sexta-feira, 10 de abril de 2015
Por Paulo Moura*
Desde
que se instaurou a crise entre PMDB e PT, comentaristas têm afirmado que, se
Dilma ceder espaço ao PMDB no governo a paz voltaria a reinar nas hostes
governistas. Será? Os caciques do PMDB são ingênuos a ponto de não perceberem
qual é o objetivo do PT?
O
PT é um partido hegemonista. Isso quer dizer que o objetivo que preside as
ações do PT é lutar nos terrenos político, social e cultural com vistas a
conquistar apoio da sociedade para sua perpetuação no poder. Repito:
perpetuação no poder com sustentação em consenso social.
Como
os métodos tradicionais de tomada revolucionária do poder, que eram:
insurreição popular e assalto ao palácio (Rússia); guerrilha camponesa (China);
guerra popular prolongada (Vietnã e Camboja); guerrilha de vanguardas de
substituição (Cuba), fracassaram, a esquerda assumiu como estratégia o chamado
“marxismo cultural”.
Lenin
e Trotsky; Mao Tse Tung; Pol Pot; Ho Chi Minh; Che Guevara e Fidel Castro foram
os líderes das estratégias de assalto ao poder das revoluções comunistas do
século XX e focaram-se na tomada do poder pela da violência. Gramsci, teórico
comunista italiano, focou suas preocupações na conquista e preservação do poder
pela via da sedução dos corações e mentes da maioria da sociedade. O partido é
“O Príncipe”, que Maquiavel via nos “condottieres” do século XVI.
Gramsci
é o inspirador da esquerda contemporânea e do “Socialismo do Século XXI”. Em
síntese, o que a esquerda latino-americana pratica é a tentativa de sua
perpetuação no poder pela conquista de apoio da maioria da sociedade usando a
democracia para corrompê-la por dentro.
Para
isso, além de buscar apoio na sociedade através de políticas clientelistas
(bolsas) dirigidas ao andar de baixo; oferta de crédito subsidiado (bancos
públicos), ao andar de cima; e patrocínio para a classe artística (Lei Rouanet
e publicidade governamental), o PT adotou a corrupção sistêmica como forma de
cooptação das elites tradicionais como método para sustentar seu projeto de
poder.
Com
apoio da base alugada, o PT pretendia mudar as leis aos poucos, para legalizar
seu projeto de solapar as instituições democráticas visando perpetuar-se no
poder. Paralelamente, a ideia era a de ir queimando a imagem e a viabilidade
eleitoral das elites tradicionais, especialmente do PMDB, até o ponto de asfixiá-las
e destruir seus partidos de forma que, no médio prazo, somente sobrevivessem o
PT e seus satélites como partidos relevantes.
O
primeiro movimento dessa estratégia foi um recuo tático à direita com a vitória
de Lula em 2004. Para conquistar a confiança dos mercados, Lula usou Palocci
para implementar uma política econômica mais ortodoxa do que a de FHC e
pavimentar o caminho para os avanços seguintes. Um passo atrás, dois passos
adiante, preconizou Lenin, com a NEP (Nova Política Econômica) adotada na
Rússia em 1924, que estimulou a propriedade privada para alavancar a economia
nos primeiros anos da revolução e depois estatizar tudo.
Ao
se reeleger, Lula trocou Palocci por Mantega e deu início ao descontrole
fiscal. Ao eleger Dilma, Lula substituiu Henrique Meireles por Tombini,
trocando o tripé (câmbio flutuante, juros para conter inflação e superávit
fiscal) pela chamada “nova matriz econômica”, que acaba de fracassar.
A
reeleição de Dilma seria, na estratégia do PT, o momento de mudar a Ordem Política
da Constituição aprovando o voto em lista e o financiamento público de
campanha, de modo a fortalecer o voto na legenda, num contexto em que o PT era
a legenda mais forte.
O
financiamento público de campanha daria mais dinheiro à maior bancada (adivinhem
qual é?), e jogaria na ilegalidade os demais partidos que buscassem o caixa
dois para compensar a desvantagem competitiva com o PT. Mas, o PT cometeu dois
erros básicos que só comete quem não corrigiu na juventude o pecado da soberba
e da arrogância. O primeiro foi acreditar na visão teórica da esquerda sobre a
economia. O segundo foi subestimar a inteligência do inimigo. No caso, o PMDB.
Quem
estudou Mises, Friedman, Hayek e demais liberais saberia que a bagunça que o PT
faz na economia brasileira só poderia dar no que deu. Quem aprendeu na
juventude que a soberba e a arrogância são atitudes burras e contraproducentes
poderia prever que as atitudes de Lula, Dilma e do PT só poderiam dar no que
deram.
No
entanto, tudo indica que a ficha de Lula, Dilma e do PT ainda não caíram. No
âmbito interno da estratégia geral do PT, Dilma tinha seus próprios objetivos e
imaginava que a conquista do segundo mandato a libertaria do jugo do seu
criador. Na cabeça dura de Dilma, seu primeiro mandado foi Lula/Dilma. O segundo
mandato seria Dilma/Dilma.
Mas,
Dilma não entendeu as circunstâncias da sua vitória. Nem Dilma e nem o PT
entenderam que o povo brasileiro não é de esquerda. Pelo contrário, é
conservador e patrimonialista. Ao criar uma crise econômica sem precedentes,
Dilma foi forçada a cortar bolsas para o andar de cima e o andar de baixo.
Dilma jogou os custos da crise que fabricou no bolso de quem a elegeu e jogou
esse povo que pagará a conta no colo de quem foi às ruas em 06/2013 e 03/2015.
Erro fatal!
Com
12% de aprovação (CNI/Ibope), Dilma conta, hoje, com menos da metade do suposto
tamanho do PT no eleitorado brasileiro (cerca de 27%, conforme o Instituto
Paraná Pesquisa/Revista Época, seria o percentual de Lula contra Aécio se a
eleição presidencial fosse hoje). Abriu-se, assim, a porta para os
manifestantes de 15 de março chamarem para as ruas em 12 de abril, essa massa
que as pesquisas demonstram que rejeita Dilma e o PT.
Ao
contrário do PT, do PSDB e da maioria dos comentaristas políticos da mídia,
tudo indica que o único ator político tradicional que leu corretamente o recado
das ruas e entendeu que o objetivo do PT é assassinar seus companheiros de
viagem da base alugada, foi o PMDB!
Portanto,
se essa análise está correta e o PMDB
percebeu que, se não matar o PT será morto, os comentaristas políticos
todos estão errados ao imaginarem que o PMDB venderá sua vida por cargos
efêmeros no governo moribundo de Dilma. Ainda mais, considerando que, se Dilma
cair, a Presidência pode cair no colo do PMDB!
Quem
conhece os caciques do PMDB sabe que eles aceitarão os cargos, mas, seguirão na
luta para se vingarem do PT. E, o preço da vingança de gente com Sarney,
Calheiros e Cunha, cujas cabeças foram indicadas pelo PT à guilhotina do
Petrolão, é, nada mais nada menos do que: a MORTE! Política.
Paulo Moura, professor
universitário, é cientista social, consultor de comunicação e marketing
político em campanhas eleitorais e analista político e de pesquisas de opinião
e de mercado
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