Guardada as proporções dos episódios dantescos de Paris, uma
tragédia também eclode nos meios petistas nesta segunda-feira, 16 de
novembro. Um dos donos do Grupo Schahin – Salim Taufic Schahin – contou
aos investigadores da Lava Jato como Lula pagou, em 2006, uma dívida
milionária que contraiu em sua campanha que o levou ao Palácio do
Planalto.
A matéria publicada no Jornal a Folha de São Paulo, assinada pela jornalista Bela Megale é reveladora…
Representantes do grupo Schahin que fecharam um acordo para colaborar
com as investigações da Operação Lava Jato indicaram que o aval do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi decisivo para que o grupo
conseguisse um contrato bilionário com a Petrobras em 2007.
Segundo eles, o contrato foi uma compensação em troca do perdão de
uma dívida milionária que o PT tinha com o banco Schahin. Foi o
empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente, que mencionou o
apoio de Lula a executivos do grupo durante as negociações para livrar o
PT da dívida, eles disseram.
As negociações ocorreram no fim de 2006, após a reeleição de Lula, de
acordo com um dos depoimentos colhidos pelos procuradores da Lava Jato.
Em 2007, poucos meses depois da conversa com Bumlai, a construtora do
grupo Schahin assinou com a Petrobras um contrato de US$ 1,6 bilhão para
operar o navio-sonda Vitória 10.000. Salim Taufic Schahin, do Grupo Schahin, durante depoimento a CPI da PetrobrasDELAÇÃO
O episódio foi relatado a procuradores da Lava Jato na semana
passada, em Curitiba, por um dos acionistas do grupo, Salim Schahin. Ele
controla o grupo com o irmão, Milton. As negociações para que o Schahin
colabore com as investigações tiveram início há quase dois meses.
Salim fechou na semana passada acordo de delação premiada em troca de
redução da sua pena no futuro, mas o acordo ainda não foi homologado
pelo juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato no
Paraná.
Representantes do grupo Schahin que participam das negociações
disseram que os acionistas não tiveram contato com o ex-presidente Lula,
mas acharam suficiente a garantia oferecida por Bumlai de que ele daria
seu aval ao contrato do navio-sonda.
DENOMINADOR COMUM
Suspeitas de irregularidades em navio-sonda
da Petrobras ligam personagens da Lava Jato
Navio-sonda Vitória 10.000 Quem construiu: Samsung Heavy Industries, em parceria com Mitsui Quando: Navio ficou pronto em 2010 e se destinaria à exploração de poços de petróleo na África Quem operava: Grupo Schahin. Contrato, com validade de 2010 a 2020, foi firmado por US$ 1,6 bilhões (R$ 6,1 bilhões) Quem está ligado José
Carlos Bumlai Segundo um acionista da Schahin, o amigo do ex-presidente
Lula teria garantido o contrato de operação da sonda para compensar um
empréstimo que o grupo teria feito para o PTEduardo
Musa Delator e ex-gerente da Petrobras, disse que uma dívida da
campanha de Lula com o Banco Schahin foi paga com contrato de operação
do Vitória 10.000Fernando
Soares, o “Baiano” O lobista e delator disseque, em 2010, Cunha o
ajudou a pressionar outro lobista, Julio Camargo, a pagar propina
atrasadado Vitória 10.000Eduardo
Cunha (PMDB-RJ) Segundo os lobistas Camargoe Baiano, o presidente da
Câmara recebeu US$ 5 milhões dos fornecedoresdo Vitória 10.000 e deoutro
navio-sondaNestor
Cerveró O ex-diretor Internacional da Petrobras é acusado pelo
Ministério Público de receber propina para favorecer a Samsung na
contratação dos dois naviosEMPRÉSTIMO A BUMLAI
Em 2004, o banco Schahin emprestou R$ 12 milhões a Bumlai, que na
época era um dos maiores pecuaristas do país. Segundo o acionista do
grupo, Bumlai disse que o dinheiro era destinado ao PT.
Segundo os representantes do grupo Schahin, para provar que falava
sério, Bumlai marcou um encontro entre os executivos do banco e o então
tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que atualmente cumpre pena por sua
participação no esquema do mensalão.
Salim Schahin disse que o encontro ocorreu num escritório do grupo na rua Vergueiro, na zona sul de São Paulo.
Conforme os relatos obtidos pela Folha, o grupo
emprestou a Bumlai porque queria se aproximar do PT. O empréstimo foi
contratado com a pessoa física de Bumlai, que apresentou seu filho e sua
nora como avalistas da operação.
Os representantes do grupo Schahin disseram aos procuradores que o
valor do empréstimo era muito superior ao que costumavam liberar para
pessoas físicas, e que os recursos foram liberados em prazo menor do que
o usual.
Como a revista “IstoÉ” informou em fevereiro deste ano, o Banco
Central apontou várias irregularidades na operação em 2008. O controle
do banco Schahin foi transferido em 2011 para o BMG.
Segundo os representantes do grupo Schahin, Bumlai nunca pagou o
empréstimo, mas teve a dívida perdoada em 2009, dois anos depois do
contrato com a Petrobras.
PROPINA
A vinculação entre o empréstimo do Schahin a Bumlai e o contrato do
navio-sonda já tinha sido feita antes por outros delatores da Lava Jato,
incluindo o lobista Fernando Soares, o Baiano, e o ex-gerente da
Petrobras Eduardo Musa, que disse ter recebido da Schahin propina de US$
720 mil no exterior.
O grupo Schahin apresentou à Justiça pedido de recuperação judicial
em abril deste ano, para tentar reorganizar seus negócios e evitar a
falência. Em maio, a Petrobras cancelou vários contratos do Schahin, mas
o grupo conseguiu manter o contrato de operação do Vitória 10.000.
Os lobistas Júlio Camargo e Fernando Soares, o Baiano, que também
colaboram com as investigações da Lava Jato, disseram que os
fornecedores do Vitória 10.000 e de outro navio-sonda contratado na
mesma época pela Petrobras pagaram propina de US$ 5 milhões ao deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje presidente da Câmara dos Deputados. Cunha
nega a acusação.
OUTRO LADO
O advogado do empresário José Carlos Bumlai, Arnaldo Malheiros Filho,
negou que seu cliente tenha garantido apoio político do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva para firmar qualquer contrato favorecendo
empresas, inclusive o grupo Schahin. Também disse que Bumlai nunca
mencionou isso a terceiros.
“Se ele tivesse essa condição, toda essa liberdade com o
ex-presidente Lula, teria feito pedidos de apoio para evitar a falência
das empresas da sua própria família”, afirmou o criminalista à Folha.
Malheiros negou que o empréstimo de R$ 12 milhões concedido pelo
Banco Schahin a Bumlai em outubro de 2004 tenha sido direcionado aos
cofres do PT, como os representantes do grupo disseram aos procuradores
da Operação Lava Jato na semana passada.
“Não era para terceiros e nem para o PT, tanto que foi pago por Bumlai”, afirmou.
Questionado sobre a reunião que teria ocorrido entre executivos do
banco Schahin e o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para tratar do
empréstimo contratado por Bumlai, Malheiros, que também defende o
ex-tesoureiro, disse que ela não ocorreu.
Procurado pela reportagem, o Instituto Lula não se pronunciou sobre a
citação do ex-presidente no depoimento de Salim Schahin aos
procuradores. Por meio de sua assessoria de imprensa, o instituto
afirmou que “não comenta supostos documentos ou vazamentos dos quais não
tem conhecimento e nem a certeza de que existem”.
Os advogados da família Schahin, Guilherme San Juan e Rogério
Taffarello, disseram que não se pronunciarão à respeito de procedimentos
de colaboração premiada.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), nega
qualquer envolvimento com o esquema de corrupção descoberto na
Petrobras.
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