segunda-feira, 9 de março de 2015

Domingo polêmico Símbolo dos protestos na Argentina, panelaço chega a lugares do Brasil



Marcia Carmo

O protesto foi registrado enquanto a presidente Dilma Rousseff realizava seu primeiro discurso em rede nacional de rádio e de TV neste ano. Enquanto ela falava, surgiam críticas nas redes sociais e, ao mesmo tempo, apoio e rejeição aos panelaços. 
Buenos Aires, 08 de março de 2015 (atualizada nesta segunda-feira, 09, às 11h30)


(Presidente Dilma Rousseff em discurso recente)


Esta forma de protesto ficou conhecida na Argentina na histórica crise vivida pelo país em 2001. Mas ao contrário do que ocorreu nesta noite de domingo no Brasil, naquele mês de dezembro aqui na Argentina era difícil encontrar lugar onde argentinos não estavam munidos com panelas, garrafas vazias e qualquer outro objeto que pudesse produzir barulho - alèm também das buzinas.


Depois daquele turbulento dezembro de 2001, quando os panelaços foram símbolo da insatisfação dos argentinos contra medidas como o 'corralito' (confisco das contas e poupanças), ocorreram outros protestos e até com panelas, mas sem a ressonância daqueles dias de crise política, econômica e social. 

Em 2001, eles marcaram a renúncia do presidente Fernando de la Rúa e anos antes, no Chile, mostraram a revolta popular contra o regime do ditador Augusto Pinochet que esteve no Palácio presidencial de La Moneda, em Santiago, entre 1973 e 1989. Nos últimos tempos, foram registrados panelaços na Venezuela - um deles há poucos dias quando o presidente Nicolas Maduro discursava na TV após a surpreendente prisão Antonio Ledesma. 

Com as redes sociais é possível acompanhar agora a provável dimensão ou não do protesto.

"Aqui na Penha nada de panelaços", escreveu, neste domingo, um eleitor brasileiro falando do bairro popular na Zona Norte do Rio de Janeiro.

"Reação nos Jardins à fala da Dilma: pessoas batem panelas e gritam Fora Dilma. Muuuuuita gente! Nunca ouvi nada igual.", escreveu outra eleitora sobre o bairro nobre na capital paulista.

Outros escreveram que os protestos eram realizados com as panelas compradas em Miami. Que o protesto era dos bairros do "tucanato" (ligados ao partido opositor ao governista PT, o PSDB) e que a presidente Dilma foi reeleita e o mandato "deve ser respeitado".

Nesta segunda, 9, os comentários continuam nas redes sociais.

"O que está claro é que o Brasil está cada vez mais dividido", escreveu no Facebook uma eleitora de Brasília. "O que o governo deve ver é que o panelaço existiu porque a presidente adotou medidas de ajuste que antes repudiava", escreveu outro da capital paulista.

No discurso a presidente Dilma pediu "paciência" aos brasileiros e atribuiu os problemas do Brasil à crise internacional e à seca que afeta o país.

Neste primeiro ano do segundo mandato, foram anunciados aumentos dos combustíveis e das taxas de juros para colocar a economia "nos trilhos", nas palavras dos especialistas que acompanham as medidas do governo.

Aqui na Argentina, nos últimos dias, o Brasil voltou a ser tema de destaque na imprensa local. "Congresso paralisado e dúvidas sobre o futuro", escreveu a correspondente do Clarín no Brasil, Eleonora Gosman, ao informar sobre a trama que envolve os presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, na lista de suspeitos da chamada 'Lava Jato'.

O jornal La Nación também tem informado sobre o "escândalo do 'Petrolão'. As notícias destes últimos tempos no Brasil também tem sido registradas nas páginas do Página 12 e do Perdil, além dos sites de notícias do país vizinho.

O que ocorre no Brasil costuma ser informado na imprensa argentina. Mas o tom agora é de maior atenção, já que além da política envolve a economia brasileira - sempre importante na visão dos argentinos por ser o Brasil o principal sócio comercial do país.

Porém, aqui o assunto dominante continua sendo o chamado caso Nisman. E desta vez, o protesto foi marcado pelo 'silêncio'.

A misteriosa morte do promotor Alberto Nisman, ocorrida em janeiro (peritos discordam se teria sido 17 ou 18 daquele mês), segue sendo o principal assunto na mídia, nos cafés e encontros de amigos no país.

A dúvida se ele se suicidou ou se foi assassinado persiste e ganhou mais força a partir da afirmação de sua ex-mulher, a juíza Sandra Arroyo Salgado, na quinta-feira, 05, de que ele teria sido vítima de homicídio.

Ela baseou seus argumentos a partir de análises feitas por peritos experientes. A expectativa agora é se haverá uma "junta médica" para que seja avaliada a opinião dos diferentes peritos.




A morte do promotor não provocou panelaços, mas a manifestação realizada no dia 18 de fevereiro, um mês após a morte de Nisman, que reuniu entre 50 mil e 400 mil pessoas (dependendo do cálculo), continua repercutindo no país.

O protesto foi batizado de 'Marcha do Silêncio', por pedidos de justiça pela misteriosa morte do homem que quatro dias antes de ter sido encontrado morto tinha acusado a presidente Cristina kirchner e seus assessores de suposto 'pacto' com  governo iraniano.

Cristina nega as denúncias.


Na semana passada, o governo pagou para publicar comunicado nos jornais estrangeiros para informar que  um juiz entendeu que as denúncias de Nisman contra a presidente e assessores eram "infundadas".

Aqui na Argentina, haverá eleição presidencial em outubro e o sucessor de Cristina kirchner será empossado no dia dez de dezembro deste ano.

Políticos de diferentes legendas perguntam se o caso Nisman influenciará ou não o resultado das urnas.

No Brasil, a presidente Dilma foi reeleita no ano passado e assumiu a cadeira no Palácio do Planalto novamente no dia primeiro de janeiro - há pouco mais de dois meses e para mandato de quatro anos.

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