Crises políticas, ao menos quando caminham para um desfecho, costumam seguir roteiros. A de agora, que empareda o governo Dilma, não foge à regra, mas qual seria ele? Quem está brigando com quem e por quê? Até aqui a imprevisibilidade impera, favorecida pela fragmentação das forças políticas. Quando estas se aglutinarem o jogo se decide, para um lado ou para o outro, em futuro incerto.
Para os que tramam a saída de Dilma, agosto será um mês crucial. De cara, duas novas CPIs entram no horizonte: as do BNDES e dos Fundos de Pensão. O TCU deve anunciar o resultado de sua análise sobre as contas do governo. E manifestações de rua estão convocadas. Temperando tudo isso, a economia embicada para baixo e as “novidades” permanentes da Operação Lava Jato, com mais delatores, mais delações, mais prisões e novos eixos de investigação (esta semana ampliado para a Eletrobrás).
Para quem aposta no ‘quanto pior, melhor’, o céu é de brigadeiro, mas a qual custo e até quando?
Este é o roteiro aparente. Há certamente o invisível, operado nas sombras, nos cochichos, nos tapetes dos gabinetes, dentro e fora de palácios. Deste enredo saberemos provavelmente daqui alguns anos, quando tudo já tiver virado História. Por enquanto o que prevalece é a guerra de informações, na qual acusações de corrupção se transformaram em arma principal.
No caso específico das CPIs, estas sempre foram e são importantes para os embates políticos. O Brasil tem uma longa tradição nisso. Não é de hoje. Entre 1984 e 1993, por exemplo, foram instaladas 120 CPIs na Câmara dos Deputados. No Congresso, muitas deram resultados expressivos, como as do PC Farias-Collor (1992), do Orçamento (CPMI, de 1993) e do Judiciário (1999). Outras morreram na praia, como a CPI dos Bancos (1999).
No Congresso atual há, de mais relevante digamos assim, as CPIs da Petrobras, do HSBC (que deve ser concluída com recomendações apenas) e a do Carf, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, que investiga a manipulação de julgamentos de multas da Receita Federal, com prejuízos aos cofres públicos na casa dos bilhões. Para esta última, que corre no Senado, foram convocados recentemente executivos de empresas nas áreas automobilística, de bancos e de comunicações (alguém ouviu falar?).
Já a futura CPI do BNDES enreda-se ostensivamente no contexto da guerra política. A que servirá exatamente? Há de fato elementos que a justificam ou faz parte de (mais um) movimento para desgastar o governo? Um oposicionista e um governista vão responder de modos opostos, é claro. CPIs são, sobretudo, instrumentos da luta política e dependem da correlação de forças (e fatos, evidentemente) para serem instaladas, frutificarem ou não.
O telespectador que acompanha a novela da crise no país deve estar atento a seu aspecto de espetáculo, quando a versão vale mais do que o fato. É preciso queimar o adversário a qualquer custo. Ao espalhar versões que não se sustentam, a corrupção como espetáculo gera uma expectativa na plateia que depois não se cumpre. E mais arriscado ainda: cria-se um cipoal de denúncias, um clima irrespirável, de modo a que se favoreça um novo pacto de poder, e o que é escândalo hoje vira torvelinho amanhã. É quando os cães ladram e a caravana passa.
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Imagem:RedeBrasilAtual/Flickr
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