sábado, 21 de março de 2015
O tesoureiro
e mochileiro Vaccari, o Delúbio da vez, recolheu dinheiro em nome da
alta cúpula do Partido Totalitário (e, convenhamos, de sua candidata a
presidente da República). A dinheirama foi parar nos cofres da corrupção
petista. Só eles são culpados? A proposta do MPF, que lança 10 medidas contra a corrupção, acerta em cheio ao incluir nos processos também os partidos:
João
Vaccari Neto e Delúbio Soares nunca tiveram títulos na nobreza do PT. Na
hierarquia da sigla eles pertencem, no máximo, à ordem dos escudeiros. A
fidelidade inabalável de Vaccari e Delúbio ao projeto de poder da
legenda os lançou em uma função inglória: a tesouraria do partido. Em
2000, o PT adotou um discurso mais ameno para ampliar o perfil do
eleitorado. A mudança acarretou uma guinada de vida no partido, que
começou a forrar seus cofres para financiar um duradouro projeto de
poder. Delúbio assumiu a Secretaria Nacional de Finanças. Só saiu de lá
em 2005, denunciado como um dos operadores do mensalão. Vaccari é o
Delúbio da vez. Na segunda-feira 16, ele foi denunciado pelo Ministério
Público Federal (MPF) por corrupção e lavagem de dinheiro. Contra o
tesoureiro pesam depoimentos de dois ex-funcionários da Petrobras e
quatro empreiteiros que fizeram acordos de delação premiada. Todos
unânimes em apontá-lo como recolhedor de propinas para o PT.
Com as
acusações decorrentes da Operação Lava Jato, caiu por terra a defesa
ferrenha que alguns petistas faziam da honra de Vaccari. Internamente,
antigos companheiros pedem seu afastamento da secretaria de finanças
para preservar o partido. As apurações da Polícia Federal e do MPF
indicam que U$186 milhões em propina teriam passado pelas mãos do homem
responsável por arrecadar dinheiro para o PT. Segundo os delatores, o
dinheiro abasteceu o caixa de campanha da presidente Dilma Rousseff.
Ainda assim, a degola de Vaccari pedida pelos correligionários sugere
uma estratégia marota: colocar todos os malfeitos do partido nos seus
ombros, evitando que as denúncias extrapolem para outros nomes.
O mesmo
ocorreu com Delúbio no escândalo do Mensalão. O tesoureiro foi para o
altar dos sacrifícios, admitiu que arrecadava recursos além do
contabilizado pelas campanhas eleitorais e figurou como coordenador do
“núcleo central da quadrilha” no processo do mensalão. Ele foi o único,
entre os oito petistas investigados por participar do esquema, a ser
expulso do partido. Saiu em 2006, mas retornou aos quadros de filiados
em 2011, após a eleição de Dilma. O ex-tesoureiro foi condenado a seis
anos e oito meses de prisão, passou cinco meses no presídio da Papuda e
outros cinco em regime semiaberto. Em setembro, ganhou o direito de
cumprir o restante da pena em casa.
Se as
descobertas dos investigadores da Lava Jato forem confirmadas na
Justiça, Delúbio e Vaccari ficarão na história do reinado petista como
os responsáveis por ilícitos financeiros que beneficiaram da alta cúpula
do partido aos diretórios no interior do País. Embora tenham
trajetórias parecidas, os dois adotaram práticas diferentes. O modus
operandi usado por Vaccari pouco lembra o antigo estilo de arrecadação
posto em prática por Delúbio. A falta de uma legislação eleitoral que
obrigasse o detalhamento da prestação de contas explica, em parte, a
opção de Delúbio pelo esquema de caixa 2. Uma resolução do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) de 2002 obrigou candidatos e comitês
financeiros a expor em minúcias as receitas e despesas. Essa regra
dificultou a vida de Delúbio. Em uma reunião do Diretório Nacional, no
mesmo ano, o então tesoureiro discursou contra a divulgação do nome dos
doadores e disse uma frase que entrou para a história. “Transparência
demais é burrice.” Transparência não foi um problema para Vaccari. As
investigações mostram que ele mascarou as propinas que o PT recebeu no
esquema da Petrobras em forma de doação oficial de campanha. (Istoé).
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