O pedido de impeachment formulado por Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal foi entregue em 21 de outubro ao presidente da Câmara, que certamente leu o documento antes de dormir.
Por que demorou tanto para descobrir que os argumentos arrolados pelos dois juristas tinham solidez suficiente para justificar a abertura do processo? Por que deixou para fazer neste 2 de dezembro o que poderia ter feito há 40 dias? Porque o terceiro homem na linha de sucessão presidencial não tem tempo para pensar no Brasil castigado pela conjunção de crises ou em qualquer outra irrelevância semelhante. Eduardo Cunha só pensa em Eduardo Cunha.
O presidente da Câmara dos Deputados foi denunciado por corrupção, em 10 de agosto, pelo procurador-geral Rodrigo Janot. De lá para cá, nem mesmo em feriados e dias santos deixou de aparecer no noticiário político-policial. Para livrar-se da enrascada em que se meteu com a descoberta das contas na Suíça, virou exportador de carne enlatada (para países africanos), namorou a oposição, flertou com o PT e por pouco não voltou a amasiar-se com o governo. Por que Dilma demorou 100 dias para descobrir que Cunha fez o que não param de fazer seus bandidos de estimação? Porque só pensa em manter o emprego.
Nesta quarta-feira, Cunha fez a coisa certa porque deu errado o acordo que lhe garantiria o apoio do PT no Conselho de Ética. Melhor assim. Mas é preciso deixar claro que o Brasil decente não lhe deve nada. O que está em curso é uma ofensiva do país que presta que não terminará antes do despejo do fantasma que zanza pelo Planalto. É um confronto entre a nação com cérebro e uma nulidade desmoralizada pela corrupção e pela inépcia. Esse embate não pode ser reduzido a um duelo entre o filhote do baixíssimo clero e a mãe do Petrolão. O Brasil que há de brotar das cinzas do lulopetismo não tem lugar para nenhum dos dois.
O Congresso sempre acaba fazendo o que o povo quer, repetia Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara durante o processo de impeachment de Fernando Collor. Também desta vez assim será. Os cunhas e as dilmas não passam de figurantes destinados ao confinamento em asteriscos nas páginas escritas por milhões de indignados. Esses sim são os reais protagonistas da História ─ e desta história. Eles sabem que o fim da era da canalhice ─ e da mais aflitiva crise econômica imposta ao país desde 1930 ─ começa pela remoção do poste que Lula instalou no coração do poder.
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