17/11/2015
No final da manhã de quinta-feira, 15 de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava bem-humorado. Por iniciativa própria, prestava um depoimento reservado ao Ministério Público Federal, em Brasília, para explicar sua atuação ao lado da empreiteira Odebrecht.
URGENTE
– CAIU A CASA LULA !!!! ÉPOCA obteve contratos assinados entre o
ex-presidente e a empresa. No papel, dinheiro para “palestras”. Na
prática, dinheiro para alavancar os negócios da empreiteira no exterior.
Em vez de ir ao prédio da instituição,
Lula foi ouvido em uma casa no Lago Sul, de forma discreta. Foi seu
único pedido ao procurador, para escapar ao assédio de jornalistas.
Ao
seu estilo sedutor, Lula fez piadas com o procurador da República Ivan
Cláudio Marx, ao dizer que o Corinthians, seu time, será campeão
brasileiro. Na hora de falar sério, disse que não fez lobby, mas sim palestras no exterior com a missão de explicar a receita brasileira de sucesso em países da África e da América Latina.
Procurou defender-se na investigação, revelada por ÉPOCA em maio, que apura se ele praticou tráfico de influência internacional em favor da empreiteira Odebrecht.
Lula disse que não é lobista, que recebeu “convites de muitas empresas e
países para ser consultor”, mas não aceitou porque “não nasceu para
isso”.
Num termo de declaração de quatro páginas obtido por ÉPOCA, ele
sustenta que todos os eventos para os quais foi contratado estão
contabilizados em sua empresa L.I.L.S. – um acrônimo de seu nome. Foi
por meio dela que Lula ficou milionário desde que deixou o Palácio do Planalto, em 2011.
ÉPOCA obteve cópia dos contratos privados, notas fiscais edescrições das relações entre
o ex-presidente e sua principal contratante. Nomeado projeto “Rumo ao
Caribe”, as viagens de Lula bancadas pela Odebrecht inauguraram um
padrão de relacionamento do ex-presidente, poucos meses após deixar o
Planalto, com a empreiteira-chave da Lava Jato. Ao longo dos últimos
quatro anos, a L.I.L.S. foi acionada para que Lula desse 47 palestras no exterior, muitas a convite de instituições. Sua maior cliente é, de longe, a Odebrecht.
A construtora que lidera a lista das patrocinadoras de Lula pagou quase R$ 4 milhões para o ex-presidente fazer dez palestras. Além disso, bancou os custos das viagens para países em que possui obras financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
como Angola e Venezuela.
Esses gastos de R$ 3 milhões, ao câmbio da
época, incluem transporte e hospedagem em hotéis “5 estrelas ou
superior”, com dormitório com cama king size, sofás, frutas, pães,
queijos, frios, castanhas, água, refrigerantes normais e do tipo “zero”
e, em alguns casos, fora do contrato, bebidas alcoólicas. As
contratantes eram responsáveis por fretar aeronaves particulares. Ter
Lula como palestrante custava caro. Mas, na maioria das vezes, valia
muito a pena.
O “Palestrante” Lula (grafado desse
jeito pela própria empresa em seus papéis internos) passou a ser
mobilizado para atuar em locais onde a Odebrecht enfrentava pepinos em
seus contratos. Em 1º de maio de 2011, Lula se comprometeu, por R$ 330 mil, a desembarcar na Venezuela
no início de junho para falar sobre os “Avanços alcançados até agora
pelo Brasil”. A descrição das atividades que constam da cláusula 1.1 do
contrato dizia que o “Palestrante” não participaria de qualquer outro
evento além daqueles descritos “exaustivamente” no anexo 1.
O tal anexo,
no entanto, possui duas linhas que mencionam apenas que o ex-presidente
ficaria hospedado no Hotel Marriott de Caracas. Quando superposto aos
documentos doInstituto Lula sobre o mesmo evento, vê-se que Lula se encontrou com o empresário Emílio Odebrecht, pai de Marcelo Odebrecht, hoje preso em Curitiba, e com o então presidente venezuelano, Hugo Chávez, morto em 2013. Era um momento de tensão entre o governo venezuelano e a empreiteira, que cobrava uma dívida de US$ 1,2 bilhão.
Telegramas sigilosos do Itamaraty
sugerem que Lula e Chávez trataram sobre a dívida. A Odebrecht
construía, desde 2009, a linha II do Metrô de Los Teques e a linha 5 do
Metrô de Caracas. Fruto de uma negociação entre Lula e Chávez, o projeto
foi irrigado com US$ 747 milhões (R$ 1,2 bilhão, em valores da época)
em empréstimos do BNDES. A pressão de Lula surtiu efeito.
Quatro dias
após a visita do ex-presidente a Caracas, Chávez se encontrou com a
presidente Dilma em Brasília. Naquele momento, a dívida com a Odebrecht
já estava acertada. As duas obras são investigadas pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União.
A principal suspeita, conforme revelou ÉPOCA em maio, é que os recursos
tenham sido utilizados de forma irregular e de maneira antecipada sem o
avanço do projeto – o dinheiro chegou, mas a obra não andou.
(VIA EPOCA E AGÊNCIAS)
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