Para
tentar barrar o impeachment, Dilma assedia o presidente do Senado,
Renan Calheiros, típico representante do patrimonialismo brasileiro, que
cobrará caro por eventual apoio (aliás, ele é um camaleão político). O
camaleão, no entanto, vai esperar as manifestações das ruas para tomar
uma decisão. Então, leitores, todos pra rua no dia 16 de agosto:
Tratado
pelo Palácio do Planalto como peça-chave para impedir o agravamento da
crise política, que pode culminar até no impeachment da presidente Dilma
Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem
sinalizado a interlocutores diretos que pode voltar a colaborar com o
governo da petista a partir desta semana, na volta do recesso
parlamentar. Renan, contudo, cobrará "faturas" nas áreas política e
econômica, em troca da ajuda.
Há
duas semanas, logo após o anúncio do rompimento do presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o governo decidiu reforçar uma operação
envolvendo ministros como Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa
(Planejamento) e lideranças políticas petistas para cortejar o
presidente do Senado. "Renan será o fiel da balança", definiu um dos
envolvidos na investida do governo.
O Palácio do Planalto quer retomar a relação que mantinha com Renan
durante o primeiro mandato Dilma, quando ele foi o principal
interlocutor do governo no Congresso. O peemedebista, que contou com o
apoio da presidente para se reeleger presidente do Senado em fevereiro,
afastou-se do Planalto no mês seguinte, na esteira da abertura de três
inquéritos contra ele no âmbito da Operação Lava Jato. Nos bastidores,
Renan acusa o governo de ter atuado para incluí-lo no rol dos
investigados.
O Planalto, porém, aposta no presidente do Senado para neutralizar os
efeitos de uma provável decisão desfavorável no julgamento das contas
de 2014 da gestão Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Caberá à
Casa presidida por Renan apreciar inicialmente o parecer analisado pela
corte.
Se tanto o Senado quanto a Câmara reprovarem as contas do governo,
esse seria o primeiro passo para que um processo de impeachment fosse
aberto contra a presidente. Por isso, dizem aliados, com a Câmara
liderada pelo oposicionista Cunha, Renan é tido como fundamental para
barrar no nascedouro um movimento pelo impedimento da presidente.
O peemedebista, porém, ainda não decidiu que papel vai adotar. É a
esse delicado cálculo político que ele tem se dedicado nos últimos dias.
Apesar da disposição de voltar a ajudar o governo, Renan deve investir
na tese de que a análise das contas de 2014 poderá ser feita antes das
contas de anos anteriores - ainda pendentes de julgamento - serem
apreciadas pelo Congresso. Não há nada no regimento do Congresso que
impeça isso e trata-se de uma decisão política.
Conta. Para
aliados do presidente do Senado ouvidos pelo Estado, contudo, Renan
está inclinado a assumir o papel de fiador da governabilidade de Dilma.
Mas vai impor condições. Segundo interlocutores, uma das principais
faturas do peemedebista seria que Dilma promovesse mudanças no seu
núcleo duro de governo, a começar pelo ministro-chefe da Casa Civil,
Aloizio Mercadante. O nome que conta com a simpatia de Renan é o do
ministro da Defesa, Jaques Wagner, considerado por ele um político
habilidoso. Desde a época em que eram colegas de Senado, Renan e
Mercadante nunca tiveram uma boa relação e o peemedebista não está
disposto a voltar a conversar com o Planalto se tiver o atual ministro
como interlocutor.
Em outra frente, o presidente do Senado aguarda um apoio financeiro
maior do governo federal a seu filho e herdeiro político, o governador
de Alagoas, Renan Filho (PMDB) - que comanda um Estado com graves
dificuldades econômicas. A expectativa no ano passado, quando Renan
Filho foi eleito, era de que ele teria total apoio de Brasília para
tirar de Alagoas o título de campeão em recordes negativos em
indicadores sociais.
Ajuste. Renan
também quer ter maior participação nas decisões do governo,
principalmente em relação à política econômica. O fato de Levy ter
consultado o senador antes do anúncio da redução da meta do superávit,
há cerca de dez dias, agradou o peemedebista. Crítico do ajuste fiscal
elaborado pela equipe econômica, que recentemente classificou como
“tacanho”, ele defende ainda que o governo corte despesas do próprio
Executivo, a começar pela redução do número de ministérios.
Assim como na crise de 2007, em que contou com o apoio do então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o peemedebista espera
solidariedade do governo caso sua situação na Lava Jato venha a se
complicar.
O assunto tem preocupado o Planalto, que avalia que a 16ª fase da
operação, deflagrada na semana passada e que avança sobre as
irregularidades do setor elétrico, pode afetar diretamente o grupo
ligado a Renan na Casa e, assim, dificultar ainda mais a reaproximação.
Peemedebista espera para avaliar a 'pressão das ruas'
A disposição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de
ajudar o governo da presidente Dilma Rousseff vai depender também
principalmente da pressão que vier das ruas.
Para avaliar qual caminho vai seguir, o peemedebista tem, inclusive,
encomendado pesquisas para ver se os eleitores o relacionam como um nome
ligado à petista. Segundo auxiliares do presidente do Senado, os
resultados das pesquisas encomendadas por Renan mostram um descolamento
da imagem dele e da petista, o que facilitaria a construção de um
discurso caso ele decida romper publicamente com o governo.
O peemedebista tem dito a interlocutores que está aberto a uma
reaproximação com o governo, mas isso pode mudar caso as manifestações
que pedem o impeachment da presidente ganhem força. Os próximos
protestos estão marcados para o próximo dia 16.
Renan deixou engatilhado o discurso de que o governo tomou um rumo,
principalmente na crise econômica, com o qual não concorda. Por isso,
estaria livre para desembarcar da base aliada.
Para lembrar: O 'camaleão político'
Com mais de 36 anos de carreira pública, desde que se elegeu pela
primeira vez deputado estadual por Alagoas pelo antigo MDB, o atual
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), completa 60 anos no dia 15
de setembro, tendo passado por sobressaltos em sucessivos governos. É
um “camaleão político”, na definição de um aliado.
No governo Sarney, Renan foi um dos artífices da candidatura de
Fernando Collor (foto) à Presidência e, depois, integrante da tropa de
choque do governo dele no Congresso. Rompeu com Collor posteriormente e
contribuiu para sua queda ao acusá-lo de ter conhecimento do esquema PC
Farias. (Estadão).
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