quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Atitudes diante de tragédias




Vivemos na era das tragédias, num mundo com uma sucessão de desastres: num dia ocorre um ataque terrorista, noutro dia é um desastre ambiental. Há incertezas e imprevisibilidade crescentes, fatos inesperados que perturbam as rotinas, mudanças aceleradas.
 
São variadas as reações diante do anúncio de tragédias. Diante de cenários catastróficos as atitudes variam da paralisia à ação consciente; da histeria à omissão e ao cinismo; da rendição, resignação e aceitação, à raiva e indignação por ser vitima de tal destino; da adaptação que busca a sobrevivência, à compaixão diante dos diretamente afetados pelo sofrimento decorrente das catástrofes. 
 
Desenvolver a atitude correta pode significar a diferença entre a sobrevivência e a morte.
Tradições espirituais pregam a oração e as virtudes humanas que ajudem a reduzir a dor. Quem se sente impotente para atuar diante de cenários catastróficos recolhe-se, apela para Deus e a ele entrega seu destino. 
 
A esperança da salvação diante do apocalipse faz transcender, ao crer que os puros, os bons, os justos se salvarão. 
 
Em seu samba E o mundo não se acabou, (  https://www.youtube.com/watch?v=abVNWgeonOY ) assim se expressa Assis Valente: “Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar Por causa disso, minha gente lá de casa, começou a rezar...”
 
Outra reação é a de curtir o aqui e agora, como também canta o sambista: “E sem demora fui tratando de aproveitar/Beijei a boca de quem não devia/ Peguei na mão de quem não conhecia/ Dancei um samba em traje de maiô”. Nessa linha da atitude do Carpe Diem, desfrutar do momento presente, conta uma história oriental que um homem caiu num precipício e agarrou-se num cipó. 
 
 
Embaixo, um leão esfomeado o aguardava; acima, um ratinho roia o cipó. Ao lado, na rocha, havia uma parreira com uvas maduras. Ele soltou uma das mãos, colheu uma uva, provou-a e exclamou: “Que delícia! ” 
 
Por outro lado, a perspectiva de uma catástrofe pode provocar pânico, desespero, ansiedade e depressão, bem como reações emocionais de negação. 
 
Ao aterrorizar as pessoas, as previsões de catástrofes paralisam reações, produzem sensação de impotência, de não ter o que fazer, de medo do futuro. Um rato fica hipnotizado diante da cobra que se prepara devorá-lo. Alertas de catástrofes climáticas e ambientais podem causar reação paralisante. Romper tal paralisia cria condições para agir.
Para além da reação emocional, a iminência da catástrofe é vista como desafio a ser vencido, cria motivação para luta, para desenvolver a astúcia, a inteligência, a resistência. 
 
 
Com calma, vem a aceitação da situação e a consciência da necessidade da adaptação, o desenvolvimento de estratégias de sobrevivência que exigem encarar a situação com coragem e agir racionalmente. Esse tipo de reação pragmática mobiliza ações, seja a de buscar a salvação individual ou coletiva, na esperança se proteger e escapar da catástrofe, seja a de prevenir, criar sistemas de alerta para, se possível, evitar que o desastre aconteça. Definem-se metas, traduzidas em ações que garantam o seu cumprimento. 
 
 
A percepção da iminência da catástrofe mobiliza a ação e desperta a consciência, especialmente de grupos mais esclarecidos. No caso das mudanças climáticas, isso vem ocorrendo com os alertas dos cientistas e a pressão crescente sobre as lideranças políticas. Eles denunciam o déficit de consciência ecológica dos governantes, a ganância e o egoísmo.
Reconhecer os perigos à frente e acender luzes amarelas de alerta e de emergência é um primeiro passo para lidar com as tragédias anunciadas. Assim, por exemplo, cientistas convencidos dos riscos que representam eventuais colisões com outros corpos celestes montam sistemas de previsão e de prevenção.
 
 
As catástrofes são pedagógicas e ensinam, porém, à custa de sofrimento e dor.  As mega catástrofes e desastres produzem miséria material, sendo muito difícil se emergir delas e reconstruir as vidas afetadas. 
 
 
Diante do desastre ocorrido, surgem atitudes de compaixão, ajuda e cooperação entre vizinhos atingidos, como ocorreu em enchentes em Santa Catarina e em desastres como o de Mariana-MG em 2015. O supertufão Hayin que atingiu as Filipinas em novembro de 2013 e matou 10.000 pessoas e deixou mais de 600 mil desabrigadas, sensibilizou os delegados à COP 19 que se realizava em Varsóvia, para debater as questões climáticas. 
 
A compaixão para com os vulneráveis é um sentimento que mobiliza ações, como por exemplo as dos médicos sem fronteiras, que atuam em situações extremas de carência. Por outro lado, a insensibilidade tende a deixar os mais vulneráveis entregues à sua própria sorte.
 
Por outro lado, surgem episódios de saques por parte de predadores oportunistas.
Conhecer as reações humanas antes, durante e depois de catástrofes é valioso num mundo em que estamos expostos cotidianamente a situações trágicas.
 
Algumas previsões anunciam tragédias grandiosas, globais, planetárias, com o colapso das civilizações que poderia ocorrer devido às mudanças climáticas e à extinção da biodiversidade. Filmes como A era da estupidez ou O dia depois de amanhã, dão forma a esses cenários. 
 
Alguns colocam em dúvida se é verdadeiro o diagnóstico da iminência da catástrofe, tal como os céticos em relação a mudanças climáticas ou aqueles que negam a responsabilidade humana por tais mudanças. Nessa linha, continua Assis Valente em seu samba: “Acreditei nessa conversa mole/Pensei que o mundo ia se acabar/E fui tratando de me despedir...” E constata, em tom de frustração, que tudo não passava de alarme falso: “E o tal do mundo não se acabou. ”
 
 
Um problema de dimensões colossais não pode ser enfrentado apenas por meio da ação individual ou de pequenos grupos. Num Titanic que afunda ou num avião em queda, o passageiro tem pouco a fazer para evitar o desastre; ações preventivas deveriam ter sido tomadas anteriormente. 
 
Na iminência de um colapso climático a união planetária é forma de fortalecimento mútuo. Iniciativas de superação de conceitos nacionais de soberania e de construções de federações supranacionais apontam nessa direção. 
 
 
Por meio delas desenvolve-se a cooperação e a solidariedade, superam-se divergências menores em prol da sobrevivência, numa ação convergente em que cada um faça a sua parte.  Como construir tal convergência num contexto de interesses conflitantes é um desafio penoso de ser superado, como mostram as difíceis negociações relacionadas com as mudanças climáticas.
 
Ações preventivas tomadas a tempo podem evitar a ocorrência da tragédia anunciada. A mudança de atitudes pode criar outro futuro possível.
 
 
(*) Autor de Ecologizar e de Tesouros da Índia para a civilização sustentável. WWW.ecologizar.com.br                  ecologizar@gmail.com

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