Governo de Portugal privatiza a empresa e entrega o controle a David Neeleman
J. M.
Lisboa
11 JUN 2015 - 11:52 BRT
Um consórcio encabeçado pelo empresário brasileiro David Neeleman, dono da companhia aérea Azul, será o novo dono da portuguesa TAP,
a última empresa aérea europeia que ainda era 100% pública. O Governo
português privatizou 66% da empresa, mas não receberá dinheiro pela
venda. O compromisso do consórcio é assumir as dívidas, manter a sede da
TAP em Portugal e renovar sua frota.
Neeleman, paulistano de 55 anos, também tem nacionalidade norte-americana. Em 1999, criou a companhia low cost norte-americana JetBlue, da qual foi demitido em 2007, época em que fundou a brasileira Azul.
Por não ser cidadão da União Europeia, Neeleman não pode possuir mais de 49,9% da empresa, mas contornou essa restrição associando-se ao português Humberto Pedrosa, dono da empresa de ônibus Barraqueiro e 15º. indivíduo mais rico de Portugal.
O consórcio vencedor da concorrência promete incorporar 53 novos aviões à decrépita frota da TAP, reforçar as conexões com o Brasil e Estados Unidos e destinar 10% dos lucros aos seus mais de 13.000 funcionários.
O novo proprietário não poderá realizar demissões coletivas nos três primeiros anos e terá preferência para a compra dos 34% restantes do capital acionário, que deverá ser entregue pelo Governo nos próximos três anos.
No ano passado, a TAP teve prejuízo de 44 milhões de euros (154,7
milhões de reais), com uma dívida de 1,06 bilhão de euros (3,7 bilhões
de reais) e um capital passivo de 511 milhões (1,8 bilhão de reais).
A oferta de Neelman, segundo o que se sabia até agora, diferenciava-se muito pouco da outra finalista, a do colombiano Germán Efremovich, que há três anos esteve na iminência de assumir 100% da TAP. A falta de garantias complicou aquele processo de privatização.
Agora, Efremovich – proprietário da Avianca – oferecia 150 milhões de euros imediatos para capitalizar a empresa, além de 100 milhões na forma de 12 aviões já disponíveis para operar.
Ele também prometia a renovação da companhia Portugalia, que tem 38 aviões operando voos de curta distância. Seu plano estratégico passava por reforçar as operações de voos para a América do Sul e Estados Unidos, além de aproveitar o aeroporto de Beja como centro logístico do grupo. Também prometia distribuir 10% a 20% dos lucros para os funcionários.
A empresa Transportes Aéreos Portugueses (TAP) foi criada pelo Estado luso em 1945. Têm 13.268 funcionários, 500 a mais do que há ano, e uma frota de 77 aviões.
As regras da Comunidade Europeia proibiam a injeção de dinheiro público na empresa se ela não apresentasse um plano de reajuste de pessoal e eliminação de rotas.
Neste ano, a TAP já havia sofrido um golpe ao perder o monopólio dos voos para o arquipélago dos Açores, que desde março passaram a ser operados também por companhias low cost, reduzindo a fatia de mercado da estatal.
A privatização da TAP encerra quase 30 anos de tentativas nesse sentido. Em 1991, o então primeiro-ministro socialista António Guterres chegou a um acordo para vender 25% da empresa à extinta Swissair, mas o negócio não prosperou. Dez anos depois, houve uma nova tentativa de acordo com a companhia suíça, que acabou indo à falência. Os esforços para privatizar a TAP foram retomados na época do premiê José Sócrates e depois com Passos Coelho.
Agora, finalmente, o Governo português se desfez de 61% (mais 5% pertencentes aos funcionários), com o compromisso de entregar o restante em três anos.
A privatização sempre foi duramente contestada por sindicatos e movimentos sociais. No último ano, sucessivas greves contribuíram para o expressivo prejuízo operacional da empresa. Em maio, os pilotos realizaram 10 dias consecutivos de paralisação, sem obter nenhuma das suas reivindicações. Também na semana passada, um juiz expediu liminar suspendendo a privatização, mas o Governo alegou “interesse nacional”, e o processo foi retomado.
Neeleman, paulistano de 55 anos, também tem nacionalidade norte-americana. Em 1999, criou a companhia low cost norte-americana JetBlue, da qual foi demitido em 2007, época em que fundou a brasileira Azul.
Por não ser cidadão da União Europeia, Neeleman não pode possuir mais de 49,9% da empresa, mas contornou essa restrição associando-se ao português Humberto Pedrosa, dono da empresa de ônibus Barraqueiro e 15º. indivíduo mais rico de Portugal.
O consórcio vencedor da concorrência promete incorporar 53 novos aviões à decrépita frota da TAP, reforçar as conexões com o Brasil e Estados Unidos e destinar 10% dos lucros aos seus mais de 13.000 funcionários.
O novo proprietário não poderá realizar demissões coletivas nos três primeiros anos e terá preferência para a compra dos 34% restantes do capital acionário, que deverá ser entregue pelo Governo nos próximos três anos.
No ano passado, a TAP teve prejuízo de 44
milhões de euros, com uma dívida de 1,06 bilhão de euros e um capital
passivo de 511 milhões.
A oferta de Neelman, segundo o que se sabia até agora, diferenciava-se muito pouco da outra finalista, a do colombiano Germán Efremovich, que há três anos esteve na iminência de assumir 100% da TAP. A falta de garantias complicou aquele processo de privatização.
Agora, Efremovich – proprietário da Avianca – oferecia 150 milhões de euros imediatos para capitalizar a empresa, além de 100 milhões na forma de 12 aviões já disponíveis para operar.
Ele também prometia a renovação da companhia Portugalia, que tem 38 aviões operando voos de curta distância. Seu plano estratégico passava por reforçar as operações de voos para a América do Sul e Estados Unidos, além de aproveitar o aeroporto de Beja como centro logístico do grupo. Também prometia distribuir 10% a 20% dos lucros para os funcionários.
A empresa Transportes Aéreos Portugueses (TAP) foi criada pelo Estado luso em 1945. Têm 13.268 funcionários, 500 a mais do que há ano, e uma frota de 77 aviões.
As regras da Comunidade Europeia proibiam a injeção de dinheiro público na empresa se ela não apresentasse um plano de reajuste de pessoal e eliminação de rotas.
Neste ano, a TAP já havia sofrido um golpe ao perder o monopólio dos voos para o arquipélago dos Açores, que desde março passaram a ser operados também por companhias low cost, reduzindo a fatia de mercado da estatal.
A privatização da TAP encerra quase 30 anos de tentativas nesse sentido. Em 1991, o então primeiro-ministro socialista António Guterres chegou a um acordo para vender 25% da empresa à extinta Swissair, mas o negócio não prosperou. Dez anos depois, houve uma nova tentativa de acordo com a companhia suíça, que acabou indo à falência. Os esforços para privatizar a TAP foram retomados na época do premiê José Sócrates e depois com Passos Coelho.
Agora, finalmente, o Governo português se desfez de 61% (mais 5% pertencentes aos funcionários), com o compromisso de entregar o restante em três anos.
A privatização sempre foi duramente contestada por sindicatos e movimentos sociais. No último ano, sucessivas greves contribuíram para o expressivo prejuízo operacional da empresa. Em maio, os pilotos realizaram 10 dias consecutivos de paralisação, sem obter nenhuma das suas reivindicações. Também na semana passada, um juiz expediu liminar suspendendo a privatização, mas o Governo alegou “interesse nacional”, e o processo foi retomado.
David Neeleman, o brasileiro que comprou a TAP
Empresário é mórmon e tem nove filhos, mais do que companhias aéreas
David Neeleman coleciona companhias aéreas. Com 26 anos criou a primeira delas, a norte-americana Morris Air. Foi só o começo. Agora, com 59, conseguiu a TAP, a linha de bandeira de Portugal.
Embora tenha nascido em São Paulo, Neeleman estudou na Universidade de Utah, o único Estado confessional dos Estados Unidos. Em sua capital, Salt Lake City, fica a sede da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Para o comum dos mortais, a igreja dos mórmons. Neeleman é mórmon e tem nove filhos com sua –única– esposa, Vicki.
O novo proprietário da TAP só morou no Brasil até os 5 anos, quando se mudou para Utah, para onde o seu pai, jornalista da agência UPI, fora transferido. Ali continuou seus estudos até que aos 19 anos regressou ao país-natal em uma missão mórmon.
De volta a Utah, com 26 anos fundou sua primeira companhia aérea, a Morris Air, que logo foi comprada pela Southest Airlines por 130 milhões de dólares (392 milhões de reais). Sua empresa seguinte foi no Canadá, a WestJet, que continua em operação. Era o início da Internet, mas Neeleman, que tem déficit de atenção, ou seja, é hiperativo, viu a possibilidade de vender passagens pela web. Criou a OpenSkies e pouco depois a vendeu à HP por 20 milhões de dólares.
Mas o reconhecimento do setor chegou quando criou em 2000 a norte-americana JetBlue, pois revolucionou o mercado das passagens de baixo custo, e o salário também baixo de seu pessoal. Tinha 39 anos. Oito anos depois seria substituído em sua própria empresa, apesar dos lucros que obteve em um setor sempre em crise.
A religião, diz, tem sido fundamental em sua carreira profissional, que se baseia na proximidade com o cliente. Um dos costumes quando voa é pegar o microfone do avião e se apresentar aos passageiros. “Bem-vindos à minha empresa. Se querem dizer-me algo, estou à sua disposição”, anuncia. E o que ele exige para si, exige também para todos os empregados. Seu objetivo empresarial é oferecer bilhetes baratos, aviões novos e entretenimento grátis nas poltronas – por ora, parece que a fórmula lhe garante o sucesso.
Em 2008, um ano depois de ser despedido de sua própria empresa – ainda mantém dois milhões de ações da JetBlue– criou a Azul, no Brasil. No ano passado a empresa faturou mais de 3 bilhões de euros (10,5 bilhões de reais) e se transformou na terceira companhia aérea brasileira.
A TAP é mais um item em seu currículo, que lhe vai servir para completar rotas estratégicas entre a América e a África, passando pela Europa. Ao se apoderar da companhia portuguesa, consegue também no Brasil um centro de manutenção de equipamentos que, se com a TAP era uma fonte de perdas milionárias, com as sinergias da Azul se transformará em um ativo muito valioso.
Neeleman adquiriu a TAP graças ao consórcio Getaway, formado pelo dono da empresa portuguesa de ônibus Barraqueiro e fundos de investimento norte-americanos. Seu novo investimento não vai ser um caminho de rosas. Para muitos portugueses, a TAP faz parte de seu escudo nacional, é um de seus emblemas, um laço de união entre a lusofonia dispersa, de Angola a Macau.
O Partido Socialista, favorito para vencer as eleições de outubro, anunciou que revogará a venda, mas o Estado não pode injetar mais dinheiro nessa empresa pública que ultimamente aparecia no noticiário mais por suas greves e avarias do que pelos milhões de viajantes que transportava. No momento, Neeleman é proprietário de uma empresa com mais de um bilhão de dólares em dívida.
Embora tenha nascido em São Paulo, Neeleman estudou na Universidade de Utah, o único Estado confessional dos Estados Unidos. Em sua capital, Salt Lake City, fica a sede da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Para o comum dos mortais, a igreja dos mórmons. Neeleman é mórmon e tem nove filhos com sua –única– esposa, Vicki.
O novo proprietário da TAP só morou no Brasil até os 5 anos, quando se mudou para Utah, para onde o seu pai, jornalista da agência UPI, fora transferido. Ali continuou seus estudos até que aos 19 anos regressou ao país-natal em uma missão mórmon.
De volta a Utah, com 26 anos fundou sua primeira companhia aérea, a Morris Air, que logo foi comprada pela Southest Airlines por 130 milhões de dólares (392 milhões de reais). Sua empresa seguinte foi no Canadá, a WestJet, que continua em operação. Era o início da Internet, mas Neeleman, que tem déficit de atenção, ou seja, é hiperativo, viu a possibilidade de vender passagens pela web. Criou a OpenSkies e pouco depois a vendeu à HP por 20 milhões de dólares.
Mas o reconhecimento do setor chegou quando criou em 2000 a norte-americana JetBlue, pois revolucionou o mercado das passagens de baixo custo, e o salário também baixo de seu pessoal. Tinha 39 anos. Oito anos depois seria substituído em sua própria empresa, apesar dos lucros que obteve em um setor sempre em crise.
A religião, diz, tem sido fundamental em sua carreira profissional, que se baseia na proximidade com o cliente. Um dos costumes quando voa é pegar o microfone do avião e se apresentar aos passageiros. “Bem-vindos à minha empresa. Se querem dizer-me algo, estou à sua disposição”, anuncia. E o que ele exige para si, exige também para todos os empregados. Seu objetivo empresarial é oferecer bilhetes baratos, aviões novos e entretenimento grátis nas poltronas – por ora, parece que a fórmula lhe garante o sucesso.
Em 2008, um ano depois de ser despedido de sua própria empresa – ainda mantém dois milhões de ações da JetBlue– criou a Azul, no Brasil. No ano passado a empresa faturou mais de 3 bilhões de euros (10,5 bilhões de reais) e se transformou na terceira companhia aérea brasileira.
A TAP é mais um item em seu currículo, que lhe vai servir para completar rotas estratégicas entre a América e a África, passando pela Europa. Ao se apoderar da companhia portuguesa, consegue também no Brasil um centro de manutenção de equipamentos que, se com a TAP era uma fonte de perdas milionárias, com as sinergias da Azul se transformará em um ativo muito valioso.
Neeleman adquiriu a TAP graças ao consórcio Getaway, formado pelo dono da empresa portuguesa de ônibus Barraqueiro e fundos de investimento norte-americanos. Seu novo investimento não vai ser um caminho de rosas. Para muitos portugueses, a TAP faz parte de seu escudo nacional, é um de seus emblemas, um laço de união entre a lusofonia dispersa, de Angola a Macau.
O Partido Socialista, favorito para vencer as eleições de outubro, anunciou que revogará a venda, mas o Estado não pode injetar mais dinheiro nessa empresa pública que ultimamente aparecia no noticiário mais por suas greves e avarias do que pelos milhões de viajantes que transportava. No momento, Neeleman é proprietário de uma empresa com mais de um bilhão de dólares em dívida.
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