O almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da
Eletronuclear, é processado por crimes de lavagem de dinheiro, corrupção
passiva e organização criminosa. Era o mandachuva da área nuclear.
Poder demais - e cheio de segredos - dá nisso:
A Polícia Federal indiciou o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva,
ex-presidente da Eletronuclear, pelos crimes de lavagem de dinheiro,
corrupção passiva e organização criminosa. Preso desde 28 de julho na
Operação Radioatividade, desdobramento da Lava Jato, Othon Luiz,
apontado como pai do programa nuclear, é suspeito de ter recebido
propinas nas obras da usina de Angra3.
Pelo menos R$ 4,5 milhões foram rastreados em uma conta da Aratec
Engenharia, controlada por ele, mas os investigadores suspeitam que o
almirante possa ter recebido R$ 30 milhões no total.
Em relatório de 30 páginas, a PF indiciou oito investigados – além de
Othon Luiz, uma filha dele, Ana Cristina Toniolo, o executivo Flávio
David Barra, presidente da Andrade Gutierrez Energia, e cinco supostos
intermediários do dinheiro ilícito.
“Há evidências de que as empresas que compõem o consórcio Angramon,
vencedor da licitação para a montagem eletromecânica da usina nuclear de
Angra 3, fizeram um ajuste para que houvesse a divisão das partes que
seriam licitadas na obra, de sorte que o procedimento licitatório
ocorresse apenas para chancelar algo que já havia sido adrede combinado
entre as mesmas”, afirma a delegada da PF Erika Mialik Marena, do Grupo
de Trabalho da Lava Jato.
A PF destaca que , antes mesmo da divisão, existem indícios de que o
edital de pré-qualificação de 2011 já teria sido direcionado “para
aquelas empresas que vieram efetivamente a assinar o contrato em 2014″.
O nome do almirante Othon surgiu na Lava Jato a partir da delação
premiada de um ex-executivo da Camargo Corrêa, Dalton dos Santos
Avancini. À força-tarefa da Lava Jato, Avancini relatou que um outro
executivo da empreiteira sabia detalhes de valores que teriam sido
repassados ao ex-presidente da Eletronuclear nas obras de Angra3.
No relatório, a PF transcreve o depoimento de um executivo da
Engevix, José Antunes Sobrinho, que contou ter recebido pedido de
‘apoio’ do almirante para um ‘projeto’.
Com os alvos da Radioatividade, a PF confiscou 68
HDs/computadores/notebooks, 29 celulares/tablets, 71 dispositivos
USB/pendrives, 24 CDs/DVDs, 34 dispositivos diversos (como
disquetes/fitas).
A PF apreendeu um e-mail de Antunes para o executivo Samuel Fayad. Na
mensagem, enviada em 21 de agosto de 2014, às 18h40, Fayad diz a
Antunes. “Estive hoje com Othon. Ele estará convocando o Roberto e o
Lima para fechar de vez o assunto aditivo. É certo que Othon vai te
chamar para participar. Percebi que há um movimento da AF para afastar a
Engevix. Colntunio segurando. Abs e bons negócios.”
A PF informa o juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava
Jato, que é importante “aprofundar a pesquisa a respeito da autoria,
isto é, dos executivos de cada empresa que efetivamente tomaram parte
nos ajustes, tanto aquele que possivelmente direcionou o edital da
pré-qualificação, quanto aquele feito internamente entre os
participantes dos consórcios Una 3 e Angra 3 quanto à divisão dos
pacotes licitados”.
O relatório da Polícia Federal sugere aprofundar a investigação sobre
‘quais servidores’ da Eletronuclear tiveram participação na definição
dos critérios da pré-qualificação do EditalGAC.T/CN-005/11 da Gerência
de Administração Contratual da estatal e em atos posteriores ‘que vieram
a beneficiar as empresas investigadas’.
A delegada Erika Mialik Marena pede também ao juiz Moro autorização
para compartilhar todos os documentos da Radioatividade com o Tribunal
de Contas da União (TCU), que pediu acesso aos dados relativos a Angra3 a
fim de que possa subsidiar as ações de controle externo.
Todos os indiciados pela PF negam a prática de ilícitos. Em
depoimento à PF, o almirante Othon Luiz afirma que não recebeu propinas e
que se sente ofendido diante das acusações. Ana Cristina Toniolo, sua
filha, disse que os R$ 4,5 milhões para a Aratec eram relativos a
trabalhos de tradução. O executivo da Andrade Gutierrez Energia e os
outros cinco indiciados também rechaçaram suspeita de repasse de
propinas para o pai do programa nuclear brasileiro. (Veja detalhes no Estadão).
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