Folha de São Paulo
Se alguma semelhança com o passado pode ser enxergada, é com o memorável movimento "Fora, Collor", que culminou com o impeachment de Fernando Collor em 29 de setembro de 1992.
O Brasil que foi às ruas em 15 de março para protestar contra Dilma
Rousseff, a corrupção e o PT é bem diferente daquele que se mobilizou em
16 de abril de 1984, quando mais de um milhão e meio de pessoas se
juntaram, no Anhangabaú, em São Paulo, na esteira do movimento em prol
das Diretas-Já.
Naquele ciclo, a luta cívica tinha como alvo a defesa das liberdades e a
escolha, pelo povo, do seu mandatário. Hoje, esses direitos se
consagram na nossa Constituição.
Também difere do país que, em 20 de junho de 2013, registrou mais de 1,5
milhão de pessoas nas ruas, protestando contra as taxas dos transportes
públicos e serviços precários nas áreas de saúde, educação e segurança,
entre outros temas.
Se alguma semelhança com o passado pode ser enxergada, é com o memorável movimento "Fora, Collor", que culminou com o impeachment de Fernando Collor em 29 de setembro de 1992.
Como naqueles idos, o clamor recente dos 2 milhões de brasileiros que
acorreram às ruas pede o afastamento da primeira mandatária. Ocorre que
não há, até o momento, arcabouço técnico-jurídico suficiente para
respaldar um pedido de impeachment da chefe da nação, apesar de
pareceres de eminentes juristas acatando essa tese.
Essa, porém, é uma discussão para o direito. O fato é que o Brasil pós
15 de março abriu um novo marco em sua vida institucional. A partir da
constatação de que sua democracia participativa ganha solidez com a
entrada em cena de um cidadão com apurada conscientização política e sob
a crença de que as mobilizações, ao contrário do passado, incorporam-se
definitivamente à paisagem urbana.
É interessante observar que tais avanços ocorrem quando a vida
político-institucional passa a ser banhada por um gigantesco lamaçal, no
momento em que o país vivencia os mais escandalosos eventos da
contemporaneidade. Quais as razões para essa aparente dicotomia, com a
sociedade, de um lado, e a esfera política, do outro?
Vejamos. Lula assumiu, em 2003, como o salvador da pátria. Ancorou seu
governo em ampla plataforma social, abrindo canais da articulação
política, atendendo às demandas dos partidos da base, no balcão de
apoios e recompensas, usando o instinto político para administrar
conflitos com os outros Poderes.
A crise do sistema financeiro internacional, em 2008, levara o mundo a
desempregar milhões de trabalhadores, mas o Brasil, vencendo as
intempéries, gerava 12 milhões de empregos formais. Com o título de
sétima economia, renda per capita triplicada e desigualdade caindo, a
quarta democracia mais populosa do mundo, depois da Índia, EUA e
Indonésia, parecia uma ilha de segurança no oceano borrascoso.
Mas a esperança de longa jornada desenvolvimentista arrefeceu na era
Dilma, arrastada pelo modo de governar petista, ancorado no populismo,
aparelhamento do Estado, desorganização das contas públicas,
improvisação nas frentes de obras, entre outros, e a par do discurso
separatista, "nós e eles".
A política econômica do lulopetismo se exauriu. Confirmando-se a
projeção que se faz para este ano (de -0,5% de queda do PIB, podendo
chegar a -3%), viveremos a maior retração em 25 anos. É o sinal da
falência total do modelo.
A presidente da República se isolou da esfera política, administrando o
país sem ouvir a sociedade. A Petrobras, rebaixada no grau de
investimento no mês passado, deixou de ser símbolo de orgulho. A
corrupção, como metástase, propaga-se e a sociedade clama por uma
cirurgia rápida. Antes que seja tarde.
JOÃO DORIA JR., 57, empresário e jornalista, é fundador e presidente do Lide - Grupo de Líderes Empresariais
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