava em casa.
Dos 200 milhões de habitantes do Brasil, quase 3 milhões
vivem hoje fora do país, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores
relativos a 2013. Cerca de um terço desses emigrados estão nos EUA. Firmas que
monitoram brasileiros que fazem negócios na Flórida estimam que haja, hoje,
entre 250 mil e 300 mil brasileiros morando no Estado. Os brasileiros também
representam a maioria dos turistas de Miami, tendo chegado em 2013 a uma
proporção de 51% do total.
Essa nova leva de imigrantes brasileiros, porém, tende a se
diferenciar das anteriores. Nos anos 80 e 90, o desemprego e a inflação
alta impeliram milhares de brasileiros a mudar-se para os EUA. Muitos
conseguiram empregos não qualificados e enviavam para o Brasil o máximo de
dinheiro possível. Hoje, os novos imigrantes brasileiros são mais
inclinados a levar sua riqueza com eles.
À semelhança de outros latinoamericanos, incluindo cubanos, colombianos e venezuelanos, os brasileiros há muito consideram Miami um lugar seguro para guardar seu dinheiro durante períodos de turbulência política e econômica em casa. De fato, os brasileiros estão entre as três nacionalidades estrangeiras que mais compram imóveis caros em Miami, juntamente com argentinos e venezuelanos, cujas
economias também estão com problemas. Isso acontece apesar ou, dizem alguns, por causa da desaceleração drástica da economia brasileira.
No ano passado, o real perdeu cerca de 20% do seu valor em
relação ao dólar. A inflação do país está se aproximando da metalimite do
governo, de 6,5% ao ano, e economistas projetam um crescimento quase nulo
do PIB em 2015. É uma grande reviravolta ante a década passada, quando o
boom das commodities alimentou um crescimento vigoroso e o Brasil virou
uma estrela entre as economias emergentes.
O brasileiro Cristiano Piquet, que agora vende imóveis de
luxo na Flórida, diz que em 2014 “não conseguimos acompanhar a demanda”
dos clientes brasileiros, que vêm aumentando seus investimentos nos EUA.
“Eles ganharam muito dinheiro nos últimos 12 anos e estão com os bolsos
cheios”, diz. Piquet diz que há mais brasileiros comprando e alugando
imóveis residenciais e comerciais hoje em dia. “Edifícios de escritórios,
armazéns, hospitais acabamos de vender uma [academia de ginástica] LA
Fitness [em Miami] para um brasileiro”, diz Piquet. “Outro
brasileiro comprou uma concessionária de automóveis. Também estão
comprando terrenos e planejando construir.”
Os brasileiros que se mudam para Miami encontram, cada vez
mais, os aspectos positivos da vida que deixaram para trás: não só praias
e um clima tropical, mas também muitos restaurantes, boates e lojas
voltadas para brasileiros. “Não sinto tanta falta”, diz o corretor de
imóveis Marco Fonseca, de 47 anos. Fonseca, que é carioca e se tornou
cidadão americano em 2001, estima que 65% dos seus clientes sejam
brasileiros. “Temos tudo o que precisamos aqui: filmes,
canais brasileiros, supermercados brasileiros. Você pode comprar uma
picanha,” diz. “Miami é a maior cidade brasileira fora do Brasil no
momento.”
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