O shopping dos deputados", por Bernardo Mello Franco
Folha de São Paulo
Cafés, lojas, agências bancárias, praça de alimentação, estacionamento
subterrâneo com mais de 4.000 vagas. Parece o projeto de um novo
shopping center, mas não é. Tudo isso está prestes a ser construído pela
Câmara, em Brasília, ao custo estimado de R$ 1 bilhão.
O chamado shopping dos deputados foi promessa de campanha do presidente
Eduardo Cunha. Faz parte de um plano que inclui a reforma de um anexo e a
construção de três novos edifícios. O mais alto terá dez andares na
superfície e três no subsolo.
A justificativa oficial é de que os deputados, que têm dois meses de
férias e passam a maior parte da semana longe da capital, andam sem
espaço para trabalhar. Por isso, todos terão direito a trocar os
gabinetes atuais, com área média de 40 m², por salas mais confortáveis,
com 60 m².
Cunha também parece insatisfeito com o plenário da Câmara, onde os
presidentes da República tomam posse e Ulysses Guimarães promulgou a
Constituição. Seu projeto inclui a construção de um "plenário
alternativo" com 700 lugares. Como a Casa só dispõe de 513 deputados, é
possível que o passo seguinte seja uma emenda para ampliar o número de
Excelências na próxima eleição.
O presidente da Câmara já declarou que "ninguém vai fazer shopping com
dinheiro público". No entanto, o jornal oficial da Casa reconheceu ontem
que o modelo de parceria público-privada só deve cobrir "parte do custo
do investimento".
O edital para as obras foi lançado na última sexta, um mês depois de
Cunha autorizar os colegas a usar verba pública para emitir passagens
aéreas para suas mulheres. Nesse caso, a repercussão negativa forçou o
peemedebista a voltar atrás.
Há opções mais baratas para aumentar o conforto dos gabinetes. Se quiser
economizar o dinheiro alheio, Cunha pode começar despejando a
presidência e a fundação de seu partido, o PMDB. A sigla paga aluguéis
irrisórios para manter suas sedes em área pública, nos prédios da
Câmara.
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