Em tempo de crise, é natural que pessoas e instituições mudem de postura. Uns cortando gastos, outros trabalhando mais. E vice-versa. Não há empresa ou trabalhador que deixe de aplicar essa lição. Registra-se, porém, a maior das exceções: o Congresso. Há anos que em tempos de suposta normalidade deputados e senadores optaram por esticar os fins de semana, deixando Brasília às sextas e retornando nas segundas-feiras. Sessões, desde cedo e até de noite, só das terças às quintas. Como a moda pegou e ninguém reclamou, logo ampliaram a folga, fixando as sessões efetivamente produtivas entre as terças de noite e as quintas até meio-dia.
É o que vinha prevalecendo até há pouco. Plenários lotados e projetos discutidos e votados, só no período referido. Fora dele, o quorum transfere-se para os aeroportos, as aeronaves e os Estados onde Suas Excelências pousam para gozar do ócio misturado ao contato com suas bases. Pois não é que já estão rifando as terças-feiras? Logo as manhãs das quintas também ganharão a estratosfera, sobrando apenas um dia entre sete, as quartas-feiras, para dedicação às tarefas fundamentais.
São lembranças fornecidas pelos livros de História os tempos em que o Congresso trabalhava de segunda a sábado ou, mesmo,de terça a sexta.
O problema é que vivemos uma crise dos diabos. Seria obrigação de Câmara e Senado estar buscando soluções para os impasses e os retrocessos econômicos em ritmo bem mais acelerado do que durante a rotina. Não é o que se verifica. Esta semana, por exemplo, quantos projetos foram deixados para a próxima? Até mesmo com a desfaçatez de marcarem não para a terça, mas para a quarta-feira que vem, decisões que precisariam ter sido tomadas faz tempo, como a da repatriação de dinheiro sujo dos paraísos fiscais para o tesouro nacional.
INÉRCIA CÍVICA
Dão a impressão, os parlamentares, de que nada demais vai acontecendo num país onde o desemprego avoluma-se em massa, os impostos, taxas, tarifas e contribuições sobem sob a inação legislativa, o custo de vida eleva-se enquanto as greves se multiplicam e a indignação popular parece prestes a tornar-se reação incontrolada. Era para o Congresso estar buscando soluções até nos fins de semana, ainda que o ajuste fiscal proposto pelo governo permaneça dormindo nas prateleiras e que nem o PMDB consegue transformar em projetos de lei as propostas contidas num documento voltado para o futuro.
Houve tempo em que se aventou a hipótese de o então senador Pedro Simon ser lançado para presidir a casa. Ele declinou, afirmando que nem sua mulher, se fosse senadora, votaria nele. Porque sua primeira proposta seria estabelecer sessões deliberativas todos os dias da semana, inclusive sábado e, se necessário, aos domingos.
Em suma, o Congresso comporta-se como se o Brasil não estivesse no pior dos mundos, sempre adiando para mais tarde a adoção de fórmulas essenciais capazes de afastar a crise. Como o governo também prefere a solução de andar devagar, quase parando, sobra a pergunta: apelar para quem?
BRAÇO CURTO
O lucro dos bancos continua crescendo enquanto o país despenca. O braço do governo não é tão longo nem bastante rígido para abrir os cofres-fortes.
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