Quem deve, sempre teme. O clima, no Palácio do Planalto, é de terror -
tanto que Dilma reuniu os ministros ontem à noite. Fala, Ricardão:
A presidente Dilma Rousseff convocou nesta noite uma reunião de
emergência com ministros, no Palácio da Alvorada, na tentativa de
encontrar uma saída para o agravamento da crise política após a delação
premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa. O governo avalia que perdeu
totalmente o controle da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e teme
que a delação de Pessoa acirre o clima de confronto no País, dando
munição aos adversários para ressuscitar a bandeira do impeachment.
Dilma mandou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, cancelar
uma viagem a São Paulo por causa da crise. No Alvorada, a presidente
cobrou respostas rápidas de Cardozo e dos ministros Aloizio Mercadante
(Casa Civil) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social).
Mercadante é, hoje, o ministro mais próximo de Dilma e Edinho foi o
tesoureiro da campanha da reeleição, no ano passado. Os dois garantem
que as doações recebidas foram totalmente legais e registradas no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas o governo admite não saber a
extensão da crise e muito menos o que vem pela frente.
A nova turbulência ocorre num momento delicado, no auge do
distanciamento entre Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o
PT. Além disso, o executivo Marcelo Odebrecht, dono da construtora
Odebrecht e também preso, tem ligações com Lula, o que provoca ainda
mais apreensão no Palácio do Planalto.
“Não há saída individual. O problema não é o PT, não é a Dilma. O
problema é que querem criminalizar o Lula e nos destruir”, disse o
ex-presidente, falando na terceira pessoa. Lula estará na segunda-feira
em Brasília para se reunir com deputados e senadores do PT.
O depoimento de Pessoa causou tanta tensão no Palácio do Planalto
que, ao longo do dia, Dilma acionou várias vezes ministros e advogados.
Pediu também para emissários conversarem com a equipe do ministro do
Supremo Tribunal Federal Teori Zavaski, que homologou a delação premiada
de Pessoa.
‘Guerra’. Nos
bastidores, interlocutores da presidente compararam a nova crise a uma
batalha sem fim. “É como se estivéssemos numa guerra e não
conseguíssemos nem contabilizar os mortos para enterrar”, disse um
ministro ao Estado, sob a condição de anonimato.
Pessoa já havia dado sinais de que contaria tudo o que sabe sobre
financiamento de campanhas petistas ao Ministério Público, caso Dilma
não o socorresse. Alegou que o governo atrasou pagamentos à UTC e,
fazendo coro com outros empresários presos, disse que a presidente nada
fez para controlar a Lava Jato.
Nos últimos dias, Dilma foi pressionada por petistas a agir para
reduzir o desgaste e tomar medidas para proteger as empresas envolvidas
na Lava Jato do risco de quebradeira. Ela se recusou. “O que querem que
eu faça?”, queixou-se a presidente, conforme relato de um ministro.
Lula não se conformou com a resposta. Irritado, pediu que a cúpula do
PT não poupasse críticas à Polícia Federal e passasse a condenar
publicamente o que chamou de “prejulgamento” das empreiteiras citadas na
Lava Jato. Foi o que fez a Executiva Nacional do PT.
“Preocupam o PT as consequências para a economia nacional do
prejulgamento de empresas acusadas”, diz a resolução aprovada
anteontem.
Comando. O governo desaprovou o tom do documento. A portas fechadas,
Lula e a maioria dos senadores e deputados do PT avaliam que o ministro
da Justiça perdeu as condições de permanecer no cargo e deveria ser
substituído porque não comanda a Polícia Federal. Dilma, porém, se
recusa a demiti-lo. (Estadão).
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